O Lado Mágico da Realidade
Existe um ditado famoso mais ou menos assim: "Meça o sucesso de alguém não pela quantidade de fãs, mas pelo número de odiadores". Eu não lembro as palavras exatas, mas a ideia é essa. E ninguém no mundo do futebol, eu diria, engloba isso melhor que Leo. Se pegar os outros dois grandes jogadores da atualidade, Neymar e Ronaldo, você entende os motivos de muitos não gostarem deles. A personalidade mimada, alienada e a fama cai-cai do brasileiro, e o egocentrismo marrento do luso. Messi, não sei. Só se alguém o desprezar pela sonegação de impostos. Como pessoa e jogador de futebol, além disso, não compreendo. Sendo o futebol um esporte, um gatilho de entretenimento, emoção, diversão e magia, ninguém chegou perto do argentino nestes últimos quatorze em extrair e provocar o máximo de seu potencial nos campos mundo afora. Nem na metade do que Messi produziu. E ainda assim, ele sofre um hate imensurável. Hate se erra pênaltis e se os marca. Hate se demonstra vontade de sair do clube. Hate se decide ficar, por ser "acomodado" e "cagão". Chegamos num ponto em que, pela falta de motivos, começaram a criar teorias da conspiração, e infelizmente muitos passaram a acreditar veementemente nisto: "Messi demite treinador", "Messi escolhe quem joga", "Messi expulsa presidente". Não importam os fatos, mas sim a narrativa. Em pleno século XXI, as pessoas ainda acreditam no que querem e não no que é exibido e gravado.
Essa semana, especialmente, o hermano sofreu hate por um recorte de vídeo em que assiste, passivamente, um jogador rival passar por ele sem oferecer resistência. Pronto. Circulou o mundo, completamente fora de contexto, até Koeman ter de comentar. Não importa a realidade, que faltavam 10 segundos pro fim da partida e que o luxo tático de Messi é completamente justificável pelo quão sobrecarregado ele é no setor ofensivo de campo, responsável diretamente por quase toda a criação e finalizações do time desde a saída de Neymar e o ocaso de Iniesta. Importa a narrativa de que ele é preguiçoso, está desanimado, pouco esforçado...
Talvez, o odeiem por ser bom demais sem precisar chamar mídia para isso. Sem precisar de uma mãe dizendo que sofre preconceito por nacionalidade ou tentar forçar uma afirmação grandiloquente corriqueiramente em entrevistas. Messi nunca se gabou, mesmo que ninguém tivesse tanto direito a isso quanto ele. O rendimento e os outros falam por ele.
Hoje, tivemos mais uma grande prova de como, pelo menos os torcedores do Barcelona ou quem curte o esporte sem odiar o clube, idolatram Leo acima de qualquer fase.
A diferença espiritual do time atuando sem e com Leo, assim como a postura dos rivais, ainda antes da expulsão, retrata bem a presença extrafísica que Messi representa em campo. Lembra aquela história de quando Luxa substituiu Zidane e Ronaldo com o Real ganhando, e os merengues tomaram a virada. Mas Messi é um, caminhando pra porção final da carreira. Griezmann dava sequência a uma maldição inacreditável em sua passagem pelos Blaugranas em que nem joga mal, mas com uma insegurança que exala do ecrã de qualquer tv ou computador, segue incapaz de balançar as redes. Desperdiçou 3 chances claras, nem acertando o gol, além de um pênalti indolente de quem não tem mais firmeza nas pernas, até Messi entrar e, sem nem tocar na redonda, deslocar toda uma defesa e enganar o goleiro com um corta-luz lindo para o francês ter a imensidão aberta das balizas em sua frente. O passe foi de Alba, mas os braços de um Griezmann sorridente e aliviado apontaram para o grande responsável pelo gol.
Para depois travar toda a defesa, novamente tirando o goleiro de seu lugar e ceder a bênção a Dembouz, que teve o tento negado por uma mão. E lá Messi marcou. Mas não era suficiente. "6 gols na temporada, todos de pênalti." "Messi acabou." Não importa que seu futebol sempre se estendeu para muito além do gol, como o primeiro tento reforça, além das mais de 300 assistências na carreira, pré-passes e, é claro, o repertório de dribles. Não importa que sua função hoje o afaste do gol e o físico não permita mais iniciar e finalizar as jogadas. Porque não importa a realidade, mas a narrativa de ódio.
Então, para seu ato final, Messi não somente encerrou mais uma difamação fantasiosa, como quem expurga um demônio do corpo; um chute forte, alto e com raiva, como proporcionou uma inacreditável assistência para Sergi Roberto, elevando a confiança deste que, até ali, era o pior da partida e havia sido humilhado por Moreno na partida, sofrendo dois gols por seu flanco, numa atuação que, fosse filho de Constantino, seria posto de castigo (risos), para depois conseguir outro bom passe e um gol anulado.
Continuem criando narrativas, que Leo seguirá reinventando a própria. Triste os que rejeitam a realidade fantástica que sai de seus pés, pois quando eles não mais pisarem nos tapetes verdes do globo, perceberão a falta que farão.
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