O Predador (2018) - Crítica


É interessante notar os paralelos das franquias Alien, Predador e Jurassic Park. A relação entre as duas primeiras é mais óbvia, visto que até dividiram o universo em duas fitas fracassadas. Já inserindo no cotejo a saga iniciada por Spielberg, entra-se em questão não apenas a reprodução de longas que se passam num mundo real, como também acometidos de criaturas fantásticas, fascinantes, mas potencialmente danosas. Outro aspecto similar se dá no grande impacto cultural que as fitas inaugurais de suas marcas tiveram, tanto que, passadas décadas, ainda temos seus efeitos primordiais permitindo revisitas utilizando de seu nome para, sugestivamente, contar novas histórias.

Há ainda um terceiro elemento que os une, este menos fortuito: todos receberam, após algum interlúdio de salutar da imagem,repetidas tentativas de potencializar o alcance a novas gerações, ao mesmo tempo em que contam com o valor histórico que atravessou os anos, adornado da imensurável nostalgia dos adeptos antigos - ou puristas. Para tremendo espanto destes, no entanto, todos, considerando aí Jurassic World e o conto iniciado com Prometheus, apenas naufragaram títulos que na verdade pouco ou nada justificaram sua existência como produtos expandidos, apoiados quase que unicamente pelo passado. E é neste panorama que, um pouco atrasado, O Predador se junta novamente ao time.

Desta vez comandada por Shane Black, a cena inicial da produção oferece pistas de uma dimensão que já destoa de quem imaginava um retorno às origens do survival clássico estrelado por Schwarzenegger, conforme vemos uma perseguição espacial que rapidamente explica o cartaz principal, que mostra o próprio alienígena como alvo da visão de calor da espécie, um contraste ao original, que exibia o personagem de Arnold nesta situação.


É claro que a subversão de um conceito já reciclado inúmeras vezes na indústria não é exatamente uma crítica justa. A escolha de Black, inclusive, demonstra a tentativa da Fox em renovar a franquia, desbotada após os supracitados confrontos contra o Alien, Predadores e, bem, tudo saído após a aventura de 87. Curiosamente - e com coragem -, a película atrai justamente por não rebootar o mundo mostrado até então, mas sim tentar expandi-lo, sendo uma continuação do que vimos anteriormente - oferecendo assim uma chance de redenção.

Cineasta de estilo despojado, Shane encorpora rapidamente suas características sarcásticas e canastronas na narrativa, tornando o protagonista vivido por Boyd Holbrook - Quinn McKenna - uma extensão circunstancial e um amálgama do que vimos em várias figuras de seus filmes - da arrogância de Tony Stark à confiança imperturbável Holland March, independente do cenário em que está. A verdade é que McKenna é tanto um caçador brutal e ardil quanto o extraterrestre que nomeia a obra; um atirador de elite que demonstra mais tristeza em errar o alvo do que em perder todo seu esquadrão.

O conceito de morte de McKenna, aliás, não deixa de espelhar o próprio projetado pelo roteiro de Black, que aqui demonstra um abraço ao clichê completamente oposto à inovação planejada. Como uma ação genérica e incompreensível destas estreladas por nomes como Steven Seagal e Bruce Willis, com exceção do protagonista e quem quer que seja importante a si, o restante se torna gado, sacos de sangue feitos para agradar um público ávido por censuras mais altas sem perceber devidamente o vazio desta construção. Sem se importar com seu destino, o envolvimento é parco ou nulo.


Se um elogio pode ser feito a Prometheus, é que este ao menos aprofunda algo além do consolidado previamente, mesmo que falhe consideravelmente na execução. Pois de O Predador, nem isto é dito, contradizendo a premissa. Consequentemente, se aproxima muito mais de Jurassic World, que utiliza de artifícios engessados para colar com cola bastão um papel de bala escrito "maior e melhor" na testa, nesta crença patética dos estúdios de que para superar algo bom, se deve entregar algo cada vez maior, mais explosivo e recheado de ação, um buraco que já está lotado de exemplos destrutivos.

Mirando no referendado Predador de 1987, tudo que se alcança aqui é um misto do catastrófico Alien Vs. Predador 2, com sua fotografia escurecida a ponto de nos impedir a vista, com o pior do cinema de ação contemporâneo, com seus cortes rápidos infinitos e uma câmera tremida e frenética que busca causar urgência e inquietação, mas alcança somente confusão e irritação, numa colagem de planos que se perdem no desinteresse tão grande do público quanto na vida dos que se aglomeram inertes em tela.

Ao final, não resta nada. As figuras humanas são unidimensionais demais, e a própria fera perdeu seu carisma, até por culpa da banalização sofrida e o impressionismo cético após tantos anos de exposição a monstruosidades apocalípticas.

Chegou a hora de deixar o Predador desistir da presa. 

Nota 5.

Nenhum comentário