Thor: Ragnarok (2017) — Crítica


Se você vive como pedem as normas tecnológicas e de inclusão social neste 2017, acessa sites de cultura pop e se interessa por cinema, deve estar a par da dicotomia que rivaliza a guerra virtual que separa fãs xiitas das adaptações cinematográficas de Marvel e DC. O claro contra o escuro. O humor contra o drama.

Até aqui, não há dúvidas quem está por cima, não apenas por questão de tempo ativa, e sim de planejamento. Enquanto a DC se encurralou ao adotar o estilo laureado por Nolan em sua trilogia Batman, achando que Zack Snyder conseguiria imprimir esta assinatura em todo um universo compartilhado, a Marvel explorou o pitoresco, e devido aos anos sem qualquer antagonista de nicho, reinou sozinha, se dando o privilégio de individualizar seus heróis paulatinamente, mas sem deixar claro que protagonizam o mesmo espectro, o que esporadicamente proporciona as “catarses” dos Vingadores.

O que não muda, entretanto, e até ganha corpo, é a natureza cômica dos longas. Inicialmente apoiada em Robert Jr. e seu Stark fanfarrão, a veia jocosa contagiou a tudo e a todos, e em Thor:Ragnarok, atingimos o ápice disso, onde não vemos o humor como atenuante de tensões, e sim uma comédia escrachada onde a ação aparece quase como obrigação.


A própria escolha por trás das câmeras deixa claro o objetivo, sendo comandado pelo neo-zelandês Taika Waititi, uma escolha arriscada e sem nenhuma relação com heroísmos e blockbusters. Proveniente de comédias indie, entretanto, o sujeito apenas confirma que um bom cineasta é, afinal, um bom cineasta, e como água, seu estilo permeia as madeixas louras de Thor, escorrendo de modo anárquico por cada segundo, diálogo e personagem da trama. A nova ambientação pessoal é também representada no novo corte de cabelo em Hemsworth, como que repaginado, tão à vontade como nunca sendo filho de Odin, contente em fazer altura às provocações de seu irmão, novamente interpretado por Tom Hiddleston, com quem esbanja química, e que também se converte progressivamente ao lado do “bem”, caminho inevitável desde que o outrora vilão se tornou tão popular entre os fãs por seu carisma e charme.

Em análise, um filme de herói não deixa de ser uma bobagem, quanto mais os absurdamente poderosos. Assim, se assumir como um espécime plausível e lógico, porém irreverente e genuíno, poderia ser um acerto. O problema é que entregar esse autorismo apenas no final de um trilogia deixa o panorama um tanto inconstante e sem identidade. Ragnarok é espiritualmente Loki, o zombeteiro, típico do humor sarcástico de Taika. Ocasionalmente funcional, mas descontrolado.

Taika adota deliberadamente o exagerado. Ragnarok passa vergonha por querer, por clamar. O design de produção oitentista mostra o orgulho da ideia. Esse frescor não altera o tom, o que funciona em certas partes, mas prejudica o cerne da história, que querendo ou não, evoca o obscuro, afinal, Ragnarok é o apocalipse de Asgard. O humor destitui a urgência e perigo do situação e sabota a presença da antagonista.



Como levar a sério o que seria o fim do mundo asgardiano quando tudo que vemos busca e sugere o riso? Ainda que Cate Blanchett adote o vestuário gótico e exponha seu enorme poder, a certeza de que os mocinhos a sobrepujarão é ressaltada pelo excesso de gags. A trama que deveria ser séria soa como uma intrusa, deslocada, forçada no roteiro de última hora. Um problemão se constarmos que este deveria ser o arco principal — salvar Asgard e derrotar Hela. É como se assistíssemos desenho na tv, abruptamente interrompido pelo plantão jornalístico.

Nada disto é à toa, pois tudo em Ragnarok implora que você se arreganhe. De Thor a Loki e Hulk, ninguém escapa. A escalação de Jeff Goldblum, em mais uma figura excêntrica na filmografia do ator, é simbólica e constata as intenções. Ele se sai muito bem, sim. A insegurança de Bruce Banner, contrastando com a brutalidade ingênua e carente de Hulk, também irão divertir. Há graça e você terá grandes chances de sair da sala com o rosto dolorido.

Mas é isso a que a Marvel se propõe? Há desequilíbrio na equação. Nem tão genial como comédia, nem tão empolgante como ação. O destino é, como quase tudo produzido pelo estúdio nos últimos anos, o esquecimento. Mesmo com o esforço do Led Zeppelin, que sempre acrescenta adrenalina quando invocado para estimular os socos e pontapés, quando os créditos iniciam, a sensação é de alívio.

A fórmula está saturada e falta consciência nas tentativas de mudança. Para minha própria surpresa, me pego faminto para que a casa do Batman se aprume, pois precisamos de novas óticas. Para o bem do público, das empresas, e não esqueçamos, do cinema.

Nota: 6. 

3 comentários:

  1. Eu não sei o que você pensa, mas eu amo os filmes. São muito interessantes, podemos encontrar de diferentes gêneros. De forma interessante, o criador optou por inserir uma cena de abertura com personagens novos, o que acaba sendo um choque para o espectador. Desde que vi o elenco de Thor Ragnarok imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos, pessoalmente eu irei ver por causo do ator Idris Elba, um ator muito comprometido. Eu vi recentemente Idris Elba em The Dark Tower. É uma historia que vale a pena ver. Para uma tarde de lazer é uma boa opção. A direção de arte consegue criar cenas de ação visualmente lindas.

    ResponderExcluir