Crítica - Far From Men(2015).
Loin des Hommes(Longe dos Homens), dirigido por David Oelhoffen. |
É difícil definir um gênero para "Far From Men", talvez um drama western, e mais difícil ainda é discernir todas as questões levantadas pelo longa, mas uma coisa é certa: é uma obra-prima, minuciosamente orquestrada por David Oelhoffen e sua equipe, com atuações brilhantes do multi-talentoso e poliglota Viggo Mortensen e do desconhecido Reda Kateb.
Usando como base o início das revoluções pela independência da Argélia, em 1954, o longa mostra a Jornada dos personagens de Viggo(Daru) e Kateb(Mohamed) rumo ao julgamento do 2º, que a despeito da relutância de Daru, se mostra decidido a aceitar seu destino, pelo bem de sua família.
Porém, por mais importante que seja a época retratada pelo filme, serve apenas como pano de fundo para outras questões. David discute sobre dilemas morais o tempo todo, brincando com a integridade dos personagens. Kateb é quem está indo a julgamento, praticamente sentenciado a morte, entretanto, seu personagem é sempre mostrado como alguém calmo, parecendo até covarde, como acusado por Viggo. Este, em contraste a Mohamed e sua própria profissão de educador, se mostra muito mais irritadiço e propenso a violência. E mais irônico que isso é como a morte é retratada; o personagem de Kateb deve ser sentenciado a morte por ter causado outra morte, e durante a jornada, outras acabam por vir, tanto na rebelião, quanto por Daru, que em um momento marcante de Mortensen, se mostra indignado com o que causou, e por que não com essa inata propensão humana a agressividade e desconfiança.
Apesar de todas suas diferenças, os dois acabam criando uma séria afeição pelo outro, seja ajudando-se, ou pela relutância que Daru mostra em deixar o outro, apesar de reiterar o desejo de o abandonar várias vezes, parecendo tentar convencer a si mesmo muito mais do que o amigo. A amizade entre duas pessoas de diferentes culturas, retratada numa época de guerra por independência, serve como uma metáfora que é tão clichê quanto real e necessária, de que a existência; o ato de ser humano, deveria se sobrepor a conflitos por poder e território.
As locações desérticas da Argélia também não são apenas paisagem, sendo muito utilizadas para mostrar o isolamento, solidão e fragilidade dos personagens, e aí entra outro aspecto importantíssimo da obra, a maravilhosa trilha sonora de Nick Cave, contribuindo em cada nota para os sentimentos do longa, que se usa muito do silêncio, fotografia e olhares para conversar com o público.
Acho que poucas pessoas verão esse filme, pouquíssimas gostarão e menos ainda irão ler esse meu texto sobre, o que me deixa muito triste, mas para quem o fez, espero que tenha apreciado tanto quanto eu esses 100 minutos em frente a tela.
Nota: 8.
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