BlackPink: Light Up The Sky (2020) - Crítica

A alternativa mais atraente em um documentário sobre celebridades não está nos bastidores do seu trabalho ou no mito ao redor das figuras. Nós já as vemos como os ícones distanciados por camadas de agenciamento e treinamento comportamental. Está justamente na desconstrução dessa imagem, na ação iconoclasta necessária para a humanizar as entidades, as destituindo dessa terminologia e ressignificando a personalidade para fãs ou meros espectadores interessados. 

Pois sim, amamos os ídolos por mais plastificados e pasteurizados que eles sejam. E a queda da manta que nubla a visão que separa o real do fictício pode gerar uma aversão perante a pequenez ou caráter duvidoso da pessoa. Mas quando bem explorado (ou ainda camuflado), o aprofundamento na personalidade por trás do símbolo serve justamente para solidificar a relação de quem já a ama, mas principalmente, criar uma empatia através de suas fragilidades, desejos e medos. 

O documentário do Blackpink, assim, é ágil como a indústria do kpop em edificar seus produtos para um público alvo, pois ao mesmo tempo em que aborda um lado mais introspectivo das garotas e reforça sua interação amistosa, pouco deixa de jogar seguro para, ao mesmo tempo, aumentar a reverência com o grupo. Em suma, é um excelente trabalho de relações públicas. 


O lado da humanização das meninas, que seria disparadamente o mais interessante para quem as conhece somente como produtos de mídia, máquinas humanas de dança e canto, com lindos rostos de estampa de embalagem, é exposto em poucos minutos, mas coadjuvante ao suplemente disposto no poder delas como idols. Uma embasamento apoiado em todas as epítomes de rainhas do k-pop, girlspowers e etc...É só perceber como há bastante enfoque na glamourização dos eventos, na força de mover multidões e, numa evidência de seu foco como material introdutório a um público leigo majoritariamente americano, a apresentação no coachella como um clímax de carreira. 

Dispendendo boa parte de seus breves 79 minutos nesta abordagem enfeitada, o documentário é básico e um material de fanservice para fanáticos vibrarem a imagem endeusada das quatro garotas. São os discretos momentos de desabafos e filmagens de convívio mundano que abrilhantam a experiência, buscando o lado feminino e "comum" dessas quatro forças da natureza. Porém, com óbvio controle da YG em rédeas curtas, como funciona o sistema do Pop Coreano, são poucas as revelações relevantes e que não parecem justamente um ensaio em forma de manipulação emocional. Quem mais se aproxima de uma amostra puramente humana e empática é Rosé, ao comentar sobre como se sente após os shows, palavras que soam preocupantes e revelam sintomas de algo até mais grave, mas que são rapidamente editadas para aliviar a força do desafogo. Os perfis do resto das meninas extravasa muito pouco além do convencional, ou nem além disso, se contentando em descrever como elas chegaram na YG, pintando-as como as mesmas figuras unidimensionais que os MVs mostram. 


Talvez, nada mais expresse a simbologia do documentário que a participação do enigmático Teddy Parker, com seu rosto escondido por um boné e duas máscaras, além de roupas negras e pesadas, envolto num personagem que parece a materialização de um protagonista recluso de anime. O produtor que assina quase todo hit da YG há alguns anos nunca foi de dar às caras, e sua aparição justamente na obra do quarteto mais querido da empresa em anos busca simplesmente promover a própria reputação, o mito ao redor de si. 

Isto não é culpa das garotas, é claro. Quem vive no K-pop há algum tempo sabe, e breves pesquisas aos leigos são suficientes para termos vários exemplos de como as empresas exploram as adolescentes até virarem mulheres (ou homens) em troca de fama e um controle em todos os detalhes de suas vidas. Novamente, as meninas mencionam isso, mas a montagem é ágil em fazer parecer um autosacrifício necessário para o sucesso, e não uma atitude desumana e descabida. Elas vão atrair simpatia e carinho imediatos pois são lindas e carismáticas, mas como desenvolvimento, pouco é oferecido de material realmente inédito e aproveitável aqui. 


BlackPink: Light Up The Sky oferta uma agradável hora e vinte minutos em companhia de quatro das mais emblemáticas imagens que o K-pop já criou. Mas muito aquém do imprevisível, ele não se esforça para as pintar fora da caricatura que vemos nas telas de vídeos e shows. E nada poderia ser mais k-pop do que isso. 

4 comentários:

  1. Realmente, o doc chega a ser bonitinho demais e aliviam todo o lado negativo. E o resultado é bom, né kk Gostei da analogia ao "isso é k-pop". Vi uns coments de gente se surpreendendo com a parte dos treinos, o que só reforça como o Blackpink abriu público pro k-pop, afinal, os antigos já sabem disso tudo e muito mais. Mas viva o "Blackpink in your area".

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    1. Mas não curto muito essa falsa generalização que na verdade é monopolizada. A galera curte BTS e BP, não KPOP.

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    2. Entendo. Verdade. Me incomodo com isso tb. Ainda mais com gente que mantenho contato e se diz kpopper, mas só conhece esses grupos.

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