Pokémon Sword & Shield: 01 - Uma Origem nem tão origem assim


E então, 2019 se aproxima do fim, todo mundo finge que a década está para terminar (quando na verdade a próxima só inicia em 2021), e com ela, chega também a versão animada da 8ª geração de Pokémon, que dá vida ao universo dos jogos de Sword & Shield, apesar de cada vez mais se distanciar da região específica dos games atuais.

Ao contrário de Sun & Moon, Galar chega com mais entusiasmo positivo e boas expectativas. Enquanto da última vez a mudança radical de design atiçou os saudochatos, o novo estilo é mais sutil em comparação à mudança brusca de antes, e narrativamente, Sun & Moon acabou por ser bastante surpreendente (da melhor forma), o que confere o benefício da dúvida. Além de tudo, por mais que os jogos tenham conseguido atrair bastante hate e críticas por suas revelações prévias na dex, o negócio dos Pokémon gigantes e dinâmicas, o anime, na contramão, optou por um marketing sábio e com escolhas mais acertadas, mesmo que arriscadas.

A vitória da liga de Ash, após mais de vinte anos de derrotas humilhantes e outras injustas (alô Sinnoh), soou como um final de ciclo, o que fomentou um desejo antigo do fandom, de ver o anime abraçar um conceito mais maduro e com novo protagonista, como o Origins. Ou seja, um reboot.

Não foi o que recebemos. Mas as novidades não foram decepcionantes. Go, o novo personagem, é descrito como protagonista, e não somente um coadjuvante, aos moldes de Brock e todas as companheiras femininas de viagem, que desta vez será Koharu, amiga de infância de Go e filha de Sakuragi, professor residente em Vermillion.


A mais impactante, no entanto, se deve ao fato de que, ao contrário do que ocorreu com o anime desde sua criação, é de que a aventura passará em todas as regiões já conhecidas, até chegar de vez em Galar. Claro que talvez seja uma afirmação sensacionalista, e a passagem de Kanto a Alola seja breve, deixando o grosso da história no novo continente, o que não deixaria de fazer sentido mercadologicamente, visto que o anime sempre foi um marketing aos games (mesmo que tenha se tornado muito mais do que isso). O sucesso dos filmes 20 e 21, que foram tramas paralelas à de Sun & Moon, motivou esta escolha, já que a nostalgia tem vendido mais que o presente na franquia, algo que o mobile Go deixou bem claro (e aí o nome do novo protagonista, mesmo que seja uma palavra originalmente japonesa).

Sem mostrar a cientista regional, Magnolia, e com protagonistas nativos de Kanto, as referências a Galar, neste primeiro episódio, estão somente na abertura. Sabemos que Go terá um Scorbunny, o inicial de fogo da região, o que denota sua ligação com Galar (talvez ele só esteja de visita a Kanto no período mostrado no capítulo, e seja natural do novo Continente). Como todo começo de aventura, a história é mais focada em saudosismo do que evolução da trama, e ao menos dessa vez tivemos um acréscimo interessante ao canon da série, que é a origem de Pikachu.

A falta de planejamento a longo prazo da franquia, que fora criada inicialmente para durar somente uma geração no anime, gerou um efeito em cadeia basicamente resignado por meio dos executivos, que inserem fatores que deveriam, em tese, influenciar várias das escolhas presentes anteriormente na franquia, mas que devido a isto, acabam sendo ignoradas ou inseridas abruptamente (por meios críveis ou não) conforme as gerações passam. Evoluções e pré-evoluções de Pokémon já apresentados, porém exclusivos de uma nova região, novas ferramentes, personagens novos, mas que já possuem passado com figuras estabelecidas. Pokémon não é exatamente um produto de roteiro coerente, e cabe a nós aceitar que isto é consequência de um universo ainda em expansão, mas também um certo abandono e esquecimento gerado pela frequente modificação dos responsáveis pelo anime.

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Mas enfim...No piloto de Pokémon, há mais de 20 anos atrás, Pikachu surgiu já em sua segunda forma (à época, a primeira), com uma personalidade forte e irritada. Pichu, sua pré-evolução, fora revelada somente na segunda geração, o que cria um desses rombos cronológicos. Se é um Pokémon de Johto, como Kanto poderia ter somente sua versão evoluída, visto que Carvalho considerava cada Pokémon de outra região uma nova descoberta? Só nos resta aceitar.

Assim, nesta resignação, é bacana termos uma origem ao eterno companheiro de Ash, em sua forma de nascença, mesmo que não seja uma origem muito completa e que ainda deixa várias perguntas no ar. Ainda que se trate de um kodomo, acredito que as crianças mais perspicazes perceberão algumas lacunas. Por trás de todo o carinho da parceria do ratinho amarelo com a família Kangaskhan, reside ainda o mistério de como Pikachu acabou com o Professor Carvalho, onde Ash o pegou, e por qual razão sua personalidade mudou tanto da criatura dócil e simpática mostrada no episódio. Talvez seja somente uma adaptação aos novos tempos que teremos, novamente, de abaixar a cabeça e deu, assim como a personalidade do próprio Ash se modificou para uma mais otimista, inocente e inofensiva através das gerações, ao contrário do moleque petulante, teimoso e irritante visto em Kanto. 

Foi um episódio bonito e com bastante sensibilidade, mas que neste sentido, não deixa de ser um desperdício. Perderam a chance, por exemplo, de mostrar o pequeno Gary, que dificilmente perderia o acampamento de seu avô (e falando em acampamento, não é em um que Ash conheceu Serena?!), e uma rivalidade incipiente com Ash, além da dúvida de quem ficou com o Charmander e o Bulbasaur do laboratório, já que quando o protagonista chega, atrasado, ao local, só resta o esquentado Pikachu (considerando que o próprio Gary optou pelo Squirtle que, evoluído em sua última forma, protagoniza uma das batalhas mais catárticas do anime, contra o Charizard de Ash na Liga Johto).

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Ao fim, mesmo não sendo um Reboot, este Pokémon 2019 é mais destinado às novas crianças do que os velhos dinossauros que insistem em acompanhar a jornada, que lembram muito mais dos detalhes do anime que os próprios envolvidos. Uma exigência inútil que gera somente insatisfação, frustração e revolta. Nos resta respeitar e aproveitar o que resta, que é uma história com bastante potencial, confiando que o amadurecimento sentimental que a obra apresentou em Sun & Moon seguirá nesta nova empreitada.

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