Zootopia 2 (2025) - Crítica


Walt Disney foi um homem envolto de polêmicas. Apesar da imagem de seu conglomerado vender uma fachada de sonhador inocente e fantástico, Walt usou de sua fama e influência para beneficiar os próprios negócios e ideologias, com pouco respeito aos outros. Associado ao partido republicano, o empresário explorou seus personagens para instigar o alistamento militar, promover ideais de invasão a outras nações, perseguir o comunismo dentro da indústria, sabotou seus funcionários quando iniciaram uma greve por melhores pagamentos e condições de trabalho e apresentava um comportamento autoritário, bem distante da fofura de suas produções. Isto não visa negar a inteligência e genialidade do sujeito, o que seria inviável, mas evidenciar sua história.

Pois hoje, a Disney vive uma das maiores crises de sua história, se não financeira, criativa. Apoiando campanhas de políticos de extrema-direita na Flórida, amordaçando artistas que buscam conferir mais identidade e representatividade em seus projetos e com um medo paralisante de ofender qualquer lado do extremismo político atual, restou um estúdio inofensivo e narrativamente acovardado, ainda mais do que fora nos anos da Guerra Fria. A escolha é, obviamente, sequências intermináveis de obras que deram certo, com mensagens universais, mas repetitivas e empoeiradas, por mais que bem-intencionadas e essenciais.

Nesta situação já tivemos as continuações de Frozen, Moana e, agora, Zootopia, os dois primeiros sendo dinheiro fácil, ultrapassando o bilhão, com o novo capítulo da parceria de Nick e Judy bem encaminhado a tal feito. Em Zootopia, o salto temporal entre os dois filmes inexiste na história, que se passa poucos dias após os dois terem resolvido o crime visto no original, e agora enfrentam o dilema da rotina e de suas personalidades discrepantes na abordagem profissional.

Manter o frescor, aprofundar o universo trazendo novos e interessantes conflitos e personagens é um desafio para sequências de filmes originais — que teoricamente foram esboçados como experiências individuais. A Disney sofre bastante com isso, e é difícil listar suas sequels que mantiveram um bom nível. Veja que nem comento sobre superar o predecessor, que seria ainda mais difícil, mas somente ser bom por si só. Antigamente, o próprio estúdio dava um tratamento inferior, direto a home-video, a eles, como as sequências de Rei Leão, Mulan, Tarzan, Pocahontas e por aí. O orçamento cinematográfico, entretanto, não se traduziu em cuidado artístico nos retornos de Detona Ralph e Moana, especialmente o segundo, um filme remendado e preguiçoso, mas que fez muito dinheiro. Qual a prioridade?

Como já conhecemos os personagens principais, dispensa-se a introdução, mas, na contramão, perde-se o fascínio pela novidade. Com a mesma equipe criativa do primeiro, Zootopia 2 aproveita o primeiro elemento ao ter mais tempo para explorar a Zootopia e seus biomas e moradores. Mesmo sem os desenvolver, são figuras, com algum destaque ou somente de fundo, que preenchem a tela com estereótipos relacionados a seu habitat, normalmente com inspirada diversão e carisma imediato. Tal qual a preguiça do primeiro, por exemplo.

Com o tempo, entretanto, essa visitação, como pode ser chamada, não é suficiente para segurar uma narrativa de quase duas horas. No segundo elemento, trazer novos pontos de interesse em conflitos e personagens, Zootopia 2 não se sai tão bem. Fora Judy e Nick, que convivem com uma reviravolta sobre seus planos e conexão por toda a duração do longa, tendo de lidar com elas em meio a outras subtramas, os outros personagens recebem pouco carinho e aprofundamento, mesmo a cobra Gary, que fomenta o arco principal da animação.

São personagens, duradouros ou passageiros, mais servindo a um interesse dramático de condução e progresso que, de fato, uma discussão nova — pois de fato há uma mensagem, uma reflexão, mas ela é somente uma ampliação em escala da temática do original, sobre aparências, preconceito e segundas chances. Bonito, obviamente necessário, mas requentado. Parece haver um esboço para se discutir a importância da imigração no país, e como as autoridades e elite branca agiram para seu apagamento histórico, obviamente mitigado pelas cabeças do estúdio, o que não seria a primeira vez e reforça o que escrevi nos primeiros parágrafos.

Qual a ambição de Zootopia? Da Disney, ganhar dinheiro. Da equipe técnica também, obviamente, mas certamente um pouco mais. Transmitir algo, causar sentimentos, provocar reações. Fora umas risadas sinceras de piadas sagazes e referências inesperadas (pensem em O Iluminado quando forem assistir), Zootopia 2 parece já ir se apagando quando saímos da sessão. Ele não ofende como Moana 2, mas tampouco estabelece algo notável como fez, naturalmente, da primeira vez.

Parece que a Disney está contente com isso. Um conglomerado de mídia e entretenimento que é, cada vez mais, incapaz de criar novos ícones culturais, fadado a explorar e diluir seus mesmos produtos à exaustão, prejudicando as marcas por desleixo. Até quando durará a fonte sem se tornar somente um fantasma do passado?

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