Crítica - Procurando Dory (2016).

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Procurando Dory/ Finding Dory, dirigido por Andrew Stanton e co-dirigido por Angus Maclane.
A regularidade da Pixar é inexiste quando falamos de sequências. Há as ótimas (Toy Story 2 e 3), o regular Universidade Monstros, e Carros 2, apontado unanimemente como o pior espécime do estúdio. Onde entra Procurando Dory nisso aí? É com pesar no coração que afirmo, tamanha a significância que o clássico original representa em minha maturação - tinha 7 anos à época - mas a continuação da história de Andrew Staton, apesar de competente, ostenta uma série de reveses que o mantém alguns degraus abaixo do memorável precursor, assim como fora com o prequel de Sullivan e Wazowski.

Ainda que detenha o privilégio da nostalgia para encantar o público que acompanhou a épica jornada por Nemo, 13 anos atrás, o objetivo de Procurando Dory é nitidamente encantar uma nova geração de telespectadores, e é através dos artifícios utilizados pra se adequar à realidade atual que o filme se sabota, assemelhando-se muito mais às comédias da Dreamworks do que os ricos - em conteúdo - parceiros do estúdio.

A trama é reciclada, envolvendo novamente uma aventura em busca de familiares queridos, dessa vez os pais de Dory, a desmemoriada Cirurgião-patela, que recebe pequenas reminiscências de seu passado em conversas com os amigos do presente, e atiçada por estes estímulos, embarca, juntamente de Marlin e Nemo, na saga por suas origens.

Reutilizar o conceito não é o maior defeito de Dory, mas sim a maneira como esta é feita. Se no original, a história se desenrolava leve e organicamente, com o percurso  introduzindo naturalmente pitadas de humor, drama e metáforas sobre assuntos que vão de família e amizade até deficiência, aqui esses temas e a condução do caminho soam forçadas e abruptas. É o mal da nova era, onde a competição para atrair os pequenos é deveras maior, com games e o fácil acesso a mídias de entretenimento ampliadas ao máximo. Assim, os métodos para chamar atenção abusam de cores efervescentes, um ritmo frenético e acelerado e piadas que atropelam outras piadas, sem dar tempo para o telespectador refletir ou deglutir a informação propriamente. Nesses termos, procurando Dory se aproxima muito mais do estilo narrativo de Meu Malvado Favorito e Big Hero 6, com um universo megalomaníaco e irrequieto, como se a cada quadro tivesse a obrigação de oferecer alguma gag visual.
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É compreensível que John Lasseter (chefe criativo de animação na Disney) e Stanton tentem revitalizar o público, já visando possíveis sequências, talvez, mas a afobação por ser aceito pelas novas crianças falha em atingir a sutileza e humanidade de Nemo. E é curioso que tenham caído em tal erro, visto que os recentes Divertida Mente, Zootopia Frozen foram bem sucedidos ao mesclar uma narrativa universal com a famosa "mágica" da casa do Mickey.

Pois Dory, se não fossem os velhos e conhecidos personagens, jamais poderia ser relacionado ao universo do original. Não apenas pela modernidade visual e o refinamento técnico, mas pelo humor, que aqui envereda para um caminho mais físico e infantil - e aí a semelhança com Meu Malvado Favorito e as bobeiras dos Minions. É engraçado, claro, mas não é a essência da Pixar, muito menos do roteiro inteligente e atrevido de seu antecessor. É igualmente dissonante da filmografia de Stanton, que também comandou Wall-E e segue mais a escola Nemo - Toy Story - Up de contar fábulas. A impressão que fica é que o diretor (que teve auxílio de Angus Maclane, do curta Toy Story de Terror e deve assumir um projeto solo logo), talvez numa crise de insegurança pelo homérico fracasso comercial de seu esforço anterior, John Carter, tenha subestimado o próprio talento para forçar o agrado e provar que ainda consegue gerar lucro.

O velho espírito Pixar e o saudoso Stanton ainda estão pontualmente presentes, como em algumas sacadas hilárias - prestem atenção para o leão-marinho chamado Geraldo - e um esmero técnico de indiscutível discernimento Pixarianorapidamente incorporados à narrativa, vide quando Dory bota sua memória pra funcionar e o cenário lembra uma viagem temporal, sem contar os carismáticos habitantes da Califórnia, onde se passa maior parte da ação. Já os cliffhangers levarão os mais fanáticos a se contorcerem em regozijo (mas apesar do diretor já ter afirmado que podemos ver o carro do Pizza Planet durante o longa, não consegui localizá-lo).
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Uma pena que estes pequenos momentos durem pouco para logo a seguir serem soterrados por mais equívocos contemporâneos. Ainda que a intenção seja boa na mensagem a ser passado para os infantes, é imperdoável que para atingir estes meios sejam cometidos verdadeiros tombos artísticos, como quando a protagonista reencontra peixes queridos do passado para, de forma anticlimática ao extremo, ter este reencontro filmado com a intensidade de quem não sentiu saudade alguma. A pressa para evitar alguma barriga extra em sua duração faz o contrário, pois deixa a mensagem almejada rasa, sem desenvolvimento.

Alguns acertos pontuais e a forte nostalgia podem ser incríveis para o meu eu exclusivamente cinéfilo, que se senta nas escuras - infelizmente cada vez mais claras - salas de cinema em busca de diversão. Entretanto, meu lado crítico não pôde negar a frustração ao deixar o ambiente, conforme os créditos subiam no telão. O sucesso de bilheteria já está garantido, e é de se imaginar que em breve voltaremos para o oceano mais lucrativo da sétima arte, e caso ocorra, passados 10 ou 5 anos, estarei lá, na estreia. Só espero que então, a sensação final seja mais proveitosa.

Nota 7.

Obs 1: a dublagem está ótima. O dublador de Nemo é diferente por motivos hormonais, assim como no idioma original, o que pode incomodar quem viu a fita dezenas de vezes, mas logo o estranhamento passa conforme nos adaptamos e divertimos com os demais personagens.

Obs 2: esperem o término dos créditos. Fãs de longa data com certeza abrirão largos sorrisos com o fanservice após o letreiro.

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