Jurassic World: Reino Ameaçado (2018) - Crítica


"Você lembra da primeira vez que viu um dinossauro?", indaga Claire (Bryce D.H.), em certo momento de Jurassic World. Eu lembro. Foi em Jurassic Park, o original, de 1993, quando, assim como o Doutor Alan Grant e o resto do grupo, embasbacado, vislumbrei o colosso que era o Braquiossauro da cena (que, como tantas outras, é referenciada aqui), a primeira visão devidamente realista que tivemos destes seres pré-históricos, até então fadados à imaginação e gravuras.

Naquele filme, como no livro de Michael Crichton, as feras são retratadas como o milagre que são, mas, acima de tudo, como ameaças, com respeito e temor. Sendo um marco na história do cinema, revolucionário e muito querido por cinéfilos, status atingido pela fita sendo basicamente um thriller survival que nos cativa pelo ritmo tenso e a veracidade magnética das criaturas. Como esquecer o rugido do T-Rex ou toda a cena que envolve os Velociraptores na cozinha, com as crianças?!

25 anos depois, voltamos à pergunta de Claire: "Você lembra da primeira vez que viu um dinossauro?". Pois esqueça grande parte disto. Em Jurassic World, sem o privilégio do ineditismo, os caminhos da Universal são completamente avessos ao inspirador primário, assim como toda a velha trilogia. Tão desregrado quando o predecessor de 2015, Reino Ameaçado é um típico produto de seu tempo, de seu público, de seus rivais comerciais. Para competir com os megalomaníacos heróis que domam o cinema blockbuster atual, junte-se a eles; pois dinossauros não parecem ser mais o suficiente.


Dando sequência à terrível ideia germinada ao térmico de Jurassic World, de utilizar os dinos como máquinas de combate, o roteiro do longa pouco tenta nos convencer da honestidade do plano que leva Claire e Owen (Chris Pratt) de volta à Ilha Nublar, rapidamente orquestrando a jogada maléfica encontrada para engendrar esta nova trinca.

O que se discorre em tela após este primeiro ato mais consciente é tão absurdo, tão enlouquecido, que falta tempo para, durante a projeção, refletir sobre o que vemos. Uma sequência de acontecimentos que se alternam entre a conveniência espantosa, um excesso de explosões MichaelBayiano e um protagonista, vivido por Pratt, que faria o Senhor das Estrelas se aposentar por vergonha de suas habilidades.

O número de vezes em que Owen escapa da morte do jeito mais galhofento possível só não ultrapassa o número de escolhas erradas do próprio texto e seu diretor, que, ao maior estilo X-Men: Apocalipse, tira um auto-sarro inconsciente através de certos diálogos, como os que trazem Ian Malcon de volta ao mundo Jurássico, quando este, no realismo pragmático de sempre, disserta sobre a sabotagem autofágica da humanidade, que a levará à própria extinção, sem sensibilidade ou paixão pelos dinossauros que quase o dilaceraram décadas atrás.


Pois os nomes envolvidos na produção e criação de Jurassic World levarão, sem dúvida, à falência e esgotamento da marca, revivida com ânimo três invernos atrás; destituindo toda a originalidade misteriosa que deu fama ao universo, o transformando numa ação genérica e por vezes constrangedora que me faz pensar que, logo, as ideias descartas para Jurassic Park 3, sobre híbridos de humanos com dinos, serão resgatadas do limbo, afinal, pouco poderão fazer para buscar ultrapassar os momentos desatinados mostrados aqui que, sabe-se lá como, acharam coerentes em filmar com o orçamento grandioso.

Um roteiro tão vazio, que o personagem mais humano é um velociraptor azul. Um roteiro tão lunático, que a relação de pai e filho entre um homem e um dinossauro é o que menos surpreende. Um roteiro tão imbecil, que faz a cena das cambalhotas em Jurassic Park 2 parecer aceitável.

E um filme tão revoltante, que quase me faz desistir de voltar, em 2021, quando está programado o lançamento do terceiro capítulo de JW, ao encontro da saga.

Porém, com um conceito tão (ao menos subjetivamente) envolvente, que me faz manter um fiapo de esperança de, ao menos uma vez, repetir aquele olhar, maravilhado e incrédulo, que dei ao ver o Braquiossauro.

Nota 5.

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Obs: uma das claras evoluções em relação ao anterior está na direção, desta vez a cargo de J. A. Bayona, que também deu mais espaço aos animatrônicos. Uma pena que já anunciaram a volta do medíocre Colin Trevorrow para o final da trilogia.

2 comentários:

  1. ha Que isso, mas esse filme foi divertido demais. Bem melhor que seu antecessor. E é um filme pipoca sem medo de se assumir, com clichês e exageros. Gostei de terem explorado novos rumos para a franquia a partir dos estudos que levaram ao Jurassic. É bem interessante.

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