Crítica - Fatal Frame(2014)

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Fatal Frame/ Gekijô-ban: Zero, dirigido por Mari Asato.

Eu sou um defensor da distinção entre adaptações cinematográficas e seus materiais originais, sejam esses literários ou games, como é o caso deste Fatal Frame. Porém, algo que não tolero de forma alguma é uma descaracterização de seu universo e essência, e infelizmente, é isso que o filme de Fatal Frame faz. Ainda que seja adaptado do livro "Fatal Frame: Uma Maldição que Só Afeta Garotas" de Eiji Ōtsuka, servindo como um prequel para a cultuada saga de jogos, a história pouco empolga, servindo mais como um desserviço à mitologia da série.

Em uma escola interna para garotas, várias estudantes começam a ser encontradas mortas após terem contato com a fotografia de Aya, uma das residentes do local, mas que encontrava-se trancada em seu quarto há 30 dias(!). Cabe então a Michi, uma das poucas não afetadas, solucionar o mistério. 

Ainda que o design de produção ofereça uma ambientação ideal para o gênero, com a enorme mansão decadente e sombria, com seus vários quartos e a fraca iluminação, o patio gigantesco e a funesta e sinistra floresta que cerca o local, o diretor e equipe não souberam utilizar desses artifícios em prol da película, pois ela passa longe de ser um terror e também não convence como suspense. O cenários são simplesmente desperdiçados. As poucas cenas na floresta se passam durante o dia(algo que não consigo conceber a razão, a não ser diminuir a censura) e as da mansão são previsíveis, não oferecendo perigo ou inquietação. A impressão que temos é que os envolvidos na adaptação não possuem conhecimento algum de como conduzir algo do gênero, apesar da diretora ter sido responsável pelo mais recente "Ju-On/O Grito". É admirável não terem apelado para sustos fáceis e óbvios como meio de empolgar o público, só que não há a criação de uma atmosfera macabra também é fala, o que acaba por tornar grande parte da longa duração do filme(100 minutos) arrastada e entediante.

O trabalho de Mari Asato é protocolar e pragmático ao extremo. Não sei se é por falta de talento, ou simplesmente preguiça, mas não há uma tomada ousada ou nem ao menos o bom uso de clichês, como esconder aparições surpresas, mover a câmera lentamente para então revelar algo, filmagem tremida para gerar tensão e desespero. Nem ao menos as manjadas cenas de lanterna no breu completo. Nada. É um trabalho tristemente burocrático. Como a cineasta parece evitar criatividade ao extremo, com as aparições de fantasmas, que deveriam ser o grande centro nervoso e climático da obra, tornam-se monótonas e em certo momento, propiciam um humor involuntário, já que temos tempo de sobra para apreciar a tenebrosa maquiagem artificial que deveria servir como palidez espectral. 
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Ayami Nakajô e Aoi Morikawa conseguem se salvar no meio desta atrocidade.

Mas também não seria justo delegar toda a culpa deste retumbante fracasso à diretora. O roteiro é tão terrível quanto. O nome do(a) roteirista? Mari Asato, a própria diretora. Certamente sem inspiração nenhuma no processo de filmagens, Asato, além da ineficiência de produzir suspense em quase duas horas de projeção, entrega um final preguiçoso e anticlimático, com uma plot twist tão vergonhosa e inexplicável que faria o Shyamalan atual parecer Paul Schrader. Ela ainda é incapaz de gerar profundida em qualquer personagem, tornando o destino da maioria indiferente para conosco. O desastre só não é maior devido o carisma da dupla de meninas protagonista: Aya e Michi, interpretadas respectivamente por Ayami Nakajô Aoi Morikawa, que exibem uma boa química e conseguem a façanha de dar dimensionalidade às personagens, uma conquista devido todas as probabilidades adversas.

Com um encerramento em aberto, mesmo após essa experiência traumatizante, fica a esperança de que futuramente, tenhamos filmes que adaptem os jogos, esses sim obras-primas de sua plataformas. Mas caso haja, com profissionais capazes, por favor.

Nota 3/10.

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