Aladdin; Nostálgico, Mágico e Muito Mais - Crítica


Desde 2010, quando a Disney e Tim Burton trouxeram o bilionário "Alice no País das Maravilhas" para a carne e osso, não houve uma adaptação em live-action de clássicos animados do estúdio que não viesse acompanhada de dúvidas e indagações do tipo "Por quê?". O imaginário coletivo - e, principalmente, individual - rapidamente se apruma com armaduras e armas para rejeitar remakes de obras adoradas, ainda mais se for propriedade nostálgica, a força interior mais pura que alguém carrega. Deste modo, esta nova era da Disney se assume como uma afronta pessoal. Mexer com as memórias intactas do passado.

De fato, algumas destas produções nunca se mostraram minimamente dignas de seus antecessores. Suas inspirações. Em minha visão, entretanto, por mais criativamente "inúteis" que sejam, não são um esforço em vão. Se mostram ser plenamente inferiores dos longas que a influenciaram, imaginemos que sirvam para novas gerações conhecerem e então explorarem os clássicos de fato. Sem contar que, mesmo com uma qualidade aquém, há pessoas que irão, simplesmente, se deslumbrar com estes filmes. Minha irmã mais nova, usando de exemplo, é apaixonada pelo Alice de Burton; minha mãe, pela Bela e a Fera com Emma Watson. Muito mais do que as animações originais, quais as fiz assistir após demonstrarem afeto pelas novas versões. Mas não, o carinho delas está com as películas com atores reais.

Assim, o exercício de protestar contra esta leva bilionária da Disney é fútil, desnecessário e até arrogante. Sem contar que, certamente, infrutífero. Seria como prender-se a um estigma e a uma memória absoluta que pragueja em ficar imaculada, mas assim, também privar-se do novo, e fugir de uma experiência que, positiva ou negativa, trará novas recordações e momentos. E Aladdin, que sofreu tanto nos últimos meses com a imagem negativa obtida por seus primeiros materiais de divulgação, que soavam cafonas e dignos de uma paródia pornô, talvez seja o espécime mais mágico e especial de todas as reimaginações Disney até agora.


Tudo começa por Guy Ritchie. O britânico possui uma assinatura forte e cheia de personalidade, mas sua carreira está em clara decadência e, mesmo nos acertos, seu gênero de domínio é diametralmente oposto ao universo de Aladdin. Porém, por imposições de estúdio ou a própria consciência e insegurança, o diretor economiza as baterias alternativas, no entanto, sem esgotar a própria imaginação, e entrega um produto recheado de energia, encanto, mas também malandragem e pulso.

Se na primeira camada temos uma fita nostálgica e que se esforça para resgatar as recordações da saudosa animação, quanto mais imergimos na produção, percebemos sua autonomia moderna e engajadora, conquistando o público na mesma medida em que não desperdiça discussões mais sérias, sem expô-las de modo demagógico em que prejudique um público mais inocente, mas plantando ideias que serão refletidas agora, ou então em revisitas futuras.

A dicotomia que discuto não é de uma militância ferrenha, mas honesta e justa, em que os valores do próprio estúdio são ressaltados. Aladdin é, sim, mágico e lindo. Cheio de brilho, o tom musical é fabuloso e, por vezes, engraçado - mas nunca exageradamente vergonhoso, e sim contagioso -, bem o que se imaginaria de uma versão live-action do Aladdin de 1992. Deste modo, a desinibição em que conta a história o torna o mais próximo da animação de toda esta leva, e portanto, o mais divertido, justamente por saber aproveitar as virtudes e o próprio saudosismo para embalar os novos e velhos conhecidos da história da lâmpada mágica.

Ritchie, nisto, emprega sua agilidade para brigas de rua e, com ajuda de coreografias frenéticas, filma, principalmente, os números musicais em ambiente aberto com habilidade e êxtase, mas também com pompa e dimensões adoravelmente megalomaníacas, algo aguardado do lendário gênio, vivido por Will Smith com um carisma surreal e que faria Robin Williams sorrir.

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E se diverte e nos maravilha na superfície, é também estimulante notar o discurso social e que realoca a história destes personagens a uma temática contemporânea, mas sem cair no melodrama ou tampouco no fantasioso - neste aspecto -, características arriscadas e que poderiam prejudicar a aventura em si. O papel principal nisto, obviamente, está na Jasmine de Naomi Scott, que se no original já era forte e se mostrava avessa às tradições, aqui adquire mais independência e voz própria, inclusive num emocionante solo, Speechless (aproveitando que a atriz é também cantora profissional), em que, na letra, mostra a indignação ao ser dita para manter-se quieta e aceitar ser somente vista, não ouvida, e casar-se submissa ao primeiro e rico príncipe que aparecer.

Mais do que um debate feminista, entretanto, Aladdin está interessado em abranger a sociedade, através de representantes de distintas classes, para dialogar acerca do papel social pelo consciente coletivo. Se Jasmine, mesmo sendo a Princesa do Reino, é dita para aceitar a objetificação, e tem sua vontade de se tornar Sultã rejeitada pelo próprio pai, que assim, pelas leis, a obriga a se casar com um príncipe, Aladdin (Mena Massoud, em uma química apaixonante com Naomi)  ouve que "nasceu e irá morrer um inútil", como se não tivesse escolha por suas precárias condições de nascimento, que lhe deixaram sem perspectiva nenhuma. Mais além, o próprio Gênio é vítima disto. É o ser mais poderoso do universo, mas preso a uma pequena lâmpada e incapaz de realizar os próprios desejos, amaldiçoado a usar seus dons a outros, a despeito da moral - mesmo com um olhar envergonhado, é obrigado a conceder os desejos de Jafar. E falando nele, o próprio vilão da história é um representante da imposição do papel social, já que não nasceu para ser Sultão, seu maior desejo. Entretanto, é também o perverso Vizir que serve de exemplar da resolução otimista do roteiro, como não poderia deixar de ser; podemos mudar nossa condição com bons valores, mas a ambição descontrolada só trará ruína e aprisionamento numa espiral de infelicidade que tem como único destino a autodestruição.

Com tanto a dizer - e um pouco a se repetir, é claro -, este Aladdin é, sim, necessário e útil. Por modernizar o clássico. Mas também por continuar a divertir e encantar novas gerações, e também as velhas que se permitirem mergulhar novamente na própria imaginação. Nosso mundo não é ideal, mas fábulas como esta o fazem melhor.

Nota 8. 

Um comentário:

  1. Eu realmente gostei muito desse novo Aladdin, eu estava meio receoso por ser a minha animação favorita e mesmo tendo achado os outros Live-Actions da Disney oks eu tava meio na duvida, mas caramba eu adorei muito como eles construirão tudo agrabah realmente parece uma cidade real e cheia de vida, os personagens estão incríveis eu adorei muito o Gênio, mas principalmente os atos de coreografia e musical é muito vibrante e com toda a magia que Aladdin exala nossa eu simplesmente gostei muito desse filme a Disney somente melhora cada vez mais com esses lives-Actions.
    O unico que eu realmente não gosto é Alice...

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