Let's Go, Jets (2017) - Crítica


O mundo dos esportes é uma fonte interminável e fácil para a sétima arte trabalhar com a emoção do público. A competitividade inerente envolvida nas diversas modalidades conversa com múltiplos segmentos, e por vezes cativa pessoas não familiarizadas com modalidades menos midiáticas. O que mais importa, afinal, é a história. E quanto mais improvável a realidade, maiores as chances de sensibilizar e ganhar alguns milhões com ela.

Além do óbvio, como futebol, futebol americano e basquete, tênis de mesa, handebol, golf, hóquei e natação foram utilizados como tema para tramas que, na maioria das vezes, até descartam os percalços físicos e mentais para focar no melodrama excessivo em conquistas ou feitos. Os melhores, entretanto, ainda que se usem da dramatização criteriosa, são os que aproveitam o esporte, qual seja ele, para endossar as dificuldades enfrentadas pelos personagens, o que certifica as provações ao expor os esforços ilimitados de quem busca o êxito, seja num touchdown ou numa pirueta bem executada.

Neste segundo cenário, felizmente, surge "Let's Go, Jets", longa japonês que busca retratar a jornada da equipe de Cheerdance, o que seria traduzido em algo como dança de líderes de torcida, da cidade de Fukui, capital da prefeitura de mesmo nome, no Japão. A sinopse é certeira e não pode fugir de sua identidade, e sim abraçá-la. Ou o espectador se instiga pela insólita proposta, ou rapidamente vira os olhos, desinteressado por esta conquista que significa tão pouco para quase todos, mas um mundo todo para aquela geração de estudantes de ensino médio que certamente são o orgulho de sua região.


A história transposta, em si, ocorreu em 2009, mas longe de um feito isolado que mais parece um acidente, pois o clube da escola segue competitivo e eficiente no quesito, ainda abocanhando outras competições desde então, o que é notável considerando a rotatividade e imprevisibilidade de suas integrantes, exigindo um trabalho de coaching estável e arriscado, já que são poucas as chances de justificar o tempo e labor investidos neste célere período.

Labuta diária e de longo prazo que é acentuada assim que as protagonistas se inscrevem no projeto, ao verem as exigências profissionais da treinadora, que poderia ser interpretada com amargura e irracionalidade, mas é tralhada com pulso e inteligência por Yuki Amami.

Nas novas perspectivas, membros antigos abandonam a empreitada, deixando, em sua maioria, novatas com os pesados encargos, que ainda devem ser divididos com óbices e descobertas naturais da idade, como as provas estudantis, a iminência da faculdade e os relacionamentos externos que afloram na adolescência.

Protagonizado pela promissora Suzu Hirose, esta trajetória tem o começo esperado, em que desajustadas se mostram sem talento e jeito para a coisa, então lapidadas não apenas pela mentora, mas pela própria sororidade que se instaura, formando uma verdadeira comunidade entre elas, mas sem deixar de evidenciar, ainda que timidamente, a concorrência pesada e sacrifícios demandados na elite.


O que poderia ser o aspecto mais complexo da película, entretanto, é ignorado com um desleixo imperdoável, que é o crescimento das garotas como dançarinas e, justamente, mulheres, em que os quase três anos passam sem mudanças narrativas, até imperceptivelmente, não fosse o roteiro expositivo que expressa a passagem de tempo em diálogos preguiçosos.

Falha que busca compensar no próprio carisma das meninas, ou as poucas que recebem nome e rosto para representar o numeroso conjunto, qual seria impossível desenvolver nos 120 minutos de duração. É em seus sorrisos e suor ao praticarem o que gostam, cada uma com seu background, que a torcida se torna inelutável.

Sem pudor em assumir um caráter manipulativo com o público, o diretor Hayato Kawai e sua equipe ao menos romantizam uma epopeia já admirável com autenticidade e vibração, e assim, quando as lágrimas inevitavelmente brotam, é por uma alegria cominutiva e livre de culpa.

Um sopro de leveza juvenil e compartilhada.

Nota 7.

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