Crítica: Esquadrão Suicida (2016).
Esquadrão Suicida/ Suicide Squad, dirigido por David Ayer. |
Quando as críticas de Esquadrão Suicida começaram a sair, um amontado de fãs da DC, revoltados com a baixa taxa de aprovação do longa no Rotten Tomatoes, endereço virtual que cataloga textos de veículos voltados ao audiovisual ,criou uma petição para fechar a página. Essa ação pressupõe que o site e críticos envolvidos tenham alguma rixa pessoal de boicote ao universo cinematográfico da editora. Mas o que estes fanáticos se mostram incapazes de notar, é a fragilidade das obras. E se Batman x Superman ainda permitia o privilégio de justificar alguns defensores, Suicide Squad simplesmente não abre tal possibilidade, pois seu conjunto é um intrincado inacreditável do que mais pode haver de errado com um filme.
Por mais que as alterações no logo do título já indicavam uma atmosfera jovial e irreverente, o que vemos é uma película confusa, trôpega e que conduz seus mais de 120 minutos sem jamais definir um tom, ao mesmo tempo em que subestima o espectador com situações clichês, forçadas e potencialmente constrangedoras.
Sob a alegação de que um suposto próximo Superman dificilmente terá os mesmos moralismos de Clark Kent, Amanda Waller (Viola Davis) persuade o governo a criar uma equipe formada por vilões encarcerados, usando de chantagens para induzi-los de acordo com seus desejos próprios, e também ter bodes expiatórios caso algo dê errado. Com este conceito interessante, elenco competente e o fascínio que antagonistas atraem, seria fácil gerar empatia e prender o público com a causa dos malvadões. Entretanto, o diretor-roteirista David Ayer se esforça com afinco para tornar a experiência o mais insuportável possível.
Ao menos o cineasta busca avisar imediatamente o que estamos para assistir, pois a introdução não perde tempo em demonstrar suas escolhas equivocadas, ao expor os personagens de maneira desigual, com um tremendo foco em Arlequina (Margot Robbie) e Pistoleiro (o sempre protagonista Will Smith). O restante do grupo recebe apresentações aceleradas, vagas e preguiçosas, deixando bem clara sua descartabilidade, que é rapidamente confirmada em uma cena que também visa denotar a autoridade de Amanda, como se tivesse todos sob controle.
E é difícil levar a sério o absurdo plano de engendrar um grupo com criminosos excepcionais quando a responsável pela sua elaboração não enxerga o óbvio fracasso que é deixar livre a meta-humana descrita como "a mais forte já vista", a feiticeira de Cara Delevingne, que assim assume a posição de vilã (dos vilões) e serve de pressuposto para a formação do Esquadrão Suicida.
Com a junção da turma sendo propiciada por esta miríade de conveniências, não é surpreendente que sua continuidade seja fiel e recheada de passagens genéricas e falhas, a começar pelo time em si. É curioso que estejamos indo ao cinema para conferir a história de um esquadrão, quando este parece mais uma dupla e seus coadjuvantes. Will Smith demonstra o carisma habitual como o falastrão pistoleiro, e suas faces esnobes, aliados ao físico imponente, o transformam no típico líder nato super confiante e sempre dotado de razão. O astro se sobressai e manifesta boa química com o restante do elenco, o que não camufla a superficialidade e caretice com que as figuras são exibidas.
Margot Robbie sofre um problema parecido com sua Jane, em Tarzan: a atriz se esforça e seu talento é inegável. Porém, novamente é sabotada pelo texto, insistente em a retratar de maneira machista e sexualizada. Arlequina possui um caráter forte e notório, mas é absolutamente submissa ao Coringa, a ponto de usar uma espécia de coleira, e se em certa cena há a esperança de um desprendimento, ao jogar o objeto para longe, logo a vemos abrir um largo sorriso quando se depara com seu amado. Não obstante, a câmera parece grudada em seu short justíssimo e rebolado sinuoso. O andar desfilado de Harley ganha tanta atenção quanto as expressões de Margot, uma banalidade ainda mais gritante pelas pesadas camadas de roupas dos homens.
Ao menos Robbie ganha alguma atenção, coisa que seus companheiros são privados. Ayer demonstra um desleixo ímpar para incluir algum background em El Diablo, Bumerangue e Crocodilo, recorrendo ao melodrama e revelações expositivas, como se quisesse livrar-se destes o mais rapidamente possível. E pior, o faz sem organização alguma, jogando flashbacks desnecessários e anticlimáticos no ápice da ação. Há um momento especialmente surreal de tão hilário, quando a Katana de Karen Fukuhara se prepara para a ação enquanto chora e mantém um diálogo sensível com sua arma. Uma cena que deveria ser comovente, mas é explanada de maneira rasa, o que corrompe qualquer sentimento.
E mesmo com todas essas observações negativas, nada se compara ao Coringa de Jared Leto. O ator gerou um frenesi pelo comportamento em set. A cada semana era uma nova notícia de suas estripulias. Se tanto hype dificilmente seria sanado em circunstâncias normais, o que se vê é um trabalho tenebroso, digno de ser lembrado entre os piores do século. A essência anárquica do palhaço do crime dá lugar a um sujeito que parece ter saído de bailes funks caricatos da nova geração, de visual tal qual um mimado que tenta forçar sua personalidade com tatuagens, pinturas e dentes metálicos. A composição de Leto não auxilia em nada, mesclando uma emulação pífia da encenação de Ledger com outros trejeitos histriônicos. É um mistério como a DC dará sequência no personagem da forma que foi construído aqui para o resto da franquia.
Totalmente perdido em seu primeiro projeto de larga escala, Ayer se mostra imaturo na ação, sem criatividade ou brutalidade (e alguns obstáculos dos protagonistas parecem saídos de Power Rangers) e ainda conta com a pavorosa montagem de John Gilroy, tão sutil quanto a demolição de um prédio.
Um crítico jamais assiste um longa com o intuito de desgostá-lo, seja nos cinemas ou em uma tela de TV. Entretanto, a parceria DC/Warner precisa urgentemente rever seus conceitos e os sujeitos encarregados do DCEU, caso contrário, sua rival, Marvel, seguirá em larga vantagem, o que seria ruim não apenas para o fandom, como para o cinema.
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