Coração de Lutador: The Smashing Machine (2025) - Crítica

Os mecanismos da biopic esportiva, do mais blockbuster ao mais cult, pouco se diferenciam em sua completude. A ascensão, a queda e os respectivos motivos que a provocam; os dramas familiares, os vícios, o outrora gigante combalido resistindo à própria decadência — tudo isso já se tornou quase um ritual do gênero. Muitos clássicos, ou ao menos grandes filmes, nasceram daí: Touro Indomável, The Wrestler, Warrior, The Fighter, e, mais recentemente, Iron Claw, com Zac Efron.

Foi a escolha para o retorno de Benny Safdie à cadeira de diretor após a misteriosa cisão com seu irmão, Josh (que também retornará neste com Marty Supreme). Somente após assistirmos a este segundo longa teremos uma certeza exata do papel ou cabeça de cada um dos irmãos em seus projetos, mas é possível assinalar certos motes dos longas prévios de ambos na assinatura impuntada em Smashing Machine, tanto tematicamente, ao escolher contar a história de alguém meio perturbado em um ambiente de pouco glamour, apesar de momentâneo sucesso, quanto tecnicamente, na fotografia granulada e câmera manual, quase como se seguisse um documentário (que, aliás, foi a fonte primária para o longa, inclusive com o mesmo título, lançado em 2002).

Um incômodo, entretanto, é tentar encontrar um núcleo dramático ou direcional no próprio longa e roteiro, tão alardeado na temporada de prêmios, assim como a atuação de The Rock, ele mesmo seu maior adulador e todas as histórias sobre ir até um ponto amargo e obscuro de si mesmo, após uma carreira de caricaturas confiantes, otimistas e vencedoras. E ele convence, certamente num esforço novo em sua carreira, revelando comprometimento e mais potencial. Porém, e talvez isto seja culpa da expectativa, não deixa de ser tão somente uma boa atuação, de alguém do qual você não espera isso e, logo, uma novidade, não um trabalho excepcional. A maquiagem e próteses fazem muito do trabalho, inclusive. E durante a parte "boa" da carreira de Kerr, não se dissocia muito o The Rock costumeiro do wrestler. Sorridente, positivo e educado, uma persona quase que criada para a publicidade, em contraste com sua postura e físico intimidadores e agressivos.

Entre o balanço dramático de lutas e trama familiar, aliás, Safdie demonstra muito interesse, mas pouca inspiração nos confrontos, certamente uma decepção. Eu não sou fã de lutas, mas são incontáveis os longas que as fazem parecer animadas, excitantes e estéticas dentro dos poderes do cinema. Fatores usados para potencializar o próprio discurso das narrativas, provocando o choque da queda e, especialmente, a catarse da vitória. Se o próprio Iron Claw, tão recente, fez isso sobre um período ainda anterior a Smashing Machine, acho que retratar um momento ainda pré-globalização do MMA não serve de desculpa, com confrontos feios de se assistir, brutais e selvagens.

Isto acaba servindo mais para ilustrar a derrocada de Kerr, impotente apesar de seu físico, no ringue. De bruços ou todo encolhido no chão enquanto é impiedosamente golpeado. A fragilização do personagem vem acompanhada da voz aveludada e suplicante do ator, incapaz de achar uma resposta para sair de tais circunstâncias mesmo quando consegue se livrar do vício em opióides.

Ao redor, Safdie parece pouco interessado em aprofundar relações, satisfeito com a "brotheragem" do protagonista com Mark Coleman para mostrar um lado mais amistoso, masculino e frágil do personagem, restando a Emily Blunt, novamente, tentar fazer milagre somente como a esposa de um homem famoso e de status, transitando entre a histeria e a toxicidade penosamente.

O gosto final de Smashing é meio amargo, sem justificar as expectativas que a própria equipe ergueu ao redor do filme, com pouca inspiração e criatividade para filmar os combates e muita incerteza e falta de foco para alinhar os dramas pessoais nesta jornada. Com alguma condescendência, Smashing Machine parece muito como uma homenagem a um herói pessoal de infância. Veremos como se sai Marty Supreme para termos algum veredicto de qual Safdie é o verdadeiro agente do caos que vimos nos primorosos Good Time e Uncut Gems.

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