Megatubarão (2018) - Crítica


Só havia uma maneira de um filme chamado Megatubarão, sobre um Megalodonte moderno, protagonizado por Jason Statham, funcionar.

Em 1975, Steven Spielberg inaugurou e extinguiu o gênero de fitas sobre os temidos predadores marinhos. Ao menos os sérios. Depois dele, muito se tentou replicar a fórmula, inclusive criando uma franquia fracassada em seu nome. Os únicos que conseguiram algum respaldo foram justamente obras galhofas, como os infames Sharknado. Quando se buscou reforçar o horror da criatura, em busca de uma magnitude inalcançável, o resultado costumava ser a risada involuntária. Quem mais se aproximou do esmero foi Águas Rasas, em 2016, mas que naufraga no terceiro ato, justamente quando revela seu "vilão". Melhor, consequentemente, voluntariar-se ao riso.

"É o diabo", diz um personagem sobre o monstro, em certo momento, quando seu barco é perseguido impiedosamente através do Pacífico. E é isso mesmo. O Meg, como diz o título americano, não é apenas um bicho. Ele extravasa os sensos comuns conhecidos historicamente do comportamento de seus parentes contemporâneos. E mesmo a bióloga Suyin, vivida por Li Bingbing, demonstra insegurança em sua conduta, que se parece com verdadeiras atitudes. Privilegiada por um tamanho colossal, ela (é chamada de She, por Statham) descarta tudo que os profissionais lutaram para desmistificar durante décadas: é uma aberração vingativa, primitiva e que demonstra uma ânsia em vingar a carnificina predatória sofrida pelos que buscam as barbatanas de cações.


Inspirado livremente no livro de sci-fi B,  Meg: A Novel of Deep Terror, de Steve Alten, lançado em 1997, Megatubarão não demonstra nenhum comprometimento com a realidade, e escalar Statham, conhecido como um brutamontes desgovernado, já evidencia estas intenções. Jason vive Jonas com uma intensidade e trejeitos deliberadamente canastrões, encorporando com êxtase o salvador clássico e impetuoso que não hesita em mergulhar lado a lado com a fera para salvar seus pares, e que ao encarar a iminência da morte não demonstra medo, e sim expressões típicas de Velozes e Furiosos, curtindo a adrenalina.

É um carisma que o transforma numa espécie de Aquaman, e todos os clichês que o convergem de anti-herói debochado e bonachão à dama mais linda do cenário são aceitos com naturalidade, até porque ele merece alguma sorte após tanto sofrimento. Não que Li seja retratada como prêmio. É resgatada, assim como todos, por Statham, mas é quem mais se aproxima do co-protagonismo, sem se rebaixar ao posto de indefesa, com firmeza e postura que faltam a vários homens da narrativa. É um estereótipo bem disfarçado, enquanto outros são adotados compulsivamente, como o recurso cômico (Page Kennedy), que inicia e termina a trama sem propósito que não ser uma piada ambulante.

Não há vergonha em ser ridículo seria um bom slogan para seu cartaz. Ao mesmo tempo em que oferece diálogos aleatórios que sugerem críticas governamentais, à mídia e ambientais, desvia o clímax para mostrar um cachorro dando meia-volta em seu nado ao se deparar com o tubarão, além de só parar a frenética câmera para enquadrar um humano se deitar aliviado no cadáver de uma baleia.

Com cenas em que é possível imaginar as gargalhadas da equipe em sua composição e imaginação, Megatubarão é tudo que devia ser, e ainda mais do que podia. E desde já, o melhor filme de Megatubarão já realizado.

Funcionou!

Nota 7. 

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