Avatar (2009) - Crítica

Quando o Jake Sully de Sam Worthington passeia pelas florestas de Pandora maravilhado, com um sorriso débil e movimentos frenéticos, tocando a tudo como uma criança que descobre o mundo, ele também representa o público manifestado. Mas mais do que isso, o ator espelha o diretor James Cameron. 

Dedicando décadas de sua vida para o universo dos "Avatar", Cameron, sempre um entusiasta da tecnologia, parece mais ter moldado uma história para se adequar em seus anseios visuais e objetivos profissionais do que o contrário. Não é coincidência que ele só mostrou confiança em criar sua visão após ver o que outro visionário dos efeitos visuais, Peter Jackson, fez em O Senhor dos Anéis - curiosamente, outro mestre da arte, George Lucas, só deu sinal verde para os prequels de Star Wars após atestar a possibilidade de fazê-los competentemente ao assistir Jurassic Park. 

O diretor cria sua Pandora e brinca com ela através das câmeras, se perdendo em suas árvores, plantas e criaturas, até mesmo o dialeto. Várias são as tomadas longas de plano aberto para ressaltar o design de produção absurdo, detalhado e criativo do planeta todo texturizado. 

Seria fácil cair na soberba e no narcisismo e se perder no próprio encanto, negligenciando o público e o valor narrativo para se justificar um esmero técnico. O que Cameron faz, entretanto, é digno da espera, do esforço investido e de um mestre do entretenimento, no auge e completamente ciente de suas habilidades e como hipnotizar a plateia. 

No grande debate entre direção e roteiro, Avatar acaba sendo um grande expoente do primeiro (mesmo que o texto aqui também seja de Cameron), visto que não há grande originalidade ou sacadas nele verbalmente, mas numa primazia visual que expressa por si só toda a história e engrandece seus personagens. Como não se apaixonar e sentir piedade e empatia com os Na'vi e sua conexão com a natureza quando ela é tão rica e romântica, mesmo que perigosa? Como não se revoltar com os militares e a força colonizadora americana quando vemos tal beleza ser dizimada? A virtude não está em uma necessidade por originalidade, afinal, analogias com genocídios imperialistas não são exatamente uma novidade, mas sim no quanto Cameron consegue nos fazer sentir tal massacre em vista do poder de sua câmera e imaginação. 

O cineasta sempre foi um grande Messias do entretenimento nestas quase 4 décadas por trás das câmeras. Engana-se quem o subestima pelo caráter blockbuster de suas obras. Cameron é o artesão completo, e um dos que mais entendeu a tecnologia como uma arma de expansão do alcance e potencial do cinema, não como mero mercantilismo, como fazem as grandes franquias atuais, vide Marvel e Star Wars. Seja filmando Aliens, robôs ou aborígenes espaciais, poucos transmitem tamanha confiança e originalidade quanto Cameron. E a bilheteria de suas obras evidencia isso. Vida longa a um dos gênios da sétima arte. 

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