Crítica - Aliança do Crime(2015).

Aliança do Crime(Black Mass), dirigido por Scott Cooper.

James 'Whitey" Bulger foi um criminoso norte-americano que durante décadas liderou uma das organizações mais violentas do país - a Winter Hill - principalmente no Sul de Boston. Mesmo não sendo um homem brilhante, James conseguiu permanecer tantos anos impune devido uma associação com o FBI, mediada por seu amigo John Connolly, em troca de servir de informante para outros mafiosos da região. Até finalmente seus atos de violência se tornarem absurdos demais para passarem ignorados, esse comensalismo enriqueceu não apenas James e John, mas vários dos homens de Whitey. Uma ascensão e queda que mais parecem saídas de um roteiro Hollywoodiano, o que torna curioso como de fato demorou para fazerem um filme baseado em sua história.
Esse ano finalmente chegou, 2015. Coube ao diretor Scott Cooper(Coração Louco, Tudo Por Justiça) adaptar o livro de Dick Lehr e Gerard O'Neill. Emulando e referenciando vários dos mais icônicos filmes de máfia da história americana(principalmente Scorsese), mas sem almejar se tornar um, Black Mass não é um clássico do gênero, mas não deixa de ser um esforço divertido e interessante de se assistir, muito pela força de seu protagonista.

Johnny Depp vem de uma safra especialmente ruim, não apenas artisticamente, como nas bilheterias. Muitos consideraram a estrela acabada, mas aqui, o rockstar entrega sua melhor atuação desde Sweeney Todd, além da personificação mais humana desde Inimigos Públicos. Não que Bulger pareça ser uma pessoa comum - o filme parece querer transformá-lo mais em uma divindade maligna - contando também com um excesso de maquiagem que pode inicialmente parecer estranho, mas afinal, é nisso que Depp se especializou. Seus melhores trabalhos são justamente interpretando figuras anacrônicas, bizarras e carregadas de pinturas faciais. Sua composição do criminoso é certeira e magnética. Ao mesmo tempo em que o carisma do ator torna coerente o mesmo ser tão adorado pelas pessoas do bairro onde nasceu,  exala veneno e perigo, sempre soando imponente e ardiloso, alguém a ser temido e respeitado. A direção de Scott também auxilia na construção do personagem, quase sempre o filmando em contra-plongées(filmado por baixo), dando a sensação de que testemunhamos alguém superior, ressaltando toda sua magnificência. O cineasta também usa muito de planos fechados e grandes do rosto de Depp. Todos esses fatores contribuem para o desenvolvimento desse figurão da história como alguém fascinante, apesar de todos atos repulsivos que causou. A indicação do astro ao Globo de Ouro já é garantida, e não seria arrogância almejar sonhos maiores.

O foco é todo em Depp, mas o elenco coadjuvante possui seus momentos de brilhos. Cercado de rostos e nomes conhecidos, dos mais variados níveis de talento, o filme conta com boas interpretações de Benedict CumberbatchJulianne Nicholson, Rory Cochrane e Earl Brown. Porém, quem realmente consegue se destacar em poucos minutos são Peter Sarsgaard como Brian Halloran, e Dakota Johnson como a esposa do protagonista. O 1º é um viciado em drogas que logo percebe estar envolvido em algo maior do que deveria, conseguindo passar todo o horror e crueldade que é estar a mercê de alguém tão inescrupuloso e impiedoso como JamesDakota, em uma participação curtíssima, consegue transmitir afeição e sentimento como a mulher de Bulger, em um dos últimos momentos antes deste perder qualquer noção de moralidade e decência. Talvez haja futuro além dos tons de cinza para a atriz.
Atuação de Johnny é tão boa, que consegue nos fazer esquecer essas lentes horrorosas.
O roteiro, porém, pouco busca desenvolver o núcleo do FBI. Com exceção a Joel Edgerton(com um personagem adequado a sua canastrice), o restante dos agentes são unidimensionais e pouco interessantes: Kevin Bacon, Adam Scott e David Harbour não conseguem passar empatia alguma, o que acaba nos colocando ainda mais na torcida por Depp, mesmo que inconscientemente. Outro que merecia mais é Corey Stoll, em uma atuação que remete muito mais a Homem-Formiga do que House of Cards. Fazendo justiça, o ator se esforça, mas tendo seu personagem inserido de forma abrupta no 3º ato prejudica muito qualquer tentativa para desenvolvê-lo satisfatoriamente.

A direção de Scott Cooper é tímida, tendo seus maiores méritos na já citada forma como retratou o protagonista, reforçando a ameaça que representa.  Em termos técnicos, vale destacar o primoro design de produção, sempre convincente nas várias épocas que busca retratar, algo essencial para deixar o longa crível e envolvente. A trilha sonora composta Tom Holkeborn pode ser pouco versátil, mas muito feliz nos momentos em que é utilizada. Alternando entre ritmos mais suaves e frenéticos de violinos, consegue ser instigante e contribuir para a tensão quando conveniente, assim como se encaixa em situações que exigem calma e silêncio.

Sem pretensão de ser algo maior e mais relevante para o cinema, Black Mass consegue atingir seu objetivo: ser uma experiência agradável e proveitosa na grande tela. E afinal, talvez esse tenha sido seu grande acerto, pois o único que consegue fazer filmes de Scorsese, é Scorsese.

Nota 7.

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