Minhas 10 Canções Disney Favoritas

Eu sou uma pessoa muito nostálgica. Muito. Até aqui, a vida adulta me trouxe suplícios e caminhos que me desgastaram e tiraram muito do sabor do que é acordar diariamente. Assim, a infância surge com um refúgio caloroso de lembranças saudosas e melancólicas do que nunca mais voltará, em busca de um sentimento similar a um abraço bem dado após uma crise de choro.

Neste período em questão, como milhões de outras crianças, fui marcado por filmes da Disney. Nasci no meio dos anos 90, e consequentemente, cresci em meio à segunda época de ouro da empresa, em que após décadas de entressafra após a morte de Walt, o estúdio de animação beirou a falência e só se recuperou com a chegada de Michael Eisner e outras mudanças criativas na revolução interna dos anos 80.



Conforme atravessava meus primeiros invernos, a companhia do Mickey produzia clássicos em ritmo industrial. Da chegada de A Pequena Sereia a Tarzan, 10 anos se passaram, e dentro deles, pérolas como O Rei Leão, Mulan, Aladdin e A Bela e a Fera abrilhantaram e deram magia na passagem por terra deste que vos escreve. Além deles, é claro, o catálogo anterior da empresa recebia relançamentos comemorativos e, com sua atemporalidade, também estiveram muito presentes em minha maturação - como Mogli, O Cão e a Raposa e Aristogatas.

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Tudo isto me moldou. Meus gostos, minha personalidade e o porto seguro que as lembranças fornecem. E juntamente a seus personagens e tramas icônicas, uma característica elementar e crucial ao sucesso das animações, estava em suas trilhas sonoras, idílicas e fantasiosas, comprometidas, sempre, com a imersão e beleza para com o público. Assim, surgiram tantas canções universais e cujas melodias transcendem idiomas, com letras gravadas impiedosamente na memória de quem teve o privilégio de conferir as fitas precocemente.

E o intuito deste post, então, é ranquear as minhas dez músicas favoritas da Disney. Naturalmente, grande parte dela é composta, então, por filmes que conferi pela primeira vez quando criança, por mais que hoje siga fiel e adorador da Disney Animation Studios e suas propostas fantásticas e criativas. E, novamente, são minhas prediletas. Frutos de minhas experiências. Lembre-se disto.

10. Enrolados - I See The Light

A mais contemporânea a marcar presença na lista, I See The Light é o hino principal do conto de fadas que deu início à nova fase da empresa do rato orelhudo, o marco primário de um período dourado com continuidade ainda hoje, de esmero técnico e narrativo que a fez inclusive sobrepujar o selo Pixar na década hodierna.

I See The Light, exclusivamente em seu idioma original, cantada pela suave voz de Mandy Morre, não é grudenta como muitas que estarão à frente, mas é encantadora, honesta e visualmente deslumbrante, num dos clipes diegéticos mais lindos na história do estúdio.

09. Lilo & Stitch - Hawaiian Holler Coaster Ride

Lilo & Stitch é um dos longas mais subestimados da Disney, tradicionalmente ignorado nos panteões favoritos da galera que se submete a fazer tal esforço. A história do pequeno alien que encontrou e forneceu abrigo à pequena menina polinésica surgiu em anos conturbados e decadentes da Disney, em que esta apostava mais em sequências pobres de seus clássicos e ainda tropeçava na transição tecnológica do 2D ao 3D. O interesse do público estava com as criaturas tridimensionais e a premissa era um tanto quanto heterodoxa.

Entretanto, se nunca encontrou o sucesso merecido, deve sempre ser recordado como uma dos mais tenras, sensíveis e culturalmente interessantes jornadas da produtora, mesmo que tenha sofrido por fadiga em sua imagem pelas numerosas e insossas continuações.

E um de seus melhores momentos está na ingênua cena em que Lilo, sua irmã, Stitch e David encontram serenidade e paz enquanto surfam ondas havaianas, para espanto do experimento 626, cercado de água, ao som da étnica e relaxante faixa.

08. Irmão Urso - Espíritos Ancestrais/Great Spirits

Irmão Urso não se tornou inseparável em meu amadurecimento, destas películas que faço questão de conferir com frequência. Porém, dele guardo uma recordação um tanto quanto especial.

Eu havia acabado de me mudar a uma nova cidade, tinha 7 anos, pela primeira vez em um local com cinema, ainda de bairro, antigo, e em cartaz na única sala disponível, estava Brother Bear. Quem me levou foi meu pai, o que hoje encarece a raridade da lembrança, visto que algo semelhante se repetiu pouquíssimas vezes posteriormente.

Se não era tão crítico quanto hoje, o conto de redenção de Kennai nunca perderá o respeito, com Great Spirits sendo o carro chefe de forma bilíngue; no original, por Phil Collins, que ainda aparecerá neste ranking, e Cidalia Castro no idioma nacional.

07. Tarzan - Dois Mundos/Two Worlds

Entre tantos, os dois filmes que mais marcaram minha infância foram Rei Leão e Tarzan. Nunca terei noção do quanto os assisti, mas apostaria ter sido mais de cem vezes cada (Lion King até 200), já somando com os tempos de barba. Apesar de não ter um amor tão inexorável e esmagador pela aventura do europeu criado por gorilas quanto do Hamlet felino, sei de cor basicamente todas suas falas e, é claro, canções, cantadas em inglês pelo brilhante Phil Collins (de novo ele) e aqui, numa adaptação digna e discutivelmente até melhor, no trabalho mais inspirado da carreira de Ed Motta.

06. Mulan - Reflexo/Reflection

Quando criança eu, um guri agitado, nunca prestei a devida atenção em Reflection e todo o arco emocional por qual Mulan passava. Era ignorância e inocência. O peso que o envelhecer traz a ela, no entanto, prevalece na avaliação do quão valioso é a existência de Mulan, a empreitada asiática da Disney nesta verdadeira volta ao mundo que deram na década de 90.

Taciturna, reveladora e angustiante, com fragmentos étnicos chineses em seu arranjo, também foi honrosamente traduzida para nossa língua, enquanto Christina Aguilera comanda a versão anglófona.

05. Aladdin - Um Mundo Ideal/A Whole New World

Agora uma verdade: eu gosto de Aladdin, mas longe de ter uma ligação especial consigo, nada perto do culto que vejo de muitas pessoas da mesma geração, que o tem como um dos favoritos. Acho bacana, muito significativo por permitir à Disney ousar em explorar outras culturas em vindouras animações, após mostrar que o público está aberto ao novo (desde que seja bem contado, é claro).

O que não se desdenha nunca, a despeito de divergências em predileção, é a beleza romântica e refrescante de Um Mundo Ideal, quando os protagonistas desbravam a noite, cortando o vendo com o tapete, e expressam seus sonhos, até o ponto em que estes convergem um ao outro. Foi, também, o primeiro Nº 1 da Disney na Billboard Hot 100. Histórico.

04. Tarzan - Estranhos Como Eu/Strangers Like Me

Tarzan é um álbum musical estupendo, como supracitado, tanto nas cordas vocais de Ed Motta quanto de Phill Collins. E a mim, a melhor é a que acompanha a jornada de autodescoberta do homem-gorila, enquanto aprende sobre os hábitos de seus semelhantes, uma tática ágil, fluida e prazerosa de se transformar a perspectiva do personagem e o tempo da narrativa (como Hakuna Matata e Homem Ser). Insiro a nacional pois é mais marcante a mim e valoriza o produto caseiro.

O poder de uma boa melodia, aliás, supera as paredes erigidas pela Torre de Babel. Uma prova é a versão castelhana (cantada pelo próprio Collins) desta música, outro hino e que com certeza marcou a infância de quem cresceu com ela. 

03. Mulan - Homem Ser

Ponto exclusivo à dublagem, que tornou essa transição de perseverança no que poderia ser uma letra anacrônica do arquétipo macho alfa em uma evolução catártica e rápida de uma mulher que conquista e atinge todos os feitos negados à sua classe.

E ainda que se considere o simbolismo do processo, é uma insert song extremamente divertida e contagiante, de cortes rápidos, engraçados e crescentemente poderosos.

02. O Rei Leão - Se Preparem

A mais icônica e emblemática "villain song" do estúdio, ainda acima de Jafar e Gaston. Se Preparem é de uma iconoclastia de alusão nazista obscura e tenebrosa, ambiciosa e de aparência venenosa, mas ainda assim magnética pelo timbre gutural e roufenho tanto de Jeremy Irons quando de Jorgeh Ramos, que deu toda uma personalidade ao leão maligno e seu séquito militar carnicento.

Categórica em como incorpora os traços psicológicos perniciosos e acintosos de Scar, o tornando um astro da perfídia e da doutrinação alienada de massas, basicamente um estudo antropológico extremamente lúdico.

01.5. O Rei Leão - Can You Feel The Love Tonight

Surprise!

A extra que antecede a ponta do pódio é também de Rei Leão, que caso não saiba, é meu filme favorito de todos os tempos, o mais marcante, que mais me provoca emoções e mais me atiça memórias. Minha Julieta cinematográfica.

Assim como Reflection, não dava muita bola a Can You Feel The Love Tonight no começo, por motivos semelhantes. Não estava interessado em romance, e sim nas brincadeiras e batalhas. O tempo lhe trouxe reconhecimento, até acima das concorrentes.

Seja na voz de Elton John ou dos dubladores, a balada apaixonante entrelaça e solidifica bem os sentimentos de Nala e Simba, mesmo após tantos anos separados, já sendo suficiente para suscitar o amor galopante que sentem mutuamente, cintilando ansiedade de dizer tudo que querem, e até por isso, incapazes de articular. John, então, dá a voz aos sentimentos felinos, e assim, criou, junto a Tim Rice, um vencedor do Oscar e de seus maiores hits.

01. O Rei Leão 2 - Deixar Brotar/He Lives in You

E surpreendentemente até a mim, enquanto organizava as posições, a liderança fica com uma introdução de um filme do Rei Leão, mas não a grandiosa Circle of Life (que venero), e sim a orquestra que abre a continuação, O Reino de Simba.

Apesar de lançada diretamente em VHS, Rei Leão II destoa de outras sequências destinadas ao home video, como as de Mulan, Cinderela, A Pequena Sereia e Aladdin. Principalmente na trilha sonora, que seria candidata forte ao Oscar caso a fita tivesse seu lançamento garantido na tela grande.

Deixar Brotar e He Lives in You abrem a cortina para a nova aventura de Simba com um peso que é o amadurecimento do rei e o nascimento de sua filha, Kiara, sob a sombra do peso do passado, mas com um crescendo épico que afirma bem sua posição e imponência, carregada pelo coro por trás do pulso forte de Lebo M, que engloba a melodia numa miríade gigantesca de impressões, da tristeza à sabedora, do vigor à energia.

Tanto se destacou, que ganhou espaço no musical da Broadway.

 E Frozen? Adoro o filme. Amo, na verdade, mas a nostalgia fornece vantagens insuperáveis. 

E é isso. O que achou da lista? E quais são suas favoritas? Deixe as impressões nos comentários.