Crítica - X-Men: Apocalipse (2016).

X-Men: Apocalipse/ X-Men: Apocalypse, dirigido por Bryan Singer.
Em um momento rápido e ágil no meio das mais de duras horas de Apocalipse, Sophie Turner/Jean Grey solta a seguinte frase: "pelo menos concordamos que a terceira parte é sempre a mais fraca". Ela se refere, claro, a maldição vista nos derradeiros capítulos de Homem-Aranha, Homem de Ferro, Batman de NolanBlade e entre tantos outros, como o próprio X-Men: O Confronto Final. O intuito de Bryan Singer com essa piada é incerto, mas dificilmente ele esperava ser tão sensato e auto-reflexivo quanto à qualidade do conteúdo de sua obra.

X-Men: Apocalipse passa longe de ser a bomba dos longas acima citados, tendo várias virtudes que o colocam acima inclusive de fitas 1 e 2 de outras franquias, mas como o debate envolve o encerrar de trilogias, as palavras de Jean não deixam de ser verdade. Pois este é, indubitavelmente, inferior a seus dois antecessores, inclusive com erros semelhantes aos que levaram o naufrágio de outros heróis, como o roteiro vago e preterido pela megalomaníaca busca pela tomada mais épica. É uma falha comum, mas que cineastas se mostram incapazes de superar.

O longa é estimulante em seu primeiro ato, onde somos apresentados a Apocalipse, antagonista da vez e que acordou após um longo período de hibernação com o objetivo de purificar a corrompida humanidade. É durante seus minutos iniciais que o roteiro entrega o que há de melhor no universo criado por Singer, com a discussão de temas humanitários como preconceito e tirania - na figura do vilão -, o florescer da juventude e a interação entre os personagens. Quando focado  no lado mais pessoal dos mutantes que obtém-se êxito - o mesmo que ocorre em Ultron, diga-se -, e é lamentável que esta abordagem mais intimista seja prontamente sobrepujada por excessos de CGI.

Antes da ação incessante tomar conta, vemos os novos personagens que fazem agora companhia ao elenco original, acompanhados por um clima mais jovial e moderno, com vários novos rostos em velhos personagens. Me refiro à supracitada Jean Grey de Sophie Turner, Tye Sheridan/Ciclope e Kodi Smit-McPhee/Noturno. Atribuindo que o público já está familiarizado com esses nomes, o filme não se dá o trabalho de desenvolvê-los profundamente, o que se mostra uma atitude acertada e contribuída pelo carisma dos atores, principalmente Turner, que mostra evolução em sua primeira grande chance fora Game of Thrones. Sua pouca idade gera um contraponto interessante com os mais experientes, o que também confere mais autoridade nas figuras de McAvoy e Lawrence, vistos como exemplos pela nova geração.
Novo Trio de Heróis se Sai Bem.
Se os novos egressos no time de mocinhos são um ponto positivo, o mesmo não se pode dizer dos antagonistas. O time liderado por Apocalipse/Oscar Isaac e que conta com os famosos Anjo e Tempestade, além de Psylocke, são meros coadjuvantes perante este, e em comparação com seu poder, acabam por soar inúteis e descartáveis, e devido a vagueza de sua composição, não há envolvimento emocional para que nos importemos com o destino dos mesmos. É natural que torçamos pelos heróis, mas a falha ao explorar o lado inimigo expõe as limitações do texto, já que o próprio Isaac, por mais talentoso que seja, não consegue parecer digno por baixo de princípios tão rasos e clichês quanto sua maquiagem é ridícula.

Essa irregularidade na história também está presente na mão de Singer. É nítido como tenta criar cenas enormes e que superem outras já filmadas pelo diretor, e por vezes até consegue, como no antológico momento de Quicksilver, que consegue a proeza de ser mais criativa e hilária do que a que vimos em Dia de um Futuro Esquecido, um feito ainda mais notável pelo fato de que naquela ocasião, era tudo novidade.

Entretanto, no que tange às batalhas superpoderosas, Brian escorrega frequentemente. Não apenas o uso de efeitos especiais é massante e artificial a ponto de ficar cansativo, como vários momentos são de resolução tão óbvia que qualquer tentativa de gerar tensão é apenas ilusória de seu realizador. Momentos como um embate estático entre os poderes, o resgate no último instante, alguém jogado contra uma parede. Você sabe como essas cenas vão terminar. E o maior problema é que todas elas concentram-se no terço final da película, o que diminui seu impacto. Inclusive o clímax pode soar anti-climático e acelerado demais para o espectador comum que não possui conhecimento da dimensão do poder da entidade fênix, o que é um problema visto sua relevância em acontecimentos capitais.

O material de divulgação também prejudica um dos momentos que certamente resultaria em vários murmúrios de surpresa nos cinemas caso fosse ocultada. Falo, é claro, de Wolverine. Em análise coerente, qualquer um assumiria que Jackman faria ao menos uma ponta, mas ter deixado o mistério no ar com certeza aumentaria a força da passagem.

Em suma, X-Men: Apocalipse é um bom filme e que garante divertimento, mas decepciona justamente pelo alto nível atingido por aqueles que vieram antes dele. É algo recorrente na sétima arte, e por isso mesmo, torna-se uma incógnita como profissionais da área continuam a cometer os mesmo equívocos para fortalecer o dogma que cerca finais de trilogia.

Nota: 7.

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