Avatar: O Caminho da Água (2022) - Crítica

É até difícil dimensionar a expectativa pelas sequências de Avatar após tanto tempo do original. A única balança está no próprio desinteresse aparente do público por este retorno, visto uma fadiga pela saturação que o primeiro filme trouxe, assim como indignação por se tratar da maior bilheteria da história do cinema. O que move é mais uma curiosidade do que afeição, visto que o senso de maravilhamento está no mundo e não em seus personagens, o que justifica essa falta de marca de Pandora na cultura pop.

O desafio de Cameron, num mundo sem estrutura para acompanhar seus dotes tecnológicos para expandir a imersão do filme, é justamente torná-lo encantador como visual e enredo para um público generalizadamente sem acesso ao longa via uma experiência "ideal" pelo diretor, afinal, só uma conexão extravisual para permitir que o cineasta alcance suas ambições profissionais em 5 capítulos. 


Uma boa oportunidade entre o lançamento dos filmes é trazê-lo para a própria diegese, criando novos personagens que expandem não só o universo pessoal e emocional deles quanto o nosso, assim como oferecendo rostos talvez mais simpáticos para não sobrecarregar um limitado Sam Worthington - se bem que a própria vivência do ator, que se tornou pai neste interim, traz mais força e subjetividade para sua interpretação, outrora marcada pela imaturidade e ingenuidade. 

Veterano como é, Cameron, por mais pioneiro que seja no âmbito técnico, persiste um romântico clássico como contador de histórias. Entre as passeios pelo próprio mundo de Pandora, entramos numa trama pouco inventiva e bem previsível sobre a importância familiar, amadurecimento e papéis como o da paternidade - um pai protege, é o que lhe dá significado, repete Sully, numa linha que parece pouco adaptada no cinema desconstruído atual. 

Mas isso não se torna, de toda forma, uma crítica integral. Cameron faz o básico no storytelling para amarrar as cenas dentro de um senso de urgência onipresente, mas permeado por uma transcendência que busca replicar a relação harmônica dos Na'vi com sua terra, seja ela no ar ou a água. Mais até do que os novos personagens, o charme da produção está justamente na sua inventividade visual, o que Cameron bem demonstra ciência em suas longas passagens focadas na natureza e as relações entre ela e os seres que a habitam. Não é um discurso filosófico barato, mas uma sensação que se transmite por tela pela própria beleza e detalhe dos cenários. Um trabalho essencial para nos fazer, também, se preocupar com o ambiente como seus habitantes, e portanto um artifício narrativo de conectividade entre espectador-obra, assim como dos Na'vi e o que os cerca. 

O antagonismo se reforça justamente através desta questão macrocósmica, visto que a mais literal, que envolve novamente a vilania de Stephen Lang e seus soldados, soa aí como um anacronismo batido demais para ser convincente; maniqueísta demais para engajar. 


Será que o esmero visual será suficiente para gerar interesse em tantas sequências, num orçamento que necessita de receita monstruosa para gerar lucro? O que se ilustra em Avatar 2 é uma evidente falta de ideias para segurar o ritmo por 3 horas, numa trama que poderia ser mais facilmente resolvida - melhorando o rendimento emocional e de paciência do espectador -, e uma atenção maior na construção do mundo, que frequentemente se mostra mais envolvente que os próprios personagens. Um universo atraente de se visitar esporadicamente, mas que talvez se mostre insípido anualmente. Veremos o que Cameron nos reserva. 

2 comentários:

  1. Sim, um filme clichê, previsível, batido, com visual mais atraente que trama, mas... Eu gostei pra caramba. James Cameron sabe como contar uma história. Não achei desequilibrado não. Vi as 3 horas de boa. E olha que eu fui duas vezes no cinema ver o filme e não me cansei. Belo. This is cinema. O que concordo mais é: Não sei se tem conteúdo pra 5 filmes não. Esse segundo recicla muito do primeiro. Um monte de índio azul enfrentando caçadores.

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    1. O cinema realmente precisa de flmes assim. É um mundo que gostaria de visitar a cada 2, 3 anos. Mas em termos blockbuster, este ano acho que Maverick foi o melhor. E ser mais conciso ajuda nisso.

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