Crítica - Victor Frankenstein(2015).
Victor Frankenstein(Idem), dirigido por Paul McGuigan. |
Recentemente, floresceu em Hollywood um fascínio em contar histórias de origem e principalmente, inverter o gênero de personagens que outrora foram vilões. Ano passado, por exemplo, tivemos Malévola e Drácula: A História Nunca contada. Baseado nesse histórico atual, o anúncio da Fox de que faria sua versão para o surgimento do criador do monstro de Frankenstein, não foi surpreendente.
Apesar de utilizar o personagem do clássico livro de Mary Shelley, o filme passa longe de ser uma adaptação da obra, utilizando apenas de seu universo buscando explorar a personalidade do doutor. A película, se assumindo como blockbuster, não apenas modifica o gênero do original, convertendo-se em uma fita de ação, como busca desesperadamente se adequar a juventude atual.
O 1º ato do longa é deveras interessante e promissor. Somos apresentados ao personagem de Daniel Radcliffe(não presente nas páginas da escritora), um palhaço de circo aparentemente corcunda e que sofre humilhações desenfreadas em seu local de trabalho, mas se mostra um prodígio nas artes médicas. Ao convenientemente descobrir seus talentos, o estudante de medicina Victor Frankenstein(James McAvoy), libera o jovem e o leva para sua residência. Lá, o mesmo o nomeia Igor, e utilizando seu talento, apresenta seus ambiciosos planos de criar vida do nada.
A química entre Dan e James é automática e rapidamente somos envolvidos por sua história e curiosidade por saber mais sobre a obscura figura de Victor. Já Igor é o representante do público em cena: um novato que acaba de encontrar a liberdade e se mostra maravilhado com as criações de seus salvador. Vamos descobrindo as idiossincrasias e hábitos do criador juntamente com o assistente, e criando empatia com a dupla concomitantemente.
Victor é um homem instável, egocêntrico e arrogante, mas magnético. Seu desarrumado laboratório denota isso. Entretanto, mesmo com decisões questionáveis que toma, acabamos - inicialmente - torcendo pelo personagem. É apenas um apaixonado por aquilo que faz. Mérito da atuação charmosa e ardilosa de James McAvoy. Daniel Radcliffe, que tem enveredado por caminhos arriscados após deixar a cicatriz de lado, também é eficiente como Igor, tornando substancial e compreensível sua lealdade para com Frank(a intimidade permite). Em uma das raros momentos singelos da película, vemos o personagem de Radcliffe saindo ao mundo pela 1ª vez como um homem, não uma atrocidade, e o olhar de maravilhamento que transmite lembra muito - atenção nostálgicos - o de Harry Potter ao vislumbrar o estonteante Beco Diagonal, lá em Pedra Filosofal. O design de produção das ruas apertadas e turbulentas, inclusive, se assemelha muito. O ator também surpreende pela exigência física quando ainda está no circo, tornando crível algo que facilmente poderia parecer constrangedor.
Química entre McAvoy e Dan é o único atrativo do longa. |
As qualidades do longa, infelizmente, param por aí. Quando somos imersos pela atmosfera de algo de forma tão prematura, é difícil perdemos a meada, mas é exatamente o que o roteiro de Frankenstein acaba fazendo, num triste caso de auto-sabotagem.
Em sua obsessão por agradar o público jovem, o roteiro de Max Landis subestima o público, tornando 2º e 3º atos uma miríade de erros. Preterindo a exploração dos ideais e personalidade de seu protagonista pela ação, a fita tenta, em uma cena de 2 minutos, justificar suas ações em uma terrível conversa entre Victor e seu pai(Charles Dance), que surge e desaparece abruptamente. Sem intensidade ou sutileza alguma.
Diálogos e coadjuvantes são pontos fundamentais para a qualidade final de uma obra audiovisual, o que parece não ser conhecimento dos envolvidos aqui. Em outro "papo" absurdo, Victor e o inspetor Turpin(Andrew Scott, trocando Moriarty por uma versão rasa de Sherlock Holmes) divagam sobre religião pretensiosamente e sem propósito. É apenas embaraçante ver os argumentos utilizados por Turpin para crucificar Frank. O ator, aliás, realiza aqui um trabalho para esquecer. Seu inspetor é construído de forma vazia e maniqueista o tempo todo. Servindo apenas de alicerce para alavancar a moral dos protagonistas.
Lamentável também é ver como a bela e talentosa Jessica Brown Findlay é representada como uma simples dama frágil e irrelevante(em pleno 2015. Sério?). "Perdendo tempo com um romance inútil?" indaga Victor para Igor, em um momento do longa. Ironicamente, o romance entre os dois é isso mesmo: Insípido e sem valor algum para a trama.
Ainda em seu declínio derradeiro de qualidades, temos quaisquer debates sobre complexo de Deus ou outros temas que poderiam ser levantados pela temática preteridos por cenas de ação genéricas. O diretor Paul McGuigan não demonstra qualquer domínio e afinidade com o gênero. Não há catarse, emoção ou urgência. O clímax é outra decepção. A aparência de Frankenstein - o monstro - é insossa, comum e sem criatividade alguma. A aparição da criatura é previsível e sem destaque, fiel à película em que está inserida.
Victor Frankenstein é, ao final, uma aula de como não se fazer um filme, falhando como entretenimento e arte. Mais uma tentativa medíocre de criar algo decente da obra de Mary Shelley. Não acrescenta em nada para sua mitologia, quanto mais para o cinema. Um desperdício de tempo, talento e acima de tudo, de um excelente material original.
Nota 5.
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