Top 11 - Studio Ghibli

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Os 11 Melhores Filmes do Estúdio das Ideias.

Por mais que a qualidade do entretenimento cinematográfico do leste asiático seja reverenciado por críticos mundo afora, ainda assim encontra-se uma dificuldade exorbitante para encontrar tais obras no ocidente. Se destacar em meio as intermináveis e milionárias produções norte-americanas é algo dificílimo, e só alguém com muita paixão e afinco para conseguir encontrar títulos estrangeiros por aí.

Dito isso, torna-se ainda mais singular e assombroso as proporções que o Studio Ghibli tomou deste lado do mundo. A qualidade e peculiaridade dos longas, sempre persistindo num anacrônico 2D rico em detalhes, transcendeu fronteiras, e mesmo que a ambientação visual e até metafórica seja toda regional, suas mensagens conseguem ser universais. Um esmero que rendeu a própria gigante Disney, que tornou-se a distribuidora de seus filmes no Ocidente. John Lassester, um dos pilares da Pixar e hoje chefe do setor de animação da Disney, inclusive, sempre deixou claro em entrevistas e extras dos blu-rays e DVD's de seus longas a admiração que sente pelo Ghibli e Miyazaki, principalmente por "Meu Vizinho Totoro", que fez até uma pequena participação em Toy Story 3.
totoro toy story
Totoro ganhou uma versão 3D e papel de coadjuvante no filme do bilhão.


Qualquer fã de cinema e animação já ouviu falar de seu nome e de seus principais realizadores, que tornaram-se lendas vivas. Isao Takahara e principalmente, Hayao Miyazaki conquistaram um montante interminável de fãs, sendo que 4 das 10 maiores bilheterias de todos os tempos do cinema nipônico são produtos oriundos de sua imaginação, sem contar o inimaginável Oscar de "A Viagem de Chihiro", além de outras 4 indicações.

As fitas são marcadas por um deleite visual, com uma miríade inesgotável de cores, a quase sempre presente trilha de Joe Hisaishi, uma trama que misturava fantasia com realidade para ilustrar suas sempre presentes mensagens e principalmente, a recusa do roteiro em cair ao maniqueismo, sempre ressaltando a dicotomia interna que permeia o interior de todos nós, não dominando exclusivamente pessoas e as classificando entre bem ou mal. O alcance das histórias é igualmente aplicável para crianças e adultos, diferindo apenas na visão que terão destes. As protagonistas também são, frequentemente, mulheres fortes, perseverantes e inteligentes. Sim, eles passam tanto no teste de Bechdel, quanto no de Mako Mori.

Desde 1985, foram 20 filmes produzidor por brilhantes mentes criativas(21, contando Nausicaa, que foi primeiramente lançado 1 ano de sua criação, tendo seu sucesso propiciado a criação do Ghibli), sendo "When Marnie Was There/2014(Jpn)2015(Ocidente)" talvez o último desta longa lista de obras-primas. São tantas, que torna-se difícil qualificar uma ordem entre elas, mas baseado em meu gosto pessoal, o tentarei fazer:

kiki ghibli

Seguindo a tradição das bruxas, Kiki, ao atingir 13 anos, parte para viver sozinha e lidar com seus problemas por contra própria. É o 4º projeto oficial do estúdio, e já carrega suas principais virtudes, como a trilha nostálgica e bucólica de Joe Hisaishi, o tom fantástico, a carismática e forte protagonista Kiki e a inebriante mão artística de Hayao.

O tema é elaborado de forma sutil, tocando na questão de maturidade e as intempéries que atingem qualquer um que busca sua independência na vida, indo atrás de seu sonho e buscando descobrir seu talento. Também reforça o poder da amizade e autoconfiança.

Foi o marco inicial da parceria Disney - Ghibli, sendo lançado na terra do Tio Sam em 1998.

9 - O Castelo Animado(2004)

Baseado no livro homônimo da britânica Diana Wynne Jones, fala sobre Sophie, uma garota de 18 anos que é amaldiçoada por uma feiticeira e transforma-se em uma senhora de 90 anos. Aflita e desesperada, acaba envolvendo-se com Hauru e os habitantes de seu Castelo Animado.

Mesmo sendo uma adaptação, não considera-lo uma obra de Hayao seria um equívoco. O gênio coloca aqui todas suas qualidades em uma fase especialmente inspirada de sua carreira. A quantidade de personagens adoráveis e bem desenvolvidos é enorme, sua qualidade gráfica é, novamente, estonteante, sem contar a tremenda criatividade nas movimentações e nos seres que habitavam tal mundo. Esse é, talvez, a maior "pirada" do diretor, mas de um lado positivo. São incontáveis as sequências de tirar o fôlego e os sempre inteligentes simbolismos com animais e utilização da paleta de cores, que define a atmosfera das cenas.

Tudo isso, novamente, sem deixar de passar uma mensagem anti-bélica, tão presente em sua filmografia, contrastando seus horrores com sequências idílicas que fazem uma ode a amizade e ao amor. 

8 - Vidas ao Vento(2014)

O canto do cisne de Hayao, o que apenas ressalta a falta que o artista fará ao mundo. Uma obra incomum e digamos, mais sóbria do que nos acostumamos consigo. Retrato, talvez, de como estava inconformado e desiludido com o caminho que o Ghibli e animação estavam tomando. Tudo documentado no excelente documentário "Estúdio Ghibli - Terra dos Sonhos e da Loucura".

Mesmo assim, não deixa de imprimir, ao seu final, um resquício de esperança no meio de tanta melancolia e aflição que a vida nos propicia. 


Primeiro e único da lista não idealizado por Hayao nem Isao, sendo dirigido por Hiroyuki Morita, o que não diminui seu mérito, mas infelizmente o torna subestimado.

Haru é uma garota despreocupada e preguiçosa que em uma bela manhã, salva um gato do atropelamento, e durante a noite, recebe a ilustre visita do Rei dos Gatos(quem nunca?), convidando-a para passear em seu reino, o que como dizia o bom e velho narrador da sessão da tarde, vai gerar altas confusões.

O filme faz uma bela sessão dupla com "Suspiros do Coração", além de até possuir uma mensagem parecida, mas sendo nitidamente mais leve e acessível. Uma fábula sobre crescimento e responsabilidades, certamente virtudes essenciais que preenchem o universo Ghibli, mas a forma como é conduzida aqui é seu diferencial. Se é uma cat person, então, altamente recomendado.


Simplesmente o responsável por tudo realizado pelo Ghibli. Nunca saberemos o que ocorreria se Nausicaa fosse um fracasso de bilheteria. Talvez ele tivesse outra chance e tudo saísse nos conformes, apenas com um leve atraso, ou talvez nunca teríamos visto tantas obras-primas animadas. História.

O que vale mesmo é como o longa, adaptado do mangá de autoria do próprio Hayao, é muito à frente de seu tempo. O que James Cameron fez em Avatar, já estava nas prateleiras de locadoras há décadas atrás. Nausicaä é a mais contundente e elaborada crítica ambiental do cinema, além de desmitificar e expor cruelmente na tela outros costumes repugnantes da sociedade, como a aversão ao estranho e o excesso de violência visando fins egoístas. Além da animação inconcebivelmente complexa para seu ano, entrega uma das melhores personagens da sétima arte. Altruísta, forte e com uma mentalidade madura e muito resiliente, Nausicaä é o que nenhuma princesa da Disney jamais será.


Outro fruto dos anos mais cinzas do Ghibli, envolvendo a aposentadoria de Hayao, o que parece ser o fim da produção de filmes para distribuição mundial e também o adeus de outro de seus mentores, Isao Takahata, sendo seu primeiro trabalho desde 1999. Seu atraso, inclusive, é motivo de comentários sarcásticos e até irritados da parte de Miyazaki, tudo mostrado no supracitado documentário Reino dos Sonhos e da Loucura. Um filme belo, porém, com uma atmosfera muito mais soturna e reflexiva. 

Independente do tempo que levou, é uma obra de arte. O estilo de animação, parecendo um storyboard em movimento, beira o absurdo e me deixa estupefato só de imaginar o trabalho que deu. Suas mais de 2 horas são pouco para apreciar tanta beleza, e ao contrário do que Hayao fez em seu adeus, diria que o pensamento imprimido por Isao, aqui, é muito mais o de desesperança.

Kaguya veio ao mundo bela e para gerar e receber felicidade, mas por mais que seus pais buscassem isso, no final prevaleceu o desejo por poder e status, tendo o supérfluo se sobreposto ao simples, que era o que a menina queria e tanto apreciava, na velha cabana rural dos velhos. Destituída de prazeres, amizade e felicidade, ela afunda em uma profunda depressão, tendo qualquer alegria advinda de momentos oníricos escassos. Quanto mais passa, por mais que o que apareça em tela seja de uma riqueza visual tremenda, nos sentimos afundados na realidade que envolve o mundo e o pensamento comum das pessoas. Qual será a salvação? Para Kaguya, foi voltar para seu plano espiritual.

Pra mim, o que Isao quis passar é simples e já explorado muitas vezes em todas as artes: aproveite os momentos simples e singelos da vida, não viva numa cega ambição por poder e dinheiro. E o que ele entrega apenas expõe o que todos sabemos - cada vez mais trocamos a simplicidade por um guarda-roupas cheio, porém vazio.

4 - Princesa Mononoke(1997)

Um filme praticamente perfeito. Hayao consegue, aqui, fazer uma crítica direta ao imperialismo opressor ocidental e mesmo assim, vender o filme para nós, devido a sutileza com que é elaborada. Várias de suas virtudes, como a relação homem-natureza, a forma como explora os dois lados da personalidade humana, o bem e o mal, além do ambientalismo e até religião. Todos se mesclam em suprassumo. Um filme maduro e violento, mas honesto e deflagrante. 

3 - Porco Rosso(1992)
porco rosso

Me entristece ver como Porco Rosso é pouco valorizado e muitas vezes, considerado insosso e tratado com indiferença. Não consigo conceber isso como uma falta de entendimento perante seu assunto. A verdade é que um dos longas que mais se apoiam em simbolismo para contar sua história, por mais que o entretenimento esteja fortemente presente.

Hayao não entrega respostas mastigadas, como o por que do protagonista ser transformado em um porco. E Rosso é, afinal, o contrário do que se imagina do protagonista de um épico. Não um mocinho belo e heróico, e sim um ser amargurado, de aparência vulgar e muitas vezes, egoísta, até começar a ser quebrado por Fio, que representa toda a beleza e ingenuidade que ele perdeu ao presenciar tantas desgraças na vida.

 É uma das mais importantes obras anti-bélicas não apenas do diretor, como da história do cinema. e mais uma vez, em discordância com o que crescemos assistindo com o estúdio do Mickey, seu final é dúbio e deixa uma incógnita enorme, não um término feliz ou agridoce. Pode não agradar a todos, mas para quem conseguir o compreender, certamente torna-se inesquecível.

tumulo vagalumes

Um filme que define o estilo do Ghibli. Fornece esperanças, mas não molda a realidade para nos iludir perante a crueza dos fatos, mesmo que ela venha apenas com a morte.  A trama cobre a vida de Setsuko e Seita, dois irmãos que ficam órfãos durante a Guerra e sua luta por buscarem sobreviver durante a ela. A forma como a tragédia das batalhas é mostrada aqui, ao lidar com situações extremas e a forma como as pessoas reagem a ela, parecendo perder qualquer sensibilidade, é chocante, assim como o retrato dos irmãos se esforçando para manter sua personalidade infante e ingênua, algo que vai se perdendo paulatinamente. Sendo bem sincero, é uma obra de rasgar o coração. 

1,5 - A Viagem de Chihiro(2001)
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Responsável por "quebrar" o Ocidente, ao levar o Oscar de melhor animação em 2003 e arrecadar quase $300 milhões ao redor do mundo, sendo até hoje a maior bilheteria da história do Japão. É um filme inexplicável de tão lindo e abundante em significação e conteúdo. É difícil achar um tema que Hayao não aborda durante seus 125 minutos. Amizade, ganância, maturidade, egoísmo e no geral, a natureza humana. Se assistido em japonês ou profundamente estudado, vais perceber que o longa brinca até mesmo com o temas sexuais, mesmo sendo uma obra destinada ao público infantil.

Quanto a parte técnica, mesmo não sendo o meu preferido, seria ridículo negá-lo o reconhecimento de sua primazia. A complexidade dos cenários, todas multicoloridas e detalhadas, sendo que se pausar em qualquer parte, seriam necessários vários minutos para apreciar todo o design de produção que compõe as cenas. A fluidez da animação não perde em nada para superproduções americanas, e a gama de personagens identificáveis e profundos é abundante. Um filme maravilhoso e que merece ser desfrutado ´- e estudado - por qualquer amante de cinema.

1 - Meu Vizinho Totoro(1988)
totoro vizinho

O símbolo máximo do Ghibli e um ícone mundial. Se não possui a mesma audácia a densidade de outros projetos do estúdio, conquista pela inocência e singeleza que apresenta. Mostre este filme para qualquer pessoa de qualquer idade, e a não ser que seja uma criança, provavelmente vai se sentir uma, tamanha atmosfera de nostalgia e candidez que transmite. Uma ode ao poder da imaginação e bondade dos pequenos, mesmo em situações adversas.

Uma película que fala sobre relações, quais estão em toda sua duração, seja as familiares, seja as de amizade. O foco é a beleza da vida, das pequenas coisas, como Kaguya fez, só que de maneira mais pessimista, quase 30 anos depois. A criatividade de Miyazaki fornece vida e encanto até mesmo a fuligem da casa.

Figuras que vemos aqui aparecem, mesmo que timidamente, em todas as gerações de longas Ghibli, sem contar os que ficarão para a posteridade, como o próprio Totoro e o insano ônibus-gato. O poder do grande protagonista, mesmo sem dizer uma única palavra, é inexplicável, como tive o prazer de presenciar com meus próprios olhos.

Eu tenho um irmão um pouco mais novo, e como boa parte de sua geração, passa quase todo seu tempo no computador jogando ou vendo gameplays, pouco se interessando por cinema. Sempre que posso, então, tento mostrar alguns longas para ela, através de maratonas Disney, Pixar e até alguns da Dreamworks, Laika e outras produtoras menores, mas principalmente, do Ghibli.

Grande parte de sua filmografia o menino já assistiu, diz ter gostado de todos, tendo um apreço especial por "Reino dos Gatos", mas nenhum personagem o cativou tanto quanto Totoro, tanto que mesmo sendo um jovem avarento, desembolsou uma quantia considerável para incluir uma pelúcia do mesmo em sua estante. Um pequeno gesto, mas que define seu poder de encanto.

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Minhas palavras não conseguem fazer jus a magnificência que são estas películas, e como foi difícil fazer este Top 10 que se tornou 11, talvez o que mais me tenha exigido sacrifícios, tamanha a quantidade de obras-primas que o estúdio possui em seu catálogo. Apesar destes serem os meus favoritos, jamais deve negligenciar os outros produtos do Ghibli, pois cada um deles, mesmo o menos fantásticos, tem algo relevante a oferecer. Espero que tenham gostado.

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