Crítica: Um Lugar Silencioso Parte II (2021)

Um Lugar Silencioso Parte II inicia com um flashback mostrando como se iniciou o período apocalíptico que vimos no primeiro longa. Não há explicações, e sim um foco em criar a atmosfera de horror e desespero instaurado assim que as criaturas se revelam. Sua perversidade e força, assim como as amostras da percepção sonora, são dirigidas por Krazinski à luz do dia, e mesmo assim, como mostrou o recente Midsommar, capazes de hipnotizar e espantar sem recursos preguiçosos, e sim na composição da tela, seja nas atuações, na ação e na câmera, principalmente quando adota a claustrofobia de planos fechados em ambientes que encurralam, mesmo que não sejam necessariamente estreitos. Os melhores momentos e, consequentemente, o sucesso do original, vieram através desta abordagem do diretor. 

Infelizmente, o que se passa após os cerca de vinte minutos introdutórios, dando início de fato à sequência de Um Lugar Silencioso, chamado Parte II justamente por começar imediatamente após os acontecimentos que findaram a primeira parte, se desapagam e reduzem todos os acertos do original. Os equívocos de continuações são, novamente, muitas das causas para este insucesso. Há uma replicação dramática bem evidente, mas com roupagem nova - nos sustos e nas escolhas técnicas que configuram aquele universo através dos planos e cenários. Porém, sem o fator do ineditismo, o próprio amadurecimento das personagens desfavorece a tensão do ambiente.

É uma situação análoga ao Aliens de James Cameron. Enquanto um mísero Xenomorfo, em O Oitavo Passageiro, é capaz de dizimar uma tripulação e instaurar os mais primitivos sensos de desespero, Aliens se utiliza de dezenas de seres sem atingir uma mísera porção climática equivalente. Há, porém, uma mudança que permite e justifica essa escolha, por mais que isso reduza o filme e tenha sido combustível para arruinar o conceito em franquia. Um Lugar Silencioso, mesmo o 1, recorre frequentemente à ação como força motriz da trama. Mas é uma força física instintiva e angustiante em busca da sobrevivência. Esta segunda parte, por mais que almeje isso, cai na mesma armadilha da banalização de Aliens, ao trazer mais monstros, e mais visíveis, desmistificando sua figura, tão espantosa através dos ruídos, e fatalmente mais frágeis pelo aprendizado dos personagens em como combatê-los, o que afugenta o senso de urgência e periculosidade, quebrando a atmosfera umbrosa do primeiro capítulo. Inseguro a despeito da maior experiência, Krazinski certamente não assistiu ao Oscarizado "O Som do Silêncio", e para um mundo que exige silêncio, se esforça para aplicar ruídos dramáticos e forçadamente intensos a cada momento que clama por quietude - na diégese e fora dela. 

Sem a mesma imponência através dos monstros, Krazinski comete aí seu maior erro, diria até amador, para tentar instigar mais conflito na trama. A divisão nuclear dos personagens em arcos distintos e novos "nêmeses" recria uma dinâmica secular, que é o homem como maior vilão de qualquer história. E aí, há uma TheWalkingDeadização do filme, na pior comparação possível. Os "outros" são introduzidos preguiçosamente como artifícios baratos de roteiro para gerar uma tensão já inexistente, o que provoca somente tédio e previsibilidade. Mesmo que se esperasse, no primeiro filme, que todo mundo sobrevivesse, havia a dúvida e o pavor pela atmosfera criada - a morte do protagonista foi somente uma ruptura de expectativa. 

A parte II, num tremendo atestado de sua incompetência, não somente falha em emular esta sensação, como ela atinge somente a indiferença, tanto para os novos quanto os velhos personagens. "Que morram, então", até um desejo merecedor do destino fatalístico.

A Parte II de Um Lugar Silencioso é uma franquia inesperada de um raro sucesso de roteiro original no cinema americano contemporâneo, e como tal, é diminuído ao entrar na inevitável máquina de sequências Hollywoodiana. Segmentando, entretanto, a introdução do filme em si, temos um tremendo curta que pode ser visto antes da fita original, e descartando sem muita culpa essa segunda película - que já deixa gancho, obviamente, para mais saturação. 

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