Sword Art Online: Ordinal Scale (2017) - Crítica
Culminando, logo, em seu primeiro longa metragem lançado na tela grande, "Sword Art Online: Ordinal Scale", que, com um material original, obviamente para não interferir na linha narrativa principal, cuja deverá seguir em sua terceira temporada em breve, busca expandir nosso contato com o universo SAO, trazer novo público, através de uma trama compreensível sem um maior pré-entendimento da história, assim como retratar o avanço tecnológico do Japão, agora em 2026, substituindo a imersiva realidade virtual que vimos em SAO e ALO para uma realidade aumentada, onde, através de um dispositivo focal, os jogadores enxergam os monstros no mundo real, como se víssemos, por exemplo, as criaturas de Pokémon Go em nossa frente não pela tela do celular, mas fisicamente.
Infelizmente, o que não avança, em termos de maturidade, conteúdo e texto, é a própria obra. Kawahara Reki achou a essência que agrada aos fãs e, mesmo com os furos e abordagens questionáveis, por imposição editorial ou conforto pessoal, estagnou a trama para a levar, o maior tempo possível, sem alterações, um esquema que vemos em longevas séries de sucesso, como Dragon Ball, Pokémon e até Shingeki. Curiosamente, até mesmo Naruto apresenta maior crescimento interno juntamente ao cronológico.
Com isto, assim que nos é apresentado uma nova dimensão de jogos, que permitem batalhas no mundo real e, logo, se apoiam nas condições físicas dos participantes, mesmo que o protagonista inicialmente seja receoso em adentrar uma nova plataforma, é apenas óbvio que fará, sendo apenas questão de tempo, paciência e a circunstância certa. Fica claro, também, que algo dará errado, pois SAO, sem a urgência tátil, perderia qualquer valor. SAO não permitia revives, ALF colocava a saúde Asuna em jogo, assim como GG o fazia com Shino, enquanto Mother's Rosario fez um sensível conto sobre um adeus real.
Portanto, Ordinal Scale já começa com o maior problema não apenas de SAO em si, mas de seus companheiros de gênero: a previsibilidade. E o que encantava e impressionava, mesmo que não inédito, no primeiro e famigerado arco da Aincrad, é reciclado com atenuantes e alterações tímidas. SAO é a eterna fórmula de si mesmo, o que consequentemente o levará à ruína, pois o público que cresce e se enfastia sempre será maior que o número de novos iniciados.
Claro que para quem ainda abraça o espírito de SAO, o filme é tudo que poderia se esperar. Duas horas de fanservice. Dentre as quais, não me entenda como ranzinza, há sim elementos de destaque. O mais óbvio seria avaliar as batalhas, que são muitas, e menos na animação, mais na sua construção, deslumbrantes. Enquanto que na série muitas vezes as lutas em meio ao anime ofuscavam a final, aqui temos uma evolução gradual do nível dos vilões, assim como de Kirito, que tem de melhorar habilidades não necessárias em seus jogos de aptidão passados. Mas mesmo estes detalhes que acabei de elogiar trazem seu ônus, pois Kirito, por mais que não seja a personificação gamer de Deus de outrora, é convenientemente alavancado em posições de maior poder em tempo absurdo para ser crível. E qualquer um que tenha entrado em algum MMO consolidado sabe as dificuldades de se obter êxito e relevância. Algo que também era necessários nos títulos já conhecidos do próprio SAO. É quebrada a lógica interna por pertinência.
Outro fanservice trabalhado é a relação de Kirito e Asuna, sem grande espaço para outras figuras, que mais servem como figurantes de luxo ou, não raramente, referências rápidas a arcos anteriores.
A química entre Kirito e Asuna, não seria exagero dizer, excedeu a condição de anime de ação a Sword Art Online, o que garantiu não apenas episódios próprios, o que seria impensável em qualquer outra adaptação voltada ao público masculino e que anseia por batalhas, não afagos, como um foco exacerbado. O segredo para isto, infelizmente, está no esvaziamento da personagem de Asuna, um processo agressivo e que atingiu contornos ridículos em Fairydance, quando protagonizou uma fábula obsoleta e constrangedora de dama em perigo.
Que a garota é visualmente um espetáculo e minuciosamente desenhada para servir de ideal feminino tanto dos Otakus quanto dos personagens animados, é algo deliberado, afinal, faz dinheiro e atrai atenção. Há, inclusive, um aplicativo na PlayStore onde ela serve de despertador para marmanjos. Mas é inaceitável a estrada que deram para Asuna durante o andar da carruagem. E o mais lamentável é como o autor parece orgulhoso e disposto a laboriar mais e mais nisto. Um problema social e cultural do Japão e, logo, do nicho otaku, como vemos em muitos animes de temporada.
O que, de forma alguma, justifica novamente seu papel de coadjuvante fragilizada, os closes abusados e a submissão a Kirito, que novamente recebe o logro do herói onipresente e capaz de tudo para resgatar sua débil amada.
Ainda que encante aos olhos, esporadicamente, SAO decepciona mesmo nisso. 90% do orçamento parece concentrado no - empolgante - clímax, enquanto que as cenas cotidianas, ou slice of life, são filmadas majoritariamente de longe, justamente para dificultar a visão de inconsistências no traço e a rigidez da animação. Esse desequilíbrio de qualidade dentro da própria película faz questionar por qual razão, então, estender tanto sua duração e por que não cortá-lo de modo a dar mais privilégio a momentos que envolvem lutas. Se faria mais
É uma miríade de escolhas erradas, algumas corretas, que acabam sombreadas. Um presente aos fanáticos menos críticos, uma chance desperdiçada aos que ainda buscam ter interesse na saga, e um novo pedido de desistência aos detratores masoquistas.
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