The Flash (2023) - Crítica

Na arte, o objetivo e o subjetivo flertam indefinidamente, e toda obra vai apresentar suas ideias distribuídas em camadas que se elaboram em metáforas e mensagens, seja no mais complexo indie ou no mais básico filme de heróis. The Flash naturalmente não é uma exceção, mas se toda obra expande seu significado livremente quando atinge o público, talvez uma analogia acidental do longa seja exatamente uma representação da própria jornada do DCEU nos cinemas: uma bagunça selvagem e caótica.

É uma experiência quase culposa, no mínimo confusa e por vezes até embaraçosa assistir a The Flash, com pouca ciência do passado do personagem nesta miscelânea desenfreada da DC e uma incógnita em seu futuro. Com remedos de desenvolvimento, é uma (falta de) estratégia no lançamento e construção de seu universo e personagens que já deixaram o preço neste reboot forçado e uma sequência desanimadora de bilheterias. Porém, há de se fazer justiça, que a experiência, por mais inimaginável que seja, também consegue exalar virtudes e ser divertida e até emocionante, ainda mais se for possível desassociar o filme do contexto do DCU e as polêmicas de Miller - ou, preferencialmente, desconhecer tal emaranhado. 

E Ezra, por mais mirabolantes que sejam suas notícias fora de tela, entrega dentro dela um trabalho técnico que faz um grande serviço para driblar a falta de familiaridade e conhecimento que temos com seu personagem dentro deste universo, criando seu Barry num misto de insegurança e comicidade mas também um latente desejo de aceitação e ser amado, por mais que o roteiro pareça se esforçar em deixá-lo quase que inteiramente como um arquétipo de palhaço pobre e preguiçoso. 

Se quase tudo que se explica de errado no DCU está na pressa em tentar elaborar uma cronologia sem apresentar e construir tal mundo como a Marvel (como se esta tivesse iniciado nos Vingadores), perdendo 10 anos numa tentativa de ganhar uns 6, é irônico e esperado, entretanto, a celeridade com que a história progride, com bastante impaciência para acabar e plantar os argumentos para o vindouro reboot mais do que de fato criar uma atmosfera interna. É como se Gunn e a galera da Warner/DC já entrasse no projeto tendo desistido dele, criando essa sensação de velório, de enterro do longa, e talvez só isso explique a infinidade de efeitos ruins que jorram em tela, chegando num ponto que só aceitamos a estranheza, por mais que nunca deixe de incomodar ver rostos que deveriam chamar atenção por referências, mas só causam desconforto e fragmentam a imersão. 

The Flash é, certamente, um filme bastante retalhado e remodelado para servir ao que Gunn almeja para seus projetos, e entre estes pedaços que vemos algumas fagulhas de qualidade que vão além da diversão barata e nostalgia rasa que são entregues pela equipe. Como supracitado, Miller, que já se confirmou grande ator, anos atrás, em "Precisamos Falar Sobre Kevin" e "As Vantagens de ser Invisível", talento que parece ter se perdido neste ínterim, carrega com leveza e dinâmica entre suas duas figuras em tela, ao passo que se Keaton mostra uma automação robótica em seu Bruce Wayne, não se diz o mesmo da "revelação", a Supergirl de Sasha Calle, que é jogada no papel subitamente e mesmo assim entrega uma performance de pulso, energia e dor que certamente a tornam subestimada dentro do próprio filme como um desperdício caso seja abandonada em sua continuidade. Somente mais uma das boas ideias sabotadas num novelo sem planejamento integrado.

Isoladamente, The Flash diverte com certas piadas e atuações que convencem em meio à trama acelerada e demasiadamente complexa para o que é o primeiro capítulo solo de seu herói, muito disto imposto pelo que se desenha na franquia. Não é uma pena exatamente pois a única esperança do DCU é mesmo um reinício, ou o mais perto disso. Ainda temos um claudicante  e desinteressado Aquaman 2 pelo caminho, mas The Flash parece ter sido o amálgama definitivo que representa o DCEU em todos seus erros e acertos, infelizmente desproporcionais. 

2 comentários:

  1. Um filme fraco com seus bons momentos. Ou um filme ok com uma qualidade muito variável. E não serve nem como fim de toda uma era nem como começo do próximo DCU, pra ser sincero. É só um filme qualquer, vide aquele final horroroso.

    E antes de Aquaman 2 chegar pra marcar o "fim" (bem entre aspas, pq já estudam continuação de Flash), ainda teremos Besouro Azul.

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    1. Esqueci completamente do besouro azul, mas pelo que li ele faria parte do "novo" universo.

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