O que Andei Assistindo - Pecadores, Premonição 6, Thunderbolts e Karatê Kid: Lendas.

Olha quem voltou! O blog acabou? Abandonei a escrita? Não, só está difícil. Trabalho, relações, vida, algumas questões pessoais e desânimo/falta de retorno se tornaram impeditivos ou prioritários em minha vida. Não abandonei o cinema, a análise nem nada. Nem penso que irei. Faz parte de meu refúgio e minha vida. Mas ando focando mais no TikTok. Mais superficial. Frustrante. Porém, com retorno maior, logo, mais dopamina e gratificação - bastante hate também.

Mas aqui retorno, neste blog que está quase completando uma década, numa linha de postagem que talvez faça mais sentido nos tempos modernos, e com certeza se adequa mais em minha vida no momento. 

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Thunderbolts 

Faz bem pra Marvel essa timidez da megalomania em meio ao caos e confusão da fase 5. Um filme que não precise se sustentar nem fazer referências infinitas a multiverso, outras tramas e heróis, muito maiores que os personagens em si. 

Tantos projetos e figuras foram ofuscados pela necessidade de um envolvimento maior. Aos Thunderbolts, não faria sentido isto, visto os poderes e histórias do grupo. Reconhecer sua limitação, como heróis e pessoas, é o trunfo do filme, sem uma ação tão inspirada, mas com química tão boa que torna as interações o grande combustível que nos leva pela narrativa. 

Claro que ainda é a Marvel e seus esquemas. O argumento mental não é explorado devidamente e o 3 ato, especialmente, busca algo mais convencional em meio ao que já fora estabelecido ali. Mas ainda assim, deixa uma boa impressão de personagens e tom. 

O que já é mais do que se pode ser dito pelos últimos tantos filmes e séries do estúdio, quais se extrai muito pouco.

Karatê Kid: Lendas

Vai ver tinha um filme bacana por trás da montagem ou então em algum argumento prévio ao roteiro. Não é tão difícil fazer um filme bacana com essa plot de karatê kid. No máximo dar um tempo entre eles para a gente esquecer tudo, sentir saudade e escolher bons atores pro mestre e pro aluno com cenas legais de luta. 

Mas não conseguiram. Parece um filme feito pro TikTok. Para a geração TikTok. Lembro que fiquei surpreso com a duração. Achei que fosse algo positivo, sem enrolação. Mas acaba sendo somente vazio de substância e consistência. Tanto se fala em ser água, como no kung fu, mas a analogia acaba mais certeira na liquidez das relações do Bauman. Tudo é corrido, superficial e picotado. 

Mesmo ao ver rostos conhecidos, tu não sente alegria ou simpatia. A “escola rival” é um arremedo maniqueísta saído de um filme B antigo. Chega a dar pena. Tu mal simpatiza com o protagonista, quanto mais o antagonista. O original trabalhou melhor a questão do mestre opressivo e cobra kai desenvolveu toda essa ideia de desconstrução à vilania. Aí o filme novo somente reforça, até piora, essa ideia simplória. 

Até mesmo o remake de 2010 trazia um drama mais conexo. A imigração como um obstáculo. Toda a luta de adaptação do personagem do Jaden. Claro que aqui temos uma era mais globalizada e tals, mas o garoto já chega falando em inglês, fazendo amigo e o “bullying” é só por rivalidade romântica. A plot do pai da menina também pouco se desenvolve e serve mais como um amontoado nas desculpas pra ele lutar. O flashback do irmão é tão jogado que, novamente, falha em estabelecer sentimento. Tudo está lá, mas completamente raso. Feito com preguiça e desdém. 

Culminando na expressão das lutas. Nem falarei de coreografia ou angulo de filmagem. Entre as piores da saga. Mas a linguagem visual que tenta gamificar os embates como numa espécie de Kings League das artes marciais. Tu nem consegue sentir aflição e empolgação, pois falta continuidade, ligação humana e criatividade. O golpe final, num slow artificial, vem sem catarse, somente monotonia. Sensação auxiliada pela trilha, que parece formada por ruídos tecnológicos sem direitos autorais, completamente inférteis.  

Um filme feito para se ver mexendo no celular e em segundo plano, que nem os originais Netflix. Onde tu olha e já entende quem é quem é aonde querem chegar, sem precisar mergulhar em desenvolvimento de personagem. Os rostos conhecidos são praquela nostalgia sem-vergonha  e dispensar mais aprofundamento, já que nem sentido fazem dentro da trama. Poderia ser qualquer outro rosto ali, em sentido narrativo. Assim como a história que conecta o original com o de 2010. Tudo bastante forçado. 

Cinema TikTok barato.

Premonição 6: Laços de Sangue

Acho que a plot de Premonição, por mais criativa que seja, abre muitas possibilidades dentro de um conceito fechado. As mortes em si são o segredo e o fetiche do filme. Mas dentro disto, aonde pode o núcleo humano orbitar que não circular e fugir da morte? 

Laços de sangue busca trazer mais familiaridade e um esqueleto novo disso. Somente substituindo aleatório em um acidente por uma família. Interessante fechar mais o arco. Mas não se aproveita muito o potencial do trauma. Morre gente e se sente muito pouco. Entendo que não se busca o drama em um filme assim, mas para que apresentá-lo então? Enfim…

Acho que o personagem principal de vez é a morte. Sem corpo nem aquele efeito invisível do primeiro longa, mas sempre à espreita. Uma presença onipresente. O filme aceita o absurdo de sua condição, o desnuda e bate de frente. Até mesmo com humor e conformado, até orgulhoso, em esbanjar mesmo na gravura das mortes. Insanas, brutais e exageradas. Sempre adeptas a criar novos traumas. Umas duas ou três aqui entram no ranking geral da franquia. 

Abre também um leque enorme de sequências. Mas a que caminho ir? Talvez seja melhor ir com calma mesmo, deixar sentir saudade do que saturar, como fizeram na primeira leva de filmes.

Pecadores

Daqueles filmes que nos lembram o que é o cinema de verdade. Nos tira do torpor e da anestesia que consome na monotonia da rotina, ou do cinema contemporâneo blockbuster em seu modus operandi, de mesmice, falta de criatividade e ousadia, até mesmo nas boas intenções.

É fascinante que mesmo destituído de suas camadas mais complexas, é um exercício de gênero surpreendente, magnético e conduzido com maestria pelos dois Michael B. Jordan. Acariciado com conhecimentos prévios, discursos e metáforas, se torna um deleite sinestésico, intelectual e catártico. Tudo isso filmado com elegância e uma disciplina mestra de quem está em pleno domínio de seus poderes. 

De vez em quando, mesmo num conto não exatamente feliz, precisamos ser recordados do melhor do que o mundo tem. Que estar vivo proporciona. Pecadores faz isso. E mais ainda, deixando lições e discussões, não somente um passatempo vazio. A melhor maneira de trazer um debate à superfície. Com elegância e inteligência. 

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E é isso. Bons filmes. No vemos em breve.

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