Tron: Ares (2025) - Crítica

O mundo precisava de um Tron 3? Provavelmente não. Mas o mundo precisa de algum filme, teoricamente falando? Acho que não também. Mas eles podem se fazer necessários após o lançamento, seja por qualidade, pioneirismo ou contexto. E, em termos de contexto, talvez nem mesmo o original tivesse tanto sentido quanto este terceiro capítulo desta curiosa saga iniciada nos anos 80. Afinal, estamos na era da IA, e, num mundo com vida cibernética, é somente óbvio utilizar tal mote para buscar uns milhões — e quem sabe trazer algum propósito e discussão nisso.

Bem, Tron: Ares até tenta isso, muito rapidamente, superficialmente. O começo é promissor, visual e discursivamente. Ao menos quando deixamos de lado um provável preconceito pela presença de Leto como protagonista, em pleno 2025. Faz sentido, na verdade, pegar um ator que parece tão rígido, vazio e desalmado, tão desprovido de presença, para interpretar uma IA criada artificialmente para servir, de modo inconsciente, como um antivírus. Obedecer e seguir comandos, não pensar. 

A discussão sobre a crise digital afetando os meios de vida contemporâneos, entretanto, não é exatamente nova, e podemos trazer Isaac Asimov e até mesmo Digimon nesse debate, ambos com muito mais êxito em sua missão. Aliás, na busca por sentido, até mesmo a escolha previamente justificada de Leto perde-se, visto que o ator não consegue aprofundar ou dramatizar a busca de seu personagem pelo arco de Pinóquio. Neste ponto — e não que os outros Tron fossem grandes roteiros —, mas Ares consegue se sair ainda pior em desenvolver suas figuras ou ao menos preencher algum carisma nas caricaturas de seu universo. É difícil se importar ou se interessar por seus esforços, numa experiência que se aproxima da passividade e indiferença ao que se vê em tela - ao menos tecnicamente bonito e impressionante. 

O vilão de Evan Peters, por exemplo, pouco mais é do que um retrato unidimensional do herdeiro bilionário maníaco e egocêntrico, obcecado por reconhecimento e poder, e mesmo Gillian Anderson serve somente de contraponto decorativo ao rapaz, seu filho, com zero química em sua relação. Já no mundo digital, com somente antagonistas introduzidos, nenhuma personagem se equipara à Quorra de Olivia Wilde, em design e personalidade, além de sua boa química com o personagem de Garrett Hedlund, que tornou o filme de 2010 mais simpático e relacionável. 

Com um argumento tão raso e aparentemente contente em parecer inteligente e relevante por tocar em tal assunto, ao menos poderíamos esperar que a direção de Joachim Rønning nos divertisse com facilidade pelos designs tão chamativos e cheios de oportunidade que Tron proporciona. E, como supracitado, o longa tem início promissor nesse aspecto, com perseguições de motocicletas e lasers criativas e eletrizantes, se não exatamente tensas — mas até isso vai se esvaziando conforme a narrativa anda e naufraga, apelando para o maior pecado da ação: a megalomania despropositada. A escala aumenta, e, com ela, qualquer coreografia ou senso pessoal de perigo. Sobra somente o pior de Michael Bay: explosões e cenas incongruentes para todo lado. Mais é menos.

Tal qual fizera em seus Piratas do Caribe e Malévola 2, Rønning, um diretor que costuma entregar trabalhos razoavelmente bons quando num epicentro íntimo, se perde num escopo épico, sem qualquer intimidade com a ação e a ficção de grande orçamento. O diretor parece ter somente pressa para finalizar o projeto, e pouco de autoralidade — nada? — sobra conforme o mesmo avança. E, apesar de este ser um projeto da Disney — o que por si só soa contraditório —, ao menos diretores mais sutis e ousados conseguiram imprimir alguma crítica ao sistema mesmo em franquias celebradas — veja Rian Johnson em Star Wars ou Ryan Coogler em Pantera Negra.

Para não ficarmos somente em críticas, ao menos alguém se sai bem de modo consistente aqui, e isto é a trilha sonora do Nine Inch Nails, fazendo jus ao brilhantismo do Daft Punk na fita anterior, com acordes de um rock eletrônico que embalam tanto o mundo virtual quanto o real, conferindo peso, urgência e circunstância a uma narrativa que, na contramão, faz de tudo para rejeitá-la. Há também, esteticamente falando, cenas intrigantes e pitorescas se passando dentro de um game retrô dos anos 80. Mas novamente, quase como um showroom, um catálogo visual sem conteúdo. 

Tron: Ares, ao final, deixa aquela sensação de quando uma grande corporação — uma ainda em má fase — tenta entrar numa trend humorística, e, ao buscar reproduzir um meme, somente lhe tira qualquer interesse ou graça. Tão artificial quanto a atuação de Jared Leto e seu Ares, o ator é o sumário perfeito do filme: bonito, porém oco. 

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