Artemis Fowl: O Mundo Sombrio; Um dos Piores Filmes de Todos os Tempos - Crítica
Vamos brincar de montar o pior blockbuster de todos os tempos?
A direção confusa de Transformers. A trama apressada de Eragon. A verborragia de Godzilla: Rei dos Monstros. Os conceitos ridículos de Batman & Robin. O CGI exagerado de Ameaça Fantasma. Personagens detestáveis de Ataque dos Clones. A covardice de Ascensão Skywalker. A falta de alma e personalidade dos filmes da Marvel. A vilã de Esquadrão Suicida. As atuações de Velozes e Furiosos. A deterioração do material original em X-Men Origens: Wolverine. A conveniência de Batman vs. Superman e, finalmente, a ação genérica de Robin Hood.
Seria terrível, com certeza. São todos longas bem questionáveis, mas com pelo um outro aspecto positivo em meio ao caos. Seja alguma atuação bacana, como Hugh Jackman interpretando o carcará, os efeitos deslumbrantes de Godzilla e o universo criativo dos Star Wars.
Agora, condense todos eles em uma única fita, e teremos Artemis Fowl.
O longa, cujo lançamento foi relegado ao Disney+ após a epidemia de Coronavírus, sem nem sequer demonstrar interesse em adiar a data, como a empresa fez com outras mega-produções suas, deve inclusive agradecer ao vírus para não se tornar um dos maiores rombos e fracassos da história do cinema. Comercial e artisticamente. Existem muitos filmes ruins nesse mundo, anualmente, e mesmo entre eles, a obra dirigida por Kenneth Branagh consegue se destacar, criando uma nova definição para "fundo do poço".
Desde que Senhor dos Anéis e Harry Potter derreteram as bilheterias no começo da década passada, os estúdios nos inundaram com adaptações literárias de fantasia, especialmente as de cunho infanto-juvenil. Em busca do novo ouro, até houve acertos financeiros (foco nesta palavra) em Jogos Vorazes e Crepúsculo, mas os fracassos foram bem mais numerosos e retumbantes. Percy Jackson, Eragon, Spiderwick, todas potenciais franquias enterradas por um projeto mal feito, em que até se via um potencial conceitual no universo retratado, a despeito da qualidade do material original, mas que se perdeu em algum ponto na transição entre literatura e cinema. Artemis Fowl, entretanto, não nos dá o benefício da dúvida.
Um filme tão equivocado em cada elemento de sua composição, que nos faz criar uma antipatia natural por seu material de origem, que pelo que li, é bem elogiado pelos leitores, que naturalmente detestaram a adaptação. Eu, que sou um defensor da autonomia de mídia, sem depender de fidelidade ao material original, me compadeço dos fãs, que certamente devem ter tido uma experiência similar a um atendado terrorista. E como admirador de Eragon, eu bem entendo isso. Um filme não precisa ser essencialmente leal ao livro, o que o tornaria inclusive entediante a quem já conhece a história. Mas também não precisa assassiná-lo. Os próprios Senhor dos Anéis e Harry Potter tiveram diferenças pontuais aos livros, para funcionar melhor como filme, ou então alterar elementos que soariam estranhos no formato.
Kenneth Branagh, um ator invejável e que teve um início de carreira estimulante por trás das câmeras, aqui completa a venda de sua alma para os grandes estúdios nesta década. O que iniciou no falho Thor, seguiu ao insosso Cinderela e então no decepcionante Assassinato no Expresso do Oriente, atinge uma derrocada imprevisível, mas não surpreendente, num trabalho que transcende o piloto automático e parece oriundo de um desejo sádico do diretor em prejudicar a própria obra, buscando tornar as cenas de ação ainda mais confusas e desinteressantes e os personagens mais detestáveis do que o roteiro ralo e as atuações fracas permitem.
É completamente incompreensível, mesmo que se a Disney tivesse oferecido um bilhão de dólares aos envolvidos, ver nomes como os de Branagh, Judi Dench e Colin Farrell no projeto, conferindo aos três um ponto ainda mais baixo em seu currículo, o que poderia parecer impossível quando lembramos que o primeiro esteve em As Loucas Aventuras de James West, o terceiro em Demolir e a segunda no recente Cats, fazendo assim talvez a pior sequência de filmes da história do cinema. Pior aos jovens que tentaram alavancar aqui, já que produziram o imediato efeito contrário.
Com noventa e quatro minutos que superam em tortura os milhares das novelas da Globo, Artemis Fowl é ruim a ponto de só me permitir escrever desta maneira sensacionalista. É de se imaginar que os envolvidos irão esquecer rapidamente da obra, contentes de não precisarem participar de uma première nem a necessidade de promoverem o longa mundo afora, se poupando do constrangimento. A Disney, igualmente, usou o vírus somente como desculpa para evitar um rombo ainda maior do que "Uma Dobra no Tempo", o que urge ainda mais a necessidade de uma reflexão artística no setor de live-actions da empresa.
O mínimo aceitável para expiar nossas almas seria que a Disney desse ao menos um semestre de assinatura gratuita ao Disney Plus, uma viagem a um parque de livre escolha ou então um ano de cruzeiros com direito a tudo sem despesas. E seria somente um começo.
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