Crítica - Como Eu Era Antes de Você (2016).
Como Eu Era Antes de Você/ Me Before You, dirigido por Thea Sharrock. |
Há uma divertida piada na internet que brinca com o fato de que toda produção britânica conta com pelo menos um ator de Game of Thrones, Doctor Who ou Harry Potter. Como Eu Era Antes de Você vai além e traz em seu elenco nomes que participaram de todas as obras supracitadas. Há Jenna Coleman, última companion do Doctor, Matthew Lewis, o Neville da saga de Potter, Charles Dance, o Tywin de Game of Thrones, e também do seriado, temos Emilia Clarke, a Khaleesi e que aqui interpreta uma persona consideravelmente diferente. Juntamente à turma, temos Sam Caflin, de Jogos Vorazes. Não é difícil adivinhar, então, que os personagens são justamente o ponto forte película, transformando um roteiro clichê em uma história funcional e envolvente.
Baseado na obra homônima de Jojo Moyes, que também assina o roteiro, a trama acompanha o bem-sucedido, confiante e radical Will Traynor/Caflin, que torna-se alguém amargurado e cínico após um acidente que o deixou tetraplégico, e como a humilde Lou Clark/Emilia Clarke, necessitada de uma fonte de renda para auxiliar sua família, assume o emprego para cuidar Will, mesmo sem experiência no ramo.
Ainda que você não tenha visto o trailer ou saiba detalhe algum da história, não é difícil imaginar que ambos, após um início complicado, irão entramar-se em um romance, assim como várias situações em que os dois passarão. Com um pouco mais de bagagem, é possível até mesmo presumir o término do longa - e são apenas dois possíveis, afinal. É o ponto negativo da época em que vivemos, onde o gênero e vários de seus artifícios encontram-se saturados pelo excesso em que já os vimos em outras obras. Porém, mesmo que seu desenrolar seja um emaranhado de fatos conhecidos, o que é capaz de destacar romances melodramáticos é a empatia do elenco e sua eficiência em nos transportar para o universo do longa, um resultado atingido com êxito no conto de Clark e Traynor.
Em uma rápida introdução, somos apresentados a Will ainda sadio. Um homem elegante, charmoso, seguro de si, enérgico e muito satisfeito com sua vida. Um contraste completo com o caráter arrogante, sarcástico e azedo que apresenta após o acidente. Não é originalidade nenhuma de Sam representar o protagonista como alguém sem esperanças, irônico e insensível, mas não podemos culpar o homem, já que perdeu basicamente tudo o que mais prezava e se vê confinado e impotente. O design de produção e a direção deixam bem claro o estado de espírito de Traynor, filmado em seu confinamento escuro e limitado, cercado por um castelo em ruínas e monocromático em cinza. Sem vida alguma.
O ator, aliás, acerta no tom ao mesclar amargura com charme e muito carisma, evitando assim com que certas grosserias e nostalgias esnobes - ai, que saudades tenho de Paris - o tornem antipático.
Já Lou é o extremo oposto, já que eles sempre atraem-se. Calorosa, barulhenta, simples e usuária de vestuário vívido e extravagante. Seus arredores são sempre preenchidos de cores fortes e iluminadas, inclusive sua casa é apertada e sempre abarrotada de pessoas, de vitalidade. É natural, então, que se sinta intimidada e desconfortável ao chegar na residência dos Traynor. Um local enorme, mas vazio, com cores opacas e um silêncio angustiante. Clarke encarna a esforçada Clark com um overacting deliberado - e suas sobrancelhas são um show à parte, mais expressivas que todo o cast de Batman x Superman junto - que pode soar estranho em primeira impressão, mas condizente com o figurino e caráter fulgurante da mesma.
Tão parecidos quanto Transformers e qualidade. |
Sua boa índole é tamanha que enfrenta passivamente o machismo e egoísmo de seu namorado (reparem no momento em que ele faz uma piada sobre como se recusa a deixar uma garota ficar em cima durante o sexo), Patrick vivido por Matthew Lewis, com boa presença de tela, mas sem texto para desenvolver além, servindo apenas de estepe para posicionar imediatamente a preferência do público para Will.
O início da relação é frio, mas como toda boa fábula romântica, com o passar do tempo, ela torna-se tão quente e brilhante quanto a fotografia de Remi Adefarasin. É algo esperado, mas cativante e imersivo pela facilidade com que compramos o drama da dupla principal. A atmosfera criada é leve e agradável, pontuada por boas inserções musicais, principalmente na voz de Ed Sheeran. Por mais ranzinza e crítico que seja, fica difícil não soltar sorrisos frequentes durante a sessão, seja pelos momentos de humor ou pelas trocas de ternura entre Will e Lou.
O objetivo de qualquer um que vá ao cinema é satisfazer-se, e isso Como Eu Era Antes de Você certamente proporciona. Uma experiência honesta e abordada competentemente, sem se abalar pelo tema repetitivo. O espectador pode não sair da sala com um QI elevado, mas é improvável deixar o recinto sem estar ao menos um pouco....feliz.
Nota: 7.
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