Crítica - Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016).

Batman vs Superman: A Origem da Justiça/ Batman x Superman: Dawn of Justice, dirigido por Zack Snyder.

Batman e Superman são figuras que transcendem mídias, tendo seus nomes, identidades e uniformes conhecidos mundo afora. É natural, então, que seja através da fama dos dois que a Warner, correndo para recuperar o tempo perdido, busque dar inicio para seu grande grupo de heróis. O resultado disso é um filme divertido e que desperta interesse pela continuidade do universo, mas com erros imaturos e até previsíveis que o impedem de ser algo além.

O longa, que passou por várias intempéries durante sua produção, além de várias críticas por sua equipe e elenco, começa justamente ao apresentar o mais bombardeado destes: o Bruce Wayne de Ben Affleck. Primeiro em breve momento qual vemos sua conhecida origem, para então saltarmos ao presente em uma intensa e estimulante cena onde é mostrado o ponto de vista do homem-morcego perante os acontecimentos de "O Homem de Aço", hábil em justificar o início do desgosto do bilionário para com o kryptoniano. 

O desdenhado Affleck é, aliás, um ponto positivo de BxS, com uma composição mais velha, ranzinza e agressiva do morcego, à lá Cavaleiro das Trevas. O ator consegue passar uma simpatia ao herói, mesmo com o vago desenvolvido dado pelo roteiro, ao contrário de seu parceiro de título, o insosso Henry Cavill. Assim como fora em Man of SteelCavill mantém-se com sua expressão séria, fria e sem alma, o que dificulta ainda mais qualquer identificação com Superman, algo que já é difícil devido a natureza onipotente e irritantemente pura do personagem.


Mas não seria justo criticar apenas o ator, pois o roteiro de David S. Goyer e posteriormente acabado e lapidado por Chris Terrio, não deve ser absolvido. É nítida a urgência com que o texto tenta discutir vários temas ao mesmo tempo com que introduz tantos personagens. E é na afobação de abrir as portas para a Liga da Justiça, que Batman x Superman quase sabota a si mesmo, pois a interessante questão do debate Deus x Homem e a autoridade de Superman é explorada de modo vazio e pueril, com uma conclusão clichê e melosa, e o mesmo ocorre com alguns dos novos personagens. Por mais que a atuação de Jesse Eisenberg como Lex Luthor seja uma bem-vinda mudança à saturada imagem clássica do vilão, o magnata perde impacto devido a fragilidade de seus motivos e atitudes. Jeremy Irons é outro terrivelmente subaproveitado. A salvação, entretanto, está em quem menos se esperava.

A participação de Gal Gadot como Mulher-Maravilha, se analisada friamente, não possui uma grande utilidade se não a comercial, mas a forte presença da atriz camufla a falta de desenvolvimento da semideusa - e logo espero um background eficiente em seu filme solo. Duramente depreciada quando teve seu nome confirmado como a amazona, Gadot, que exibe uma compleição respeitável, ao contrário de como muitos julgaram, cala os críticos e rouba a cena dos homens em seu momento. Vale lembrar que é a segunda mulher a dominar um mega blockbuster em menos de 4 meses, após Daisy Ridley, em Star Wars(em contraponto a estas, é triste ver como a talentosa Amy Adams foi relegada a um papel de dama em perigo. Em pleno 2016. Sério?!).

Gal Gadot rouba a cena, mesmo com pouca exploração de sua personalidade.
A aparição de Gal é inebriante e pontual - de vibrar mesmo -, no ponto alto do clímax. Mas antes de seu surgimento, infelizmente, os excessos de Zack Snyder em muito comprometem a qualidade final da película. O diretor está numa decadência esterrecedora, pois após os sucessos de "Madrugada dos Mortos", "300" e "Watchmen", parece ter acreditado no seu mito de inovador, e passado a emular a si mesmo de uma maneira exagerada e sem sutileza alguma. A utilização de slow motions e a outrora laureada paleta de cores demasiadamente escura (um oposto competitivo ao ambiente claro da Marvel), que ofereciam uma marca única ao cineasta, agora são apenas jogados na tela sem propósito aparente que não o estético, e a frequência nada comedida com que os usa, nada acrescentam na narrativa, e sim a afetam.

O diretor marombado demonstra também uma cerca preguiça nas cenas de ação, ao apelar para efeitos megalomaníacos de fazer inveja a Michael Bay, com explosões e prédios caindo toda hora, como se fossem simples folhas se desprendendo durante o outono. O que envolve pancadaria, tão essenciais no gênero, decepcionam igualmente, com um posicionamento confuso de câmera, como se evitasse mostrar ação e reação dos golpes em um único plano. São muitos cortes e tremedeiras que acabam com a fluidez e veracidade das batalhas. O confronto definitivo entre Batman e Superman continua sendo na animação "O Cavaleiro das Trevas: Parte 2", o que é inconcebível tamanho o orçamento que Zack teve para trabalhar.

As peculiaridades de Snyder deixam a incógnita se não seria melhor caso a Warner colocasse outro profissional encarregado da franquia, pois o atual demostra cada vez mais uma incapacidade latente de fugir de seus maneirismos, e como dito, estes são apenas prejudiciais.

Mesmo com tantos erros, Batman vs Superman deixa, em seu final, exatamente aquilo que se espera de um produto como tal: a curiosidade e ansiedade para o que teremos a seguir neste universo. Mas para ir além do bom e realmente deixar uma marca, ainda falta algo, e o primeiro passo, talvez, seja dando uma chance a novos realizadores.

Nota: 6.

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