Ghost Stories (2017) - Crítica
A primeira vez que tive paralisia do sono, eu não sabia o que era. Já não era tão novo. Tinha 21 anos. Agora, tenho 22. Foi sinistro, e eu não esperava por aquilo. Meus olhos abriram. "Acordei antes do despertador, que inferno." Não foi meu exato pensamento, mas sumariamente... Enfim. Os olhos abriram, mas o resto, misteriosamente, permaneceu tão paralisado quanto alguém que sofreu o feitiço para imobilização em Harry Potter. Não fosse essa desconhecida condição inquietante o suficiente, eu vi coisas. Vi vultos, senti um peso sobre mim qual não conseguia diferir a origem. Me senti observado e perseguido. Lágrimas rolaram em meu roso. Eu era cético, mas não por aquele dia e nos próximos após ele. Não até descobrir devidamente o que aconteceu comigo e, então, reassumir a posição de arrogância inevitável de quem escolhe o dito plausível, mesmo que seja dado por explicações a quais você nunca chegaria sozinho, sem a ajuda de outros companheiros da mesma espécie.
Devido a meus hábitos, segundo esses caras mais inteligentes para que pessoas como eu e você entendam como funcionam as coisas e deixem de fazer coisas que pessoas como eu e você faziam quando os caras inteligentes não tinham as ferramentas para iluminar o mundo, sou propenso a ter paralisia do sono. Posição na cama, estresse, fatores psicológicos. De modo que, naturalmente, enfrentei a situação algumas dezenas de vezes desde então. Apenas na minoria, ocorrem estas "aparições", oriundas de um intermediário do onírico pro real. Mas, claro, nenhuma se equipara ao terror ignorante de antes.
Phillip Goodman (Andy Nyman) também é um cético, se recusando a aceitar a existência do sobrenatural. Vive desmascarando falastrões que se dizem médiuns e afins. Até que um dia, é convidado por um predecessor de sua carreira a desvendar três casos que este fora incapaz enquanto ativo, uma Bucket List peculiar. Estas três investigações que dão, obviamente, o título do filme, sendo não histórias literais de fantasmas, mas do preternatural.
Nas três tramas, Phillip é exposto a situações tenebrosas, e sempre, na condição fácil de observador, descarta as afirmações das vítimas, na ausência de melhor termo, buscando respostas através de explicações que soam mais como bordões prontos criados por caras mais inteligentes que ele, na psicologia de que "o cérebro vê o que quer", e na bagagem dos sofredores, com suas dores familiares e traumas inconcluídos.
Como em toda história assim, Phillip é confrontado com visões claramente inexplicáveis, porém sempre rápidas, quais ele decide descartar prontamente, no que eu, como público, vejo como um artifício para não fragilizar os próprios ideais, nutridos por tantos anos, ou talvez manter o manto que encoberta um trauma pessoal.
Comandado a quatro mãos por Jeremy Dyson e o próprio Andy Nyman, Ghost Stories não possui subtítulo, mas caso tivesse, nenhum seria mais adequado que "Nenhum medo é mais real que o seu". Surgido numa era para o cinema de terror que futuramente será vista em retrospectiva pela alcunha detestável, mas já disseminada do post-horror, a direção requintada e antológica da obra flerta com o eruditismo minimalista com clima independente visto em longas como A Bruxa e Hereditário, mas os capítulos parecem jogar contra isso, apelando, inclusive, a muletas defasadas do gênero, em desuso constante, como os infames Jump Scares, ainda que a criação climática seja impecavelmente amedrontadora, mesmo sem ser original, com seus ambientes escuros e enquadramentos fechados que se movem diabolicamente lentos para fornecer perspectivas de fundo que parecem sempre propensas a revelar imagens amedrontadoras de súbito.
Mas Ghost Stories é um filme estranho, distante do esquemático. Assim como Phillip luta contra o que vê, fugindo de seus próprios fantasmas, o roteiro batalha contra o que se acredita, e se a primeira história é uma assombração clássica, o segundo parece envolver uma personificação demoníaca e algo a mais um tanto quanto referencial, o terceiro, quando caminhava rumo à inevitável aceitação do além por parte do protagonista, transgride novamente as previsões, mas não exatamente de um modo interessante, e sim através de um didatismo expositivo que dirime o impacto desejado pelas próprias revelações.
Como tantas outras, Ghost Stories é uma ideia fantástica sem o devido manejo, algo que, ao contrário da paralisia do sono, ainda temo firmemente. Entretanto, é um conceito intrigante com seus momentos dignamente enervantes.
Nota 7.
Não tava sabendo desse filme. Paralisia do sono é algo incômodo e assustador.
ResponderExcluirFalta uma produção boa do tipo no mercado, que brinque com o fantástico e desmascare tudo. Deve ter, mas não me recordo agora. Algo tipo os desenhos clássicos do Scooby-Doo rs Algo que traga talvez os dois lados da história, mas não termine no óbvio como em Invocação do Mal 2.
ExcluirO Friedklin (diretor do Exorcista) fez um, mas só detonaram. E tem um doc podre sobre o assunto na netflix (tinha uns 3 anos atrás, pelo menos). Realmente, falta inteligência em se elaborar o tema.
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