Crítica - The Last of Us: 2ª Temporada
A segunda temporada de The Last of Us acabou e é quase unânime dizermos que foi bastante decepcionante, embora não ruim. E apesar de muitos atribuírem isso a Bella Ramsey, a atriz é a menos culpada disso, ainda que não tenha ido bem. Eu já não achei a primeira temporada uma grande coisa, mas ela pelo menos teve um eixo e consistência, e você via a progressão da história, por mais que alguns episódios parecessem errôneos e dispersos.
Nesta segunda temporada, que adapta o polêmico segundo jogo, mais maduro, brutal e frontal, a equipe não soube traduzir a essência do game e dos personagens para o formato de série.
Sim, pois é preciso entender a diferença das mídias. Enquanto no jogo temos uma atividade ativa que dispensa certos desenvolvimentos e entremeios, a série, uma mídia passiva, precisa desenvolver melhor seus personagens e o mundo em si, dando substância ao que está ao redor, não somente poucas figuras centrais. Isso explica, por exemplo, o fato de não terem ido atrás da Abby logo após a morte de Joel, como no jogo. Faz sentido para sentirmos o luto e até explicar o contexto e podermos ver o resultado do ataque infectado em Jackson. Há mais o que se importar e não vemos tudo pelos olhos de uma só personagem, como no jogo. O microcosmo do game dá lugar ao macro. E isso resume a falência histórica das adaptações de jogos ao cinema.
Algumas coisas, entretanto, não se explicam, por mais que se compreendam as razões. A mais óbvia é de ritmo. A escolha de estender a adaptação do segundo jogo em duas e até três temporadas obriga que a produção dilua a ação e a trama, consequentemente precisando acrescentar detalhes, histórias e subtextos. Alguns funcionam, como Dina, que ganha muito mais destaque na interpretação carismática de Isabela Merced, outros não. Ou a maioria. Quase toda a atmosfera e a essência do jogo, especialmente a jornada interna de Ellie, são obliteradas por escolhas criativas. Não é sobre mudanças, mas mudanças para pior.
E nisto, quem mais sofre é Bella Ramsey, cujo hate sofrido foi ainda mais intenso e covarde que na temporada inicial. A falta de foco e um arco decente à personagem, que pouco parece ter evoluído da primeira temporada, juntando não somente os anos, mas os traumas, é incompreensível. A personagem flutuou na infantilidade, arrogância e irritabilidade, com pequenos enxertos raivosos e depressivos que lembram a Ellie dos jogos, como se o roteiro recordasse, de vez em quando, do objetivo do arco dramático e de como Ellie deveria se sentir em relação a Joel. Só que não vemos isso de moto constante na série nem em sua atuação, somente em passagens, não no estado de espírito da mesma. E por isso, acabamos não sentindo de fato o peso da perda, ou então nos lamentando pela aparente indiferença da personagem, que em certo momento até precisou ser lembrada por Dina do porquê estava ali.
Quer dizer, podemos entender a ideia dos criadores da série. Qual seria a reação do público em acompanhar uma protagonista com ações tão vilanescas e condenáveis? A escolha foi uma personagem instável e cheia de remorço, pouco convicta em suas ações. Uma história e protagonista como qualquer outra.
Nesta evaporação da Ellie, é ainda mais inexplicável como optaram por focar tanto a trama nela e em Dina, nesta discussão sobre luto, amor e vingança soft, esquecendo outras figuras centrais do jogo, Jesse e Tommy. Acabou sendo uma exposição gratuita a Bella Ramsey, fragilizada pelo roteiro e falta de direção do texto à sua personagem, a prendendo numa estagnação de storytelling para render mais episódios e numa indecisão sobre sua convicção na jornada.
E Claro, a Ellie dos games não é uma heroína. O último episódio sugere essa contradição, essa ambiguidade; Ellie matar uma grávida enquanto protege outra, a discussão com Abby. Essa contradição engrandece o jogo. Porém, empobrece a série. Ou, no mínimo, a torna como qualquer uma. Talvez o showrunner devesse ter visto obras como Breaking Bad, House of Cards, Sopranos, Poderoso Chefão ou Succession, para entender que para tornar algo interessante, ele não precisa ser bondoso.
É uma desconexão que, infelizmente, não somente prejudicou toda a temporada, como coloca em risco toda a continuidade da série.
"Foi bastante decepcionante, embora não ruim." ~ Isso que uma galera não entende. Num momento onde tudo é extremo, a galera reclama mais pelas diferenças com o produto original e por motivos mais fúteis como aparência de atores, "vou ser papai", lgbt na parede, etc, do que algo mais válido. E se uma parte do resultado fica ruim é como se todo ele fosse também, ignorando qualquer parte boa. Particularmente eu curti a temporada, apesar de todos os deslizes, e ainda achei mais positiva que negativa, com vários momentos bons. E teve o melhor episódio da série, o da morte do Joel. Só senti que foi cedo demais. A série não tem um personagem sequer que se equipare a ele pra "substituir".
ResponderExcluir"Como se o roteiro recordasse, de vez em quando, do objetivo do arco dramático e de como Ellie deveria se sentir em relação a Joel." ~ Isso notei bastante. E nem joguei o jogo. Faltou esse reforço no sentimento de vingança dela. E faltou um equilíbrio pros momentos mais descontraídos soarem mais naturais, e não como se a trama apenas parasse no tempo pra dar uma aliviada.
"Essa contradição engrandece o jogo. Porém, empobrece a série." ~ Não notei isso. Mas não joguei o jogo. Achei interessante a cena da Ellie matando a grávida. Foi uma das cenas que valeu o episódio final, que, pra mim, foi talvez o mais fraco da série, embora não necessariamente ruim. Inclusive o que me incomodou mais foi a aleatoriedade dela ir parar na ilha, ser capturada e fugir logo depois. Não acrescentou em nada ali. Espero que sirva pra algo na próxima. E o gancho foi horroroso. Um suspense sem sentido. "Todo mundo" sabe que a Ellie não morreu.
Fala Lucas! Obrigado por mais um comentário. Pois é, as críticas que vi pela internet, focaram quase que unicamente nas diferenças do jogo, e na aparência da Bella. Uma preguiça que só desse povo. Uma pena pois acaba influenciando em quem produz. Mas espero que melhore na 3.
Excluir