Creed III (2023) - Crítica

Entre idas e vindas, o cinema aprendeu bem a utilizar a catarse coletiva do esporte a seu favor. Porém, por mais que se invista em facetas, por vezes, mais brutas e complexas da categoria, como em Touro Indomável e O Lutador, ele acaba voltando mesmo nos gostos populares do esporte como combustível da mudança, da redenção e da justiça. E também, da adrenalina. 

Fruto de uma franquia de tantas décadas e capítulos, seria até desonesto esperar e criticar Creed III por mesmice. E há de se respeitar a emancipação que o longa toma da figura de Rocky, nem presente e sequer mencionado, fazendo deste de fato uma história de Adonis Creed. Até pela direção, a primeira de Michael B. Jordan, o filme incute seus princípios e ideologias para ser, como o personagem defende, responsável pelo próprio destino, e não de fato uma fita apoiada na nostalgia - ainda que minimamente, pois seria injusto atribuir somente a isto o sucesso dos Creed. É uma iniciativa ousada, mas bastante bem-vinda e acertada, pois Stallone não faz nenhuma falta e temos neste terceiro capítulo um exemplar multigênero, por vezes, mas que destaca justamente quando convicto, sem constrangimento, do fator emocional do esporte como delírio coletivo. 

Jordan se acanha e assume a inexperiência, mas Creed III tampouco é uma proveta indigna, afinal, projeto tão carinhoso para o ator, ele busca a objetividade do boxe para atrair o público numa fábula moral, que por vezes derrapa num texto canhestro e simplório demais, mas compensa num visual e montagem de encenação para criar a ficção épica que falta ao boxe atual de fato. 

Para isto, Jordan assumidamente busca referências no mundo dos animes, afinal, onde melhor procurar conceitos criativos e absurdos de superação e emoção do que em shonens atemporais? O conceito do isolamento dos dois lutadores, num embate pessoal e psicológico, abraça o da superação - aí compartilhado entre os animes e o esporte - para gerar o crescendo de empolgação, assim como plantar a semente familiar e ética de Adonis, sem se despojar do orgulho masculino viril - porém rejeitando a vulgaridade e violência gratuita como intrínsecos a ele.

E é justamente este o conceito mais visual do longa, e o que melhor funciona, quando Jordan e Majors se digladiam entre braços e mentes para achar um consenso entre perdão, culpa e aceitação, naturalmente improváveis somente no diálogo. 

Há um resvalar contraditório que com prazer se faz leniência justamente por entregar - com exceção da primeira luta, completamente artificial e plastificada - um combo do prazer primitivo da justiça vir com um punho que então reforça as palavras. A defesa da masculinidade moderna - mas não a negação da antiga, e sim uma adaptação e evolução. 

Em sua estreia, Jordan é humilde nas escolhas e até por isso, o filme também funciona melhor como tal, e não quando busca um rebuscamento que só gera embaraço. O grande charme é o mesmo que vimos lá em 76, com Rocky, mas numa roupagem diversificada que espelha o mundo de lá e o de agora, não como contrapartes, mas sim complementares. 

Nenhum comentário