Crítica - Werewolf Boy(2012).

Song Joong-Ki Park Bo-Young
Werewolf Boy, dirigido por Jo Sung-Hee.
A criação do lobisomem tinha como alegoria original retratar o lado selvagem e violento que habita dentro de todo homem. Uma fera irracional e agressiva que dá forma a nossos demônios interiores. Ao longo dos anos, muitas versões surgiram ao redor do mundo, e é interessante notar como nesse melodrama coreano, há uma inversão de aspecto. O lucano, dessa vez vivido por Joong-Ki (do dorama fenômeno Descendants of the Sun), serve muito mais como mecanismo de defesa perante os abusos que sofreu durante seu crescimento, assim como a perniciosidade da sociedade quando tenta se adaptar a uma vida cotidiana. Aquele que era suposto a ser o mal, é muito mais uma vítima do verdadeiro vilão da realidade: o homem.

O filme tem um início no presente, quando Soon-Yi (Lee Young-Ran), que leva vida no exterior, recebe uma ligação de que sua antiga casa, na Coreia, foi deixada para si de herança. Então a senhora parte para sua terra natal, onde atualmente vive sua neta, para decidir o que fazer com a moradia, e ao se deparar com aquela que um dia lhe serviu de teto, começa a se lembrar do marcante período que passou no local.

É um prólogo que lembra muito o de Edward Mãos-de-Tesoura, com a avó a contar sua história para a netinha. A diferença aqui é que Soon-Yi não expõe seus pensamentos, guardando-os apenas para si. E assim como na película de Tim Burton, vemos um protagonista criado no completo isolamento que busca, através do amor, superar todo o preconceito surgido por suas origens e hábitos incomuns.
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Para quem não é familiarizado com romances juvenis adolescentes Orientais, vale dizer: são completamente diferentes dos Ocidentais. São escolas diferentes de cinema, ainda que retratem sentimentos semelhantes. O amor entre Soon-Yi e Chul-Soo começa da maneira clichê: a garota que despreza o comportamento do garoto e o trata, literalmente, como um animal. Porém, com o desenrolar da trama, essa relação inicialmente egoísta se intensifica de maneira inconsciente, como afinal, é a paixão.

E a forma como a afeição entre ambos é desenvolvida e demonstrada é o principal diferencial que destaca as produções deste gênero do Leste Asiático para as do nosso lado o Globo. É através da troca de olhares, muito mais do que palavras (o lobisomem, vale explanar, não sabe a linguagem humana), pequenos gestos aparentemente bobos mas que expõe uma ternura gigantesca. O zelo selvagem dele por ela, a preocupação dela para com Chul-Soo. Não é um romance forçado e expositivo. É gradual, singelo e pautável pela grande química entre os dois atores principais. É como se estivéssemos a conferir uma amizade que acaba por se revelar algo além.
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Neste aspecto, as atuações de Song Joong-Ki e Park Bo-Young são certeiras e pontuais. Estão em sintonia com a abordagem do diretor. Gloriosamente eficientes, mas sem se destacar demasiadamente, sendo que isso tiraria a atenção das cenas. Ambos parecem realmente apaixonados, e o ator merece nota especial pela dificuldade de sua composição, ao interpretar e tornar nítidos tantos sentimentos pelo olhar e postura corporal, sem proferir palavra alguma. Nem precisa disso, pois são emoções.

É claro que apesar dessa singeleza na composição do relacionamento entre os protagonistas, estamos falando de um melodrama. O objetivo é levar o público aos prantos. A trilha sonora composta por baladas e acordes suaves, a fotografia de pôr do sol que ilumina vários momentos trocados por Chul e Soon, como se encontrassem a felicidade em meio a tempos turbulentos apenas na visão daquele que amam. Um é a luz o outro.
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O mérito de Werewolf Boy é justamente ser conduzido de tal maneira que a simplicidade sobrepuja os excessos, e assim, até mesmo esses emocionam sem prejudicar o envolvimento do espectador, completamente imerso, como se presenciasse a história fisicamente.

O maior defeito do longa encontra-se quando troca o drama romântico pela ação, na figura de Chul-Soo transformado, quando os limites do orçamento ficam claramente visíveis. O diretor Jo Sung-Hee parece não notar que a criatura parece muito mais com um Jimmy Hendrix campestre do que a temível lenda do homem que vira lobo na lua cheia. Pelo contrário, parece orgulhar-se do trabalho e exibe a criatura em tela sem timidez alguma. São cenas relevantes e que perdem força pela inveracidade da maquiagem empregada.

É irônico também que são essas passagens que envolvem outro equívoco do roteiro: o maniqueismo de Ji-Tae. Um vilão vago e criado para ser prontamente desprezado, sem complexidade ou ambiguidade alguma, com serventia de ser apenas pilar para o fortalecimento do casal principal. Pequenos deslizes, mas imaturos e dissonantes do restante da obra.

Não é algo que destrua a experiência, pois Werewolf Boy é digno de ser conferido com méritos e deveras feliz em sua temática, mas estas falhas podem afastar os mais céticos e manter as ressalvas  Ocidentais com o cinema melodramático sul-coreano.

Nota: 8.

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