Star Wars: A Ascensão Skywalker; A Serviço do Esquecimento - Crítica
Ao sair do cinema de Os Últimos Jedi, dois anos atras, estava em êxtase e certo que havia conferido um dos, se não o, melhor produto audiovisual da franquia criada por George Lucas. Um longa maduro, inventivo, divertido, bem dirigido e com excelentes cenas de ação. Um entretenimento completo, e muito além disso, muito mais do que a serie havia recebido em décadas. Comandado por Rian Johnson, era a primeira vez que a saga das estrelas levantava questionamentos acerca do próprio cânone, ampliava e renovava a própria mitologia. Para minha surpresa, então, passados estes dois anos, como se configuravam as opiniões momentâneas, minha impressão passou longe de ser unanimidade, e The Last Jedi se tornou um divisor de águas poderoso que repercutiu dentro da LucasFilm e alterou os rumos planejados pela série, dispensando Rian Johnson, contratado então para comandar uma nova (agora descartada) trilogia, e trazendo de volta JJ Abrams, responsável por O Despertar da Forca.
Apesar de Abrams reforçar em entrevistas o papel de Johnson e suas ideias terem sido consideradas para dar rumo ao final da trilogia, a verdade, e isto não é nem impressão, e sim constatação, é que o filme é o mais distante possível do que o que fora construído em The Last Jedi, numa tentativa óbvia e frustrante de agradar a todos e fazer as pazes com o xiita fandom estelar, avesso a novas ideias e ainda apegados a conceitos engessados de quase meio século de idade.
Pois assim, Abrams traz a historia que em tese é tudo que esses fanáticos retrógrados pediam, que é um filme medroso, jogando no seguro e que não cria nada, no máximo continua alguns conceitos apresentados em The Last Jedi, de forma acanhada, e rejeita tantos outros, numa veneração problemática e que sabota a própria mente de George Lucas, que por mais defeitos que tenha, nunca deixou de ser ousado e determinado nos passos que dava em suas criações. JJ, vejam bem, cresceu na indústria apadrinhado por Steve Spielberg, nerd declarado e fã de todas essas obras calcadas na cultura pop de hoje. Fez nome recriando franquias conhecidas, como Star Trek, Star Wars e Missão Impossível, e apesar de não ter ido mal em nenhuma delas, tampouco fez o contrário. JJ é um pacificador que inicia eras de transição, mas jamais serve para expandi-las. É um diretor razoável, mas um escritor deplorável, incapaz de conceber algo revolucionário e marcante. Portanto, suas obras já nascem datadas e fadadas ao esquecimento. Abrams ama demais aquilo que coloca as mãos, faz parte dos fandoms que dirige, e naturalmente, suas obras se parecem mais com fanfics desmioladas do que filmes originais em si. E bem, isto é exatamente o que os anti-The Last Jedi queriam, e conseguiram. O curioso, entretanto, é que a nota de Rise of Skywalker, no momento, é ainda mais baixa que The Last Jedi, vítima de boicote coletivo em sua época de lançamento, o que mostra como, afinal, essa covardia narrativa desagradou a quase todos.
Esta quebra de conceitos trazida por JJ cria uma incoerência ainda mais marcante que a vista entre O Despertador da Forca e Últimos Jedi, pois não apenas há um abismo profissional e ideológico tremendo entre Abrams e Johnson, como os roteiristas dos três filmes são diferentes, o que evidencia de forma gritante como os três filmes são retalhos costurados de modo conveniente para se encaixar nas demandas populares do momento do que uma história congruente e planejada com antecedência. Isso lembra muito o encerramento de Game of Thrones, em que essa ferramente de análise popular serviu como condutor do final da série, seja para evitar teorias extremamente odiadas, seja para mudar rumos previsíveis e esperados pelos expectadores. Se em tese soa interessante, na verdade este método torna a obra refém do público, limitando o trabalho criativo dos realizadores - o que, no caso de uma mente brilhante como a de Johnson, traz prejuízos enormes no produto final.
Esta crítica não planejava se tornar um hate (ainda que parcialmente merecido) a Abrams, mas como encarregado tanto do roteiro (junto a Chris Terrio, nome por trás dos questionáveis, sendo generoso, Batman x Superman e Liga da Justica) quanto da direção, basicamente todas as ideias e decisões se tornam subordinadas ao cineasta, e assim, num filme com tantas falhas, vindo de um outro tão rico e inovador, se torna difícil não focar tantos parágrafos a JJ.
O tal "desrespeito" com a mitologia de Star Wars tido por Johnson em The Last Jedi nada mais é que uma reclamação acerca da representatividade feminina do longa, que coloca mulheres como protagonistas do destino da galáxia, como, principalmente, de seu papel iconoclasta na imagem dos Jedi, que até então eram tratados como divindades, seres absolutos e superiores. Johnson, sabiamente, numa era de cinismo, pessimismo e egoísmo, faz o que todo bom artista faz, que é tornar sua obra um documento histórico de seu tempo, uma resistência ao crescimento do fascismo e intolerância globais desta década. No Star Wars de Johnson, a força está presente em todos, o destino pré-estabelecido, que parece somente se apresentar em famílias poderosas, é menos importante ao indivíduo que a sua vontade de potência, que as próprias escolhas. O plano final do episódio VIII, na qual uma simples criança aparece com uma vassoura cuja silhueta lembra em muito um Jedi com seu sabre de Luz, é simbólico, poético e belo em demonstrar isto. Pois JJ, por mais que até tente se manter nesta ideia, do poder das escolhas em nossa vida, mais do que nossa predestinação, não parece em nenhum momento de fato acreditar nisto, de modo que com o andamento da trama, o conceito é esquecido até chegarmos na última cena, que confusamente, joga pelo ralo de vez a reflexão de Johnson, o que expande a inconsistência tanto do filme como elemento unitário, quanto da trilogia em si (principalmente esta).
A fraqueza estrutural dos três filmes em conjunto, aliás, fragiliza o próprio The Last Jedi, disparado o melhor da nova tríade, pois como narrativa de meio, ele se apresenta mais introdutório, enquanto Force Awakens se mostra mais preocupado em referencias e nostalgia do que novidades, e Rise of Skywalker, perdido entre o que continuar e o que jogar fora, faz os dois de modo mal feito, resultando numa bagunça colossal.
Deixando de lado minha preferencia por The Last Jedi, o resultado é triste não somente por não dar sequencia às ideias de Johnson, mas sim por jamais criar, desenvolver e estabelecer uma construção que torne a nova trilogia marcante e sedutora para novas revisitas. Ao contrário dos filmes clássicos, estes novos, principalmente os capítulos VII e IX, se inserem, tristemente, no mesmo terreno dos longas da Marvel, de blockbusters insossos e inférteis, cuja longevidade acaba assim que saímos da sala de cinema, e cujo único elemento forte perde peso em decorrência disto.
Nenhum fan service se sustenta em duras horas e meia de duração. E demandas populares são somente de acordo com a memória afetiva de cada um. Neste caso, de gerações passadas e que logo mais deixarão de definir qualquer nicho de mercado lucrativo para os estúdios. Star Wars, até aqui, é sacrifício disto, e o destino de quem opta por este caminho é tao somente o esquecimento. Mas o que importa, mesmo, são os bilhões, e para isto, nada mais confortável que a mediocridade.
Concordo com você. Eu particularmente odeio a decisão do George Lucas de vender para a Disney e fico surpresa com a prepotência dele de achar que a empresa daria total liberdade para fazer suas continuações, era óbvio que não, o que só me deixa infeliz porque era o que eu realmente queria assistir, para mim já era esperado que a Disney detonasse Star Wars, tornasse a saga algo tremendamente derivativo como você disse, mas ainda sim consegui me surpreender em como conseguiram fazer do episódio VII um filme HORRÍVEL, é a New Hope recontado com o plot do Kylo Ren-Han Solo sendo totalmente desnecessário, desrespeitoso e mal construído, Johnson fez o possível para tornar The Last Jedi um filme muito melhor que dava rumos mais interessantes para a história - apesar de eu não ter gostado com a maneira que ele colocou Luke Skywalker no filme - o resto das decisões dele foram muito melhores para a trama, e é decepcionante ver JJ ignorando todo o feito de Johnson, e mais uma vez fazendo um trabalho horrível em TROS. Não sei nem começar pelo que me incomodou mais, provavelmente foi a morte do Ren, teria sido muito melhor que colocassem ele vivo e fugitivo no final do que darem pra ele o mesmo final do Anakin, tudo por causa do absurdo cometido de terem feito esse personagem matar o próprio pai, o Poe ter virado um “segundo Han Solo” foi outro fator que me incomodou muito, assim como a falta de desenvolvimento do Fin e como ignoraram totalmente a existência da Rose, o plot da Rey poder curar e do KYLO REN TAMBÉM é bem absurdo considerando que nem os antigos Jedi com muito treinamento conseguiam fazer aquilo, de pensar que o Anakin foi para o lado negro porque queria ter aquela capacidade... A cena da Rey contra o Palpatine, apesar de bonita visualmente, também conseguiu desapontar porque teria sido muito melhor se tivesse aparecido o espírito dos outros Jedi, perderam uma oportunidade grandiosa, e o final em si só conseguiu ser decepcionante, para uma fã como eu é péssimo ver os Skywalker acabando para que uma personagem simplesmente se proclame uma, sendo honesta foi uma experiência deprimente, acho que só não odiei porque Game of Thrones mudou pra sempre minha visão do que é um verdadeiro final horrível, comparando com a saga de Martin, o final de Star Wars foi aceitável. Apesar de todos os problemas, gosto dos personagens e de algumas ideias inseridas na trilogia, como já disse principalmente no The Last Jedi, a ligação de mentes entre Rey-Kylo Ren foi ousada e interessante, o diretor conseguiu melhorar demais o que estava sendo feito e imagino que ele teria nos dado uma conclusão muito mais digno, uma pena.
ResponderExcluiruma conclusão muito mais digna**
Excluirdesculpe por qualquer outro errinho no texto