Cardcaptor Sakura: Clear Card, a Doçura que Não nos Pertence Mais: Review
Talvez a certeza do retorno contribua para isto, mas creio que seja outro o fator preponderante: a experiência. Quando comunicada a adaptação do mangá de Clear Card (fiquei sabendo dia 02/11/2016, por esta notícia do Crunch), a felicidade transbordou. Eterno nostálgico que sou, estou fadado, é até uma fraqueza que me consome, o apego e ânsia em reencontrar figuras queridas do passado, de épocas melhores: Pokémon, Digimon, Dragon Ball, Super Campeões, Cavaleiros do Zodíaco. A cada novo release de obras como tais, com as quais cresci por anos nas manhãs da Globo e, quando possível, Cartoon Network, era como se me aflorasse a alegria da inocência, como se me fosse permitido um vislumbre, uma escapadela de 22 minutos para aquela tenra idade, ainda sem Wi-Fi, sem televisores de Plasma, a necessidade de levantar cedo e o destempero apressado que a vida de adulto nos encaminha.
Chegara, finalmente, a vez de visitar novamente Sakura, Tomoyo, Yukito e todos os outros. Chegado Janeiro, finalmente a ansiedade se tornou palpável e menos ilusória. Clicado o play, algo novo solapa todos os sentimentos anteriores, esperados. Uma penumbra, um manto que não pertence àquela realidade. Um senso de estranhamento meio angustiante, meio opressor. Que macula o brilho de Tomoeda e os lanches escolares da turminha principal.
Semana após semana, foi algo que se repetiu, me impedindo de degustar apropriadamente o que deveria ser uma escapatória deleitosa. Demorou até que eu percebesse que a culpa era minha, que eu não me adequava mais ao ambiente proposto e vivido ali.
A opção da CLAMP, ao reviver a franquia, parece não ter sido focada no saudosismo dos velhos fãs, os que inerentemente retornarão ávidos pela continuação da história interrompida há mais de década. Nem tampouco se difere extremamente do que fora apresentado e conquistado minha geração, anteriormente. Sakura é um conto de fadas, brilhante, belo e comprometido com a felicidade, onde não há o bullying e todos parecem emanar doçura, generosidade e empatia, como se fosse, sem falta, seguidores do budismo. Até mesmo os conflitos e antagonistas deturpam o senso maniqueista das relações bem contra o mal, sendo mais como o bem contra o bem desesperado, equivocado, mas que faz o que faz mais por necessidade visando o bem de forma enviesada - no entanto, distante da psicopatia, sendo, na terminologia mais forte empregada, um egoísmo.
Sem diferir da obra original, mesmo assim o que se observa e muito são antigos seguidores decepcionados com o marasmo de assistir os personagens dividindo momentos de pureza e amizade, sem muito propósito e contentes apenas em passar o tempo entre eles, a contrapasso de que muitos de nós não se satisfazem somente com isto, almejando conflitos e movimentação.
Há de se criticar o roteiro, que engana Sakura tanto quanto nos frustra na ausência de explicações, que agora foram postergadas para o desconhecido, a não ser que se corra atrás do mangá. Que introduz mistérios e os esquece quando conveniente, preferindo estender a duração justamente com estes piqueniques e encontros extraclasse, deixando esclarecido que o foco e pretensão do todo não está na ação, e sim nos sorrisos e palavras elogiosas trocadas pelas crianças - um ponto importante da compreensão, quando levamos em conta que o anime é protagonizado por estudantes na casa dos 12, 13 anos, muito aquém do público saudoso que hoje ultrapassa os 20 e não pode esperar o mesmo entretenimento direcionado a si, enquanto o foco almeja criar uma nova legião de admiradores.
Sakura parou no tempo - ou melhor, continuou de onde havia acabado -, mas a cronologia temporal de quem assistia a série no Cartoon e Globo pelos idos de 2000 e 2001 não congelou junto com ela, restando lembranças estáticas de outrora.
O que o amadurecimento nos traz é a corrupção, a perda da inocência. O crescer do cinismo e da amargura, que molda nossa interpretação do mundo e, destarte, o conteúdo preferencial que consumimos. Neste meio, fica óbvio porque Sakura não convence e comove como antes, pois não se acredita mais naquilo, nem se aproveita o slice of life de pessoas 10 ou mais anos mais jovens - seria como você tentar se relacionar e entrar no grupinho de seu irmão (bem) mais novo.
Se fosse uma expressão corporal, Sakura seria um abraço caloroso, deste que precisamos vez ou outra, em momentos fragilizados, mas não sempre. Às vezes ele apenas soa inoportuno, pegajoso e desnecessário.
É algo sazonal, e cabe a nós, neste caso, saber quando será bem-vindo ou não recebê-lo, para assim aproveitar ao máximo a experiência.
Eu me sentir exatamente assim enquanto assistia Sakura, tinha momento que eu me sentia feliz e abraçado pelo anime, mas em outros momentos eu sentia que aquele material não era exatamente para mim... E eu só conseguia pensar o quanto eu gostava dele quando criança e continue assistindo pela pura nostalgia, mas ainda sim Sakura é um anime que marcou muito.
ResponderExcluirAdorei seu texto! você conseguia transmitir exatamente o que eu estava sentindo que doido kkkkkk você é foda !
Que isso, foda é quem cria as coisas, eu só comento sobre, haha. Mas obrigado <3.
ExcluirEngraçado que enquanto eu assistia Sakura meu subconsciente ficava comparando com Madoka, já assistiu Makoda? Eu achei muito legal ver como o autor conseguir trazer uma nova temática para um tema tão pueril
ResponderExcluirSim, mas Madoka é muito mais maduro e cheio de metáforas.
Excluiro anime me dividiu muito... sentia que não era mais para mim o que, me fazendo temer o que a vida adulta já fez comigo, mas que tambem foi maravilhoso receber essa injeção de doçura e nostalgia... o que realmente me preocupa e se vai regressar depois desse final... mais 18 anos de espera são frustrantes
ResponderExcluirHahaha. Dessa vez a espera será bem menor.
Excluir