Rivais (2024) - Crítica

Se você passa algum tempo em redes sociais, deve ter se deparado, nos últimos meses, com a frase "A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir." de Arthur Schopenhauer. Bem, não sei do uso das redes pelo diretor Luca Guadagnino e o roteirista Justin Kuritzkes, mas a reflexão do filósofo alemão pode resumir muito bem o filme Challengers, no original, assim como o comportamento de seu trio de protagonistas. 

Se tivesse de escolher uma palavra-chave para o longa, seria desejo. Usando o tênis para comentar - e expressar - desejo, lascívia, competição e bastante tesão, Guadagnino mescla a volúpia de Saltburn com o florescer juvenil que ele mesmo mestra desde Me Chame Pelo Seu Nome, passando por Até os Ossos, e um experimentalismo ousado e até pedante, mas nunca preguiçoso. Se for para pecar, que seja pelo excesso, não é?! Ao diretor, jamais falta paixão para filmar, algo bem transmitido para o elenco, que no auge de sua juventude, tanto transmite o corpo do texto para a tela. 

Mike Faist, Josh O'Connor e, especialmente, Zendaya, desfilam provocações físicas e verbais mesmo sem diálogos expositivos, enquadrados pelo diretor como uma exposição de arte exibicionista e que maneja o implícito mesmo sendo tão agressivo em como destila tesão em cada cena de troca entre as figuras. Jovens ou mais velhas. 

Mas nenhuma metáfora é vazia, fútil ou pueril. Guadagnino não é um conservador e entende o papel do amor e do desejo tanto na vida quanto no cinema que, afinal, ficcional ou não, expressa isso mesmo, a vida, nossas vontades, repressões e ânsias. Ao ilustrar toda sua miscelânea de amadurecimento dentro do tênis, mais do que o cenário burguês que já havia sido mostrado em Me Chame Pelo Seu Nome, o cineasta usa do esporte como uma exposição bem direta da origem deste desejo que aflora com a explosão hormonal da idade. Os corpos malhados do esporte, o suor que escorre e os movimentos que são como uma dança, ora caótica, ora sincronizada, são uma troca de intimidade que só aqueles em quadra entendem, provocando a catarse corporal máxima. Os gritos da personagem de Zendaya, de outra forma tão calma e discreta, evidenciam isso. Como ela diz, o tênis "é um relacionamento". 

E é a atriz, que se aproxima dos 30 anos mas até então fora reservada a papéis colegiais, que melhor sublima essa ebulição orgástica de Rivais, tanto para conduzir o filme quanto para atingir um novo espaço em sua carreira. De olhar sedutor e confiante, capaz de provocar tanto o desejo quanto a humilhação por um simples movimento, desde o início é ela quem instiga nos inseparáveis amigos a origem da ruptura que irá se instalar no futuro. E não há como deixar de acreditar em suas convicções e razões disso, bem como as motivações que ultrapassam uma década de rivalidade. A insegurança mesmo no companheirismo de um, e a liberdade descompromissada do flerte de quem não tem nada a perder. 

Outro aspecto tão funcional e importante para Rivais funcionar está na montagem de Marco Costa, que tem um difícil trabalho em interligar tantas e incessantes trocas temporais sem perder a dinâmica elétrica que o filme busca o tempo todo, assim como as temáticas e simetrias que persistem entre os anos e diferentes períodos de seus personagens. É uma montagem chamativa como o diretor parece querer em cada elemento, como na fotografia e na trilha sonora que evocam clipes sensuais dos anos 80 e 90, sempre sugerindo uma perversão que, de fato, nunca é explícita. Não há nudez exposta, nem mesmo um peitinho, e mesmo assim, a excitação e a tensão do desejo são palpáveis como os melhores do gênero. É sobre juventude, sobre emoções, sobre tédio e o desejar. 

Challengers é um filme comprometido até o fim com essa busca frenética pelo sentir. Três jovens que iniciam cheios de fogo e sonhos, seguem caminhos distintos e por vezes estagnados ou fracassados, mas que, separados ou juntos, só se conectam de verdade quando reconquistam a chama e a paixão da disputa. De almejar algo. Troféu ou sexo. O tesão de um pode não ser o de outro, mas estão todos em busca do mesmo combustível. 

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