Blade of the Immortal (2017) - Crítica

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Blade of the Immortal é um premiado mangá japonês do gênero Seinen, ação para adultos, resumido genericamente, que durou de 1993 a 2012, com 30 volumes e 207 capítulos. Sua longevidade e status de referência recebida durante os anos levaram ao anúncio de uma adaptação Live-Action, a estrear no festival de Cannes 2017. Entretanto, a famosidade da obra se deveu por fatores difíceis de se replicarem na versão cinematográfica, não apenas pela extensão da história, como por suas características extremamente violentas e maduras. O histórico de adaptações dos quadrinhos japoneses é igualmente pessimista, mas justamente o grande alento num mar de mediocridade, Rurouni Kenshin, é que serve de norte para Blade receber sua chance na grande dela, por mais diferente que sejam as histórias.

Considerando a natureza sanguinolenta do anime, nada mais pontual do que Takashi Miike assumir a cadeira da direção. Um verdadeiro respiro aos fãs. Ou mais temor, visto que o cineasta já demonstrou sua completa falta de pudor para atingir os extremos do sadismo visual. Já tendo trabalhado no ramo "Samurai" no remake de Harakiri e 13 Assassinos, entretanto, a versatilidade e experiência de Miike mereciam o benefício da confiança.

E assim ele entrega. Ou quase. Blade tem um início arrasador. Assumindo o flashback de como o protagonista recebeu o dom - ou maldição, claro - da imortalidade, Miike adota a paleta preto e branco não apenas para retratar o passado, como para homenagear as cores da mídia que serviu de inspiração como, principalmente, os clássicos do nicho, de Kurosawa a Yamada, Hideo Gosha e Inagaki, grandes nomes do cinema japonês que servem de epítome na demografia dos guerreiros nipônicos.

Confesso, inclusive, que acharia formidável um lançamento - mesmo em formato físico - que deixasse todo o filme com as duas cores antípodas, pois caiu muito bem na obra e fazem falta por todo o restante da projeção, quando as cores surgem, por mais lindo que seja ver o primoroso design de produção, nos ambientando climaticamente ao Japão Feudal da Era Tenmei.

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E é no clima retrô que somos apresentados a Blade, um Ronin por motivos que serão explicados através do longa, que vê sua irmã sequestrada por um grupo de caçadores de recompensas, 100 homens contra um, justamente no 100º filme de Takashi (segundo ele, coincidência). É o tom da obra ressaltado em sua primeira grande cena - grandiloquente, visceral e brutal. E exagerado, em significação boa e ruim.

Quem ama ver sangue jorrar, se deleita no vermelho vivo e nas insanas sequências de batalhas de Blade, estará em casa. Mas justamente essa fidelidade com alta censura acaba por ser a cruz que o impede de se registrar como marco contemporâneo dos "Samurai Movies". Com uma duração vantajosa (141 minutos), Miike não economiza das batalhas, que se tornam progressivamente cansativas. A impressão, inclusive, é de que o diretor se fadigou de filmar e filmá-las, as tornando robóticas, repetitivas.

Faltou um dos elementos chave do quesito: menos é mais. O próprio Samurai X, em especial o primeiro filme, é o mais notável da trilogia por seu intimismo em comparação às sequências, onde os realizadores caíram no erro de tentar superar com megalomania, não estratégia. Com menos, não banalizam-se as lutas, e as coregrafias centrais conseguem nos surpreender em sua criatividade única, o que não parece ter sido uma preocupação da equipe por trás de Blade, já que quanto mais homens o protagonista enfrenta, mais irrealista, monótono e cansativo soa, um verdadeiro massacre. Isto, naturalmente, sabota a catarse que deveriam ser tanto os confrontos secundários quanto principais, até chegar o momento em que, ao vermos outro antagonista surgir no horizonte, suspirarmos "Mais um?".

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Sem contar que o fato exposto de sua imortalidade acaba com a expectativa de como este sairá de um desafio, seja com um homem, seja com mil, por mais que o roteiro introduza obstáculos que colocam em risco sua regeneração aqui e acolá. Após o 10º desmembramento, cada pedaço de corpo jogado metros longe é tão inofensivo quanto um pelo que se desprendeu da perna.

Ainda que Takuya Kimura represente bem a virilidade e rancor do espadachim, é inevitável que paramos de nos preocupar com seu destino. O mesmo ocorre com Rin, protegida o veterano, cujas ações e acessos irritadiços a tornam paulatinamente insuportável. E se você acha que é impossível ignorar uma personagem por sua tenra idade, vale lembrar de "A Profecia", "Anjo Mau", "Babadook", "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e Jaden Smith em qualquer papel. Também não esquecemos Dakota Fanning em Guerra dos Mundos.

O efeito é intenso pois ele nos acomete conforme a película atinge seu clímax, quando deveríamos estar no ápice da imersão e apreensão pelo próximo golpe. Mas não, apenas impacientes e chateados. Uma análise retroativa revela como há qualidade em Blade. Só não o suficiente.

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Nota 6. 

5 comentários:

  1. Eu colecionava "Blade - A lâmina do imortal" do tempo que ainda era publicado aqui pela Conrad.
    Mesmo não tendo idade pra entender todo o contexto obra, eu era fascinado pelos traços e pelo que eu conseguia entender da história.
    O filme é muito cansativo, não por ter mais de 2 horas, nos 40min eu já queria desistir de ver, mas me obriguei a assistir até o fim, na esperança que iria melhorar (o que não aconteceu).
    Acho que o melhor ponto desse filme é o elenco, acho que eles atuaram super bem pro que foi entregue a eles.
    Como fã da obra: decepcionado.
    Como alguém que assistiu algo por + 2 horas e não gostou: chateado.
    Minha nota pra esse filme é 4.

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    1. lol, comentei com minha conta do google, e nem pra apagar dar. Rilitros.

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    2. Dizem muitas coisas boas sobre o mangá mesmo, mas a quantidade de volumes me desestimula. De qualquer modo, fica a impressão de que há um cerne dourado na história, mas que se desvincilha da proposta de Miike. Uma pena.

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  2. Assisti o filme com uma expectativa relativamente alta e acabei dormindo duas vezes. Tudo bem que sou suspeito por dormir em filmes que são considerados bons, mas que eu simplesmente não consigo acompanhar.
    Realmente, a primeira parte do filme é sensacional, inclusive me senti até um pouco culto quando percebi a referência do preto e branco.
    Em suma, queria ter tido outra experiência, mas só tive sono.

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    1. "(...) me senti até um pouco culto quando percebi a referência do preto e branco. " HAUHSAUHSUAUS

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