Crítica - Aliança do Crime(2015).
Aliança do Crime(Black Mass), dirigido por Scott Cooper. |
Esse ano finalmente chegou, 2015. Coube ao diretor Scott Cooper(Coração Louco, Tudo Por Justiça) adaptar o livro de Dick Lehr e Gerard O'Neill. Emulando e referenciando vários dos mais icônicos filmes de máfia da história americana(principalmente Scorsese), mas sem almejar se tornar um, Black Mass não é um clássico do gênero, mas não deixa de ser um esforço divertido e interessante de se assistir, muito pela força de seu protagonista.
Johnny Depp vem de uma safra especialmente ruim, não apenas artisticamente, como nas bilheterias. Muitos consideraram a estrela acabada, mas aqui, o rockstar entrega sua melhor atuação desde Sweeney Todd, além da personificação mais humana desde Inimigos Públicos. Não que Bulger pareça ser uma pessoa comum - o filme parece querer transformá-lo mais em uma divindade maligna - contando também com um excesso de maquiagem que pode inicialmente parecer estranho, mas afinal, é nisso que Depp se especializou. Seus melhores trabalhos são justamente interpretando figuras anacrônicas, bizarras e carregadas de pinturas faciais. Sua composição do criminoso é certeira e magnética. Ao mesmo tempo em que o carisma do ator torna coerente o mesmo ser tão adorado pelas pessoas do bairro onde nasceu, exala veneno e perigo, sempre soando imponente e ardiloso, alguém a ser temido e respeitado. A direção de Scott também auxilia na construção do personagem, quase sempre o filmando em contra-plongées(filmado por baixo), dando a sensação de que testemunhamos alguém superior, ressaltando toda sua magnificência. O cineasta também usa muito de planos fechados e grandes do rosto de Depp. Todos esses fatores contribuem para o desenvolvimento desse figurão da história como alguém fascinante, apesar de todos atos repulsivos que causou. A indicação do astro ao Globo de Ouro já é garantida, e não seria arrogância almejar sonhos maiores.
O foco é todo em Depp, mas o elenco coadjuvante possui seus momentos de brilhos. Cercado de rostos e nomes conhecidos, dos mais variados níveis de talento, o filme conta com boas interpretações de Benedict Cumberbatch, Julianne Nicholson, Rory Cochrane e Earl Brown. Porém, quem realmente consegue se destacar em poucos minutos são Peter Sarsgaard como Brian Halloran, e Dakota Johnson como a esposa do protagonista. O 1º é um viciado em drogas que logo percebe estar envolvido em algo maior do que deveria, conseguindo passar todo o horror e crueldade que é estar a mercê de alguém tão inescrupuloso e impiedoso como James. Dakota, em uma participação curtíssima, consegue transmitir afeição e sentimento como a mulher de Bulger, em um dos últimos momentos antes deste perder qualquer noção de moralidade e decência. Talvez haja futuro além dos tons de cinza para a atriz.
Atuação de Johnny é tão boa, que consegue nos fazer esquecer essas lentes horrorosas. |
A direção de Scott Cooper é tímida, tendo seus maiores méritos na já citada forma como retratou o protagonista, reforçando a ameaça que representa. Em termos técnicos, vale destacar o primoro design de produção, sempre convincente nas várias épocas que busca retratar, algo essencial para deixar o longa crível e envolvente. A trilha sonora composta Tom Holkeborn pode ser pouco versátil, mas muito feliz nos momentos em que é utilizada. Alternando entre ritmos mais suaves e frenéticos de violinos, consegue ser instigante e contribuir para a tensão quando conveniente, assim como se encaixa em situações que exigem calma e silêncio.
Sem pretensão de ser algo maior e mais relevante para o cinema, Black Mass consegue atingir seu objetivo: ser uma experiência agradável e proveitosa na grande tela. E afinal, talvez esse tenha sido seu grande acerto, pois o único que consegue fazer filmes de Scorsese, é Scorsese.
Nota 7.
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