Crítica - Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016).

Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos/ Warcraft: The Beginning, dirigido por Duncan Jones.
No prólogo de Warcraft, antes do letreiro que dá título à película, somos apresentados a uma cena de ternura e intimidade entre...Orcs. É uma maneira basicamente inédita de ver essas criaturas sempre retratadas de maneira atroz como vilões unidimensionais, imagem catapultado pelo fenômeno O Senhor dos Anéis. Essa mudança de perspectiva não maniqueista pode não ser a única do longa, pois apesar de pequenos erros ao longo da narrativa, dá uma boa guinada em adaptações de jogos, tão porcamente utilizados pela sétima arte até aqui com amostas como Resident Evil, Super Mario Bros, Street Fighter, Príncipe da Pérsia e um que me dá arrepios de lembrar - no pior sentido possível -, Alone in the Dark

Adaptação do primeiro jogo da franquia homônima, Warcraft: Orcs & Humans, originado pela Blizzard em 1994, a trama acompanha a história de como os Orcs, liderados por Gul'dan, único usuário de magia entre a espécie, invadem Azeroth, onde habitam raças como elfos, anões e especialmente, humanos. Liderados pelo rei Llane (Dominic Cooper, o pai de Tony Stark no Marvel Universe) e o comandante Lothar (Travis Fimmel, o Ragnar de Vikings), estes devem proteger seu reino.

Do ponto de vista estético, é um êxito. Um dos principais desafios de épicos em escala gigantesca, é a criação de seu universo. Este deve ser inventivo, criativo e atraente o suficiente para cativar o público e provocar a imersão necessária para tolerarmos a fantasia, por mais absurda que esta seja. Pode dar certo, como o já mencionado Senhor dos Anéis e Nárnia, como também comprometer ainda mais fitas já cambaleantes, tais quais Eragon e Divergente. Felizmente, se Warcraft possui problemas, um destes não é o design de produção de Gavin Bocquet. Aliado ao oneroso orçamento, as paisagens, a despeito de ainda não possuírem identidade própria, são belas, detalhadas e com construções muito discerníveis entre os povos retratados.
Travis Fimmel com Paula Patton.
Quem também deve se divertir em projetos assim são os figurinistas. Cargo exercido aqui por Mayes C. Rubeo, que pôde soltar sua mente com adereços deliberadamente exagerados e estilizados, fazendo jus aos do game. O mesmo podemos dizer dos efeitos especiais, o que talvez seja redundante com $160 milhões disponíveis para sua execução, mas as criaturas exibidas são conspícuas, como o hipogrifo, lobos de dar inveja aos de Game of Thrones, e é claro, os fabulosos Orcs, com auxílio da tecnologia de captura de movimento, imponentes, únicos e tremendamente expressivos, tanto no rosto, quanto nas vestimentas e cicatrizes de guerra.

O maior defeito do conjunto está justamente no roteiro a quatro mãos pelo diretor Duncan Jones e Charles Leavitt. Se merece palmas por humanizar os até então vilanescos Orcs, os abordando como seres racionais, com sentimentos e até código de honra, a plot simples derrapa por cair frequentemente em twists previsíveis e uma constante pressa na resoluções de conflitos, como o vago e antipático romance esboçado entre dois personagens centrais.

Os personagens, aliás, são solenemente sacrificados pelo vislumbre técnico. Os atores com mais carisma, Ben Foster e seu guardião e Paula Patton/Garota, atraem algum empatia para si, vide Travis Fimmel, mas o resto é amplamente descartável, não passando de um aglomerado de figuras insossas. Uma falha comprometedora no que tange a relação de Lothar com seu filho, cujo apresenta uma relevância acima de sua simpatia, e logo, fica difícil nos importamos e concordarmos com as ações que um acontecimento protagonizado por si provocam.
Orcs finalmente ganham alguma profundidade.
O promissor Duncan Jones, uma das esperanças do novo cinema sci-fi (diretor dos excelentes Lunar e Contra o Tempo), tem seu mérito, mas expõe uma irregularidade e insegurança não vistos em sua filmografia anterior, talvez pela diferença de escala. Se nos dois primeiros atos é contido e inteligente na movimentação de câmera, hábil em filmar combates nítidos e brutais e mesclar a beleza do cenário com interesse narrativo, no terceiro cai no buraco que assola tanto os blockbusters atuais: a megalomania. Efeitos demais, lutas em excesso com uma montagem trôpega e desesperada para mostrar o máximo possível do gigantesco embate, sem se dar conta que assim só soa confuso e sabota a intensidade do momento. 

Essa inquietação por cenas de ação deve visar prender àqueles não familiarizados com a franquia, e por isso, que não têm seu retorno garantido, mas o efeito é justamente o contrário. Compromete o resultado. Seria mais benéfico ter dedicado uma porção deste tempo nos habitantes do universo, responsáveis por guiar o espectador no andamento da carruagem e de imprescindível importância para gerar envolvimento. 

Terminar o filme com uma fraca luta justo no clímax só não causa um estrago maior pela qualidade da trilha sonora de Ramin Djawadi (Game of Thrones e o inesquecível tema de Pacific Rim) que se firma como um dos melhores compositores do gênero na atualidade, com uma trilha perfeitamente assimilada ao que se vê em tela. A música amplia a imagem, e o cinema é audiovisual, afinal de contas.

Com defeitos e acertos, a sensação final de Warcraft é de diversão satisfatória e alívio para o respiro que fornece tanto no combalido nicho de fantasia, em baixa ultimamente, quanto para as vindouras adaptações de jogos - Assassin's Cree vem aí. Com um gancho à lá Sociedade do Anel, só podemos esperar que a bilheteria seja generosa o suficiente para adentrarmos novamente na criação da Blizzard, pois como diz o nome original, este é apenas o começo.

Nota: 7.

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