Glass Onion: Um Mistério Knives Out (2022) - Crítica

Logo de início, Glass Onion nos introduz a um grupo de amigos que, em call, resolve um misterioso enigma enviado por um conhecido em comum, o bilionário excêntrico Miles Bron (Norton). Ou pelo menos é o que nos é sugerido. Pois o que aparenta em sua interação, na verdade, atesta tudo, menos intimidade e amistosidade. Vemos indiferença, sarcasmo, impaciência e irritação. Poucos traços do desejo de compartilhar espaço e tempo um com o outro. 

Tal qual o próprio Miles Bron, Rian Johnson já expressa no título suas intenções, cuja expressão denota algo que deveria ser complexo, mas na verdade é translúcido, evidente e simplório como a imagem através do vidro, e a (falta de) simbiose entre o grupo serve como gatilho e também núcleo do que realmente o diretor e roteirista busca discutir e encenar através desta sequência "forçada" de Knives Out. 

Isso pois Johnson consegue conectar seus filmes tematicamente, e o universo liderado pelo brilhante e irônico Benoit Blanc, assim como o contrato "carta branca" da Netflix são uma excelente oportunidade para o realizador usar de sua criatividade para elaborar, igualmente, comentários e críticas que satirizam a hipocrisia, vazio e o ridículo da vida da burguesia em variados arquétipos. 


E o pontapé inicial está justamente nesta call, que expõe totalmente a falta de empatia compartilhada entre os integrantes, que a seguir estarão em uma ilha grega remota para passar um final de semana juntos, declaradamente sua "gangue", liderada justamente pelo personagem de Edward Norton. 

Porém, Johnson não despontou somente por suas temáticas sociais, e sim por como as consegue incutir, intimamente - não tão discreto -, em meio a um mar de entretenimento, provando isto no excelente "The Last Jedi", o melhor longa da saga das estrelas desde a trilogia original. As tramas que chamam pelo detetive de Daniel Craig, sempre envolvendo a megalomania estúpida, somente camuflada por excentricidade, dos super-ricos, permitem a Johnson se esbaldar na acidez com que retrata e constrói seus personagens, vícios e costumes, retratos excessivos, mas não muito disformes da realidade, quando comparamos, por exemplo, com as recentes ações de Musk, também um bilionário da tecnologia, como Bron - vale também lembrar o recente Don't Look Up e o "Steve Jobs" de Mark Rylance.

Porém, o longa, como cinema de gênero, não perde suas obrigações em relação ao entretenimento, afinal, uma narrativa funcional certeira somente expande suas responsabilidades morais. E Glass Onion só existe pelo charme, irreverência e elegância do whodunnit visto em Knives Out, e foi isso que a Netflix pagou - e bem caro - para Johnson e Craig. E talvez, justamente como investigação, é em que Glass Onion se mostre mais frágil, ou previsível. 

Se é divertido, interessante e curioso acompanhar até que ponto os convidados se rebaixam e se submetem para agradar Bron e conseguir seus privilégios, suas interações de ranço velada e a tensão latente que Andi (Janelle Monáe) mergulha qualquer ambiente, a própria investigação pouco imerge em seus recursos e pistas, como se apressa para expor as revelações e diferentes pontos de vista que vão nos revelando a cronologia do crime, no que ao menos serve para um show pessoal de Craig, bastante charmoso e investido no papel. 

Se muito se fala que Glass Onion mais aposta nos motivos para um crime, usando da farsa através da paródia, ao invés do prazer de desvendar o crime, o que de fato corrobora a visão de Johnson com o mundo retratado em tela e a verdade insegura por trás do que o dinheiro tenta esconder, a sensação de monotonia crescente dificulta o ritmo para uma história de mais de duas horas que não se mostra disposta a deixar o público bancar o detetive, satisfeita em relegar tudo a Craig e sua assistente, qual não revelarei aqui justamente por se tratar de uma das melhores reviravoltas da fita.

O resultado é um filme que estimula o prazer e a diversão, mas menos profundamente que seu antecessor, que ia um pouco além intelectualmente, nos envolvendo mais pessoalmente com a investigação. Uma experiência prazerosa, mas não exatamente marcante. 

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