Memória de um Assassino (2017) - Crítica


Poucos países possuem um gênero cinematográfico tão intrincado em sua história quando a Coreia do Sul e os Thrillers criminais, ainda mais que os melodramas. Em duas décadas, vários clássicos modernos da temática saíram da terra ao Sul do Paralelo 38: Memórias de um Assassino, a Trilogia da Vingança, de Chan-wook Park, O Lamento, Eu Vi o Diabo e lista que segue.

O mercado interno rendeu e os produtores perceberam. Com a alta demanda, então, nem todo exemplar é digno da prateleira de cima. Mas entre tantas obras, mesmo que nem todas sejam pequenas revoluções, surgem filmes apenas bons, e entre estes está "Memória de um Assassino", jamais confundir com o grandioso "Memórias de um Assassino", um dos melhores longas da década passada e deste século, apesar da similaridade temática.

Se não entrega um espetáculo memorável, entretanto, Memoir of a Murderer não deixa de ser uma experiência intrigante e articulada, tendo como mérito um artifício interessante para conduzir a trama e entremear cada aspecto de seu andamento de acordo com esta proposta. E ele está na memória do título, não no plural, e sim a memória como um todo, esta que abandona aos poucos o protagonista, Byeong-Soo (vivido por Sol Kyung-Gu), serial killer portador de Alzheimer e que numa fase progressiva do enfermo, se vê metido em uma situação problemática envolvendo sua filha e assassinatos que ocorrem na região.

Já foram várias as películas sul-coreanas que se utilizaram de debilidades memoriais para extrair o choro em dramas amorosos. Porém, como componente de suspense, é uma bem-vinda novidade, que serve para tornar cada minuto das quase duas horas da produção uma teia indecifrável e enigmática.

O passado de ByeongSoo, exposto nos primeiros segundos de exibição, deixa sua moralidade sempre em cheque. A construção é objetiva e propositiva, sem devaneios. Assim, por mais que falamos de uma obra que envolve um serial killer, o personagem principal possuir um passado nebuloso e uma doença que enviesa suas lembranças atordoam o espectador, com a inteligente jogada de mostrar tudo do ponto de vista de Byeng. Logo, a própria mente do homem se torna a vilã da história, confunde e mantém a dúvida. Por mais óbvia que possa parecer a resposta, novas informações e questionamentos sugerem e anulam teorias continuamente, permitindo imersão e diversão.

Adaptação da novela de Kim Young-Ha, lançada em 2003, o roteiro de Joyoon e ShinYeon consegue atingir a dinâmica ideal entre flashbacks e presente, ilusões e realidade, de modo a não transformar a narrativa num retalho tão extraviado quanto as recordações do protagonista.


No entanto, por mais competentes e instigantes que sejam as inversões sobrepostas do factual e o fictício, olhos mais atentos observarão que, simplesmente, a história se apoia demasiado em sua espinha dorsal, tendo passagens excedentes e que careciam de melhor adorno, principalmente no que concerne o arco de Eun-Hee, filha de Byeng, interpretada aqui pela bela e jovem Kim Seolhyun, que entrega uma performance carinhosa e carismática, mas é lamuriosamente retratada com uma passividade injustificável pela precaução paterna, um utensílio dramático pobre por parte do texto e que limita o o esforço da atriz a sorrisos e sobrancelhas retorcidas.

Do mesmo modo, as conveniências da história são sobressalentes e por vezes estúpidas, como um policial que resolve enfrentar um bandido sozinho, com a preguiçosa explicação de que "os reforços já estão chegando", quando claramente estes estarão lá tarde demais. Sim, se formos analisar, todo thriller, toda obra, eu diria, possui suas conveniências. A deficiência está na fragilidade desta, que se mostra tão implausível para um profissional sério em um caso tão mobilizado.

Assim, a impressão é de que o autor e a equipe responsável por sua versão audiovisual se mostraram demasiado encantados com a ideia de brincar com a plateia através da doença degenerativa que banha toda a trama, mas subestimaram os outros elementos que acabam, consequentemente, enfraquecendo o que poderia ser mais um jovem clássico do gênero, mas termina apenas como um escapismo atraente e passageiro.

Nota 7. 

3 comentários:

  1. Hum... que bom que gostou, apesar dos pesares. Não senti que esses elementos citados desmerecerem parte da trama, mas concordo em boa parte com a crítica. Ainda acho um ótimo thriller.

    ResponderExcluir
  2. Filme bom sim, mas que contém uma grande falha, que foi mostrar logo no começo o policial matando duas pessoas... Se ao final do filme ele parece ter sido inocentado, esqueceram de explicar aquelas duas mortes..., o que a meu ver quebrou completamente a lógica da história.

    ResponderExcluir