Crítica - Star Wars: O Despertar da Força(2015)

Star Wars de Volta em Grande Estilo!

A franquia Guerra nas Estrelas dispensa apresentações. Corro o risco de me exaltar aqui, mas mesmo não sendo minha favorita, acho que pode ser considerada a maior marca do entretenimento cinematográfico atual. O poder midiático da saga criada por George Lucas se mantém estável e forte após todos esses anos. Mesmo a fracassada trilogia de origem tendo sido massacrada, com o anúncio do capítulo VII, a exultação e ansiedade voltaram para os fãs, contagiando também aqueles de fora de seu universo. Apesar de manter a marca viva através de jogos, HQ's e livros, é nos cinemas que está o grande produto de Star Wars. E "The Force Awakens" veio pra engrandecer ainda mais este verdadeiro gigante da indústria.

Com pressão e expectativas sem precedentes, o filme consegue não apenas superá-los, mas rejuvenescer toda a franquia sem decepcionar seus seguidores de longa data, realizando homenagens pontuais e trazendo de volta o espírito inocente e nostálgico perdido na nova - agora velha - trilogia da década passada.

Com início cerca de 30 anos após os ocorridos em "O Retorno de Jedi", os familiar letreiro vai revelando, conforme surge, a trama do longa, inteligentemente bem camuflada nos materiais de divulgação. Luke Skywalker está sumido, e das cinzas do Império, surgiu a Primeira Ordem, mantendo a força sombria ativa, que mais uma vez enfrenta a resistência rebelde. E então surge uma das atitudes mais ousadas e louváveis de seu roteiro: a inversão de gênero da jornada do herói. Já tivemos LukeHarry Potter, Neo, Frodo, Bilbo, e agora finalmente uma mulher assume a função de salvadora de todos. Rey, catadora de sucata em Jakku, encontra o droid BB-8, que traz consigo uma mensagem que pode revelar o paradeiro do lendário Jedi Skywalker. Assim a personagem acaba se envolvendo na  guerra entre os lados da força, e é baseado nessa busca que a história toma corpo e se baseia em toda sua continuidade.

O desenrolar é rápido, assim como todo o 1º ato, frenético, divertido e mesmo assim, bem organizado. Abrams manda muito bem nas cenas de ação, tanto as que ocorrem no solo quanto as que tomam conta do ar. A câmera não deixa nada fica monótono ou estático, admitindo um ritmo ágil e apresentando confrontos verossímeis, já que o diretor jamais tira o foco do que está ocorrendo nas batalhas, nos mostrando cada detalhe com a confiança de dar inveja a qualquer veterano(indireta a Michael Bay e suas pirotecnias que causam dor de cabeça). E ah, os famosos lens flare marcam presença.

Competente como a ação, é o desenvolvimento dos novos protagonistas: Rey e Finn, interpretados respectivamente por Daisy Ridley John Boyega. Os dois atores, que sofreram tentativa de boicote por parte de seres vivos com baixa contagem de neurônios, tiram de letra e quebram o paradigma do herói caucasiano. Boyega constrói seu Finn de forma humorada e atrapalhada, parecendo um homem comum que caiu no meio de algo maior do que jamais pretendia, mas com um grande altruísmo que gera empatia.

Daisy Ridley, no entanto, merece um parágrafo para si. Em um ano que tivemos Katniss, Ilsa Faust e Furiosa, a atriz encerra 2015 de forma destacada como uma das personagens mais fortes não só de toda a saga, como do cinema.  A novata, que pela primeira vez protagoniza uma grande produção, mostra uma presença e domínio de tela magnéticos. A composição de Rey mescla uma ingenuidade genuína, como a de Luke, mas é forte, independente, intrépida e se isso não bastasse, se sai muitíssimo bem quando exigido maior alcance dramático. Tem tudo para se tornar uma estrela de Hollywood.  Ao contrário da maioria das produções do gênero, ela não é uma dama em perigo, algo que o próprio longa brinca em uma cena, quando Finn pensa em ajudá-la em uma situação, mas logo percebe que quem precisa se cuidar dela, é ele.
Daisy Ridley surge como uma estrela em potencial. Ao fundo, BB-8, o coadjuvante de luxo.
A relação entre os protagonistas é corroborada rapidamente por uma grande química, tornando críveis os momentos em que demonstram carinho e preocupação um com o outro. Infelizmente o mesmo não pode ser dito de todas as novas inserções do elenco. Oscar Isaac, Lupita Nyong'o, Andy Serkis e Domhnall Gleeson(numa clara referência a Wilhuff Tarkin) até possuem algum momento em tela, mas sem profundidade. Principalmente Oscar e Andy devem ser mais explorados nas continuações. Gwendoline Christie é tão irrelevante que nem mostra o rosto.

Adam Driver, a nova face do mal, é razoavelmente eficiente como Kylo Rhen, mas sem representar uma ameaça tão grande quanto Darth Vader, claramente sua inspiração. Nos raros momentos sem máscara, porém, o talentoso ator consegue dar tridimensionalidade para o vilão. Em uma espécie de transição incompleta para a força sombria, é interessante notar o conflito interno sutil que gera insegurança e anseio no rosto de Adam, características também refletidas nos momentos em que está com a voz natural exposta, um contraste com a aparência imponente e temível que passa quando encoberto.

No meio de tantas novidades, o roteiro ainda consegue homenagear a trilogia clássica mantendo-se ágil, não forçando a barra nas apresentações de Chewbacca, Leia, C-3PO e R2-D2, mesmo a maioria sendo apenas fanservice. Entre estes velhos rostos conhecidos, apenas Han Solo ganha um destaque maior. O adorável canastrão continua tão fascinante como sempre, mérito do carismático Harrison Ford. As referências também são singelas e precisas através de algumas falas, planos e ambientações semelhantes às encontradas nos 3 capítulos iniciais, como a abertura com o destróier imperial.

A trilha sonora de John Williams chama atenção com os antológicos temas clássicos e novos inseridos, principalmente o de Rey. Mesmo sendo um apreciador dos filmes, e defensor do fato de que alguém que recém descobriu a saga pode ser tão fã quanto alguém de longa data, é inegável que aqueles que tiveram o privilégio de acompanhar seu lançamento, no longínquo ano de 1977, vão se deleitar mais com o Capítulo VII, justamente por estarem revendo, após mais de 3 décadas, esses antigos companheiros.
A nostalgia é presente de forma digna e não forçada.
Apesar de apresentar uma regularidade em seus mais de 120 minutos, não cansando o espectador, 2º e 3º atos apresentam algumas falhas que parecem bobas perante tamanho cuidado que tiveram para manter a fidelidade com tudo apresentado nos episódios IV, V e VI. Algumas situações apresentadas incomodam pelo excesso de conveniência e facilidade com que são executadas, justamente por que a trilogia antiga nos ensinou o contrário.

Leves Spoilers no seguinte parágrafo.


Han Solo sempre deixou claro a dificuldade de pilotar a Millenium, mas Ridley aprende de forma quase espontânea. Luke recebeu um treinamento intensivo e extenuante de Yoda para controlar bem a força e o manejo do sabre de luz, enquanto que a protagonista, mesmo sem demonstrar domínio, já denota uma intimidade aparente com a arma. Ambas as cenas geram momentos hilários e catárticos, mas que não fazem tanto sentido pela mitologia previamente desenvolvida. São pequenos erros que sim, prejudicam o resultado final, mas não o tira a qualificação de ser excelente.

Fim dos Spoilers.

Assim como de hábito nas séries em que se envolveu, Abrams ainda deixa várias perguntas em aberto, além de um final que beira a tortura pelo cliffhanger, mas que desde já instaura uma ansiedade e uma gostosa sensação de dever cumprido. Se o conteúdo em blockbusters têm sido cada vez mais escasso, Star Wars surge para mostrar a força do gênero e de seu nome. Atualiza a franquia e agrega ainda mais, quebrando a barreira de preconceitos que impera em Hollywood. Muitas sagas surgem, fazem seu sucesso e somem, assim como muitas outras ainda o irão fazer, mas poucas - talvez nenhuma -, possua tanto prestígio quanto a criada por Lucas.

Nota 9.

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A nível de curiosidade, eu colocaria minha ordem de preferência da saga assim: V > VI > VII > IV > III. Os episódios I e II estão no mesmo nível medíocre.

SW volta ano que vem com o spin off Rogue One, dirigido por Gareth Edwards(Godzilla) e com um elenco de respeito: Felicity Jones, Mads Mikkelsen, Donnie Yen, Forest Whitaker e Diego Luna são os principais nomes.

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