F1 - O Filme (2025) - Crítica
Acho que poucos filmes me deixaram tão ansiosos neste ano quanto F1: O Filme. Nem tanto pela minha paixão pela categoria, que não é exatamente tão forte. Eu mais acompanho resultados e momentos que as corridas em si, e sim pela produção, pelo matéria de divulgação, os filmes de corrida em si, que é um subgênero muito marcante e empolgante, mas especialmente pela venda de um “Top Gun Maverick” de F1.
Após o sucesso colossal (e merecido) de Maverick, muito pela direção e a dinâmica de elenco dos rapazes do projeto Top Gun, além da centralização estelar do Cruise, basicamente toda a equipe técnica daquele se uniu para realizar este filme, com aval e apoio da F1 e distribuição e produção da AppleTV. E o resultado realmente é um tentativa de emular a catarse, emoção e sensações daquele Top Gun para uma pista de Fórmula 1, com os mesmos produtores, mesmo diretor, na figura de Joseph Kosinski, Hans Zimmer na trilha sonora, mesmo diretor de fotografia e roteirista. Até mesmo a construção da trama, alguns quadros e sua estrutura são análogas. E isso é bom. Mas às vezes, também ruim.
Temos um veterano convencido e injustiçado, ex-prodígio, contratado no desespero por uma equipe para salvá-la em uma missão difícil ao mesmo tempo em que ensina os mais jovens, aqui no caso somente um. Para um papel gravitacional tão incisivo, a escolha de um ator estelar e de carisma hipnótico é imprescindível. Lá fora Tom Cruise, aqui é Brad Pitt, ainda atuando no melhor estilo Cliff Booth em Era uma Vez em Hollywood, um sujeito arrogante e quieto, um cafajeste de bom coração e que não leva desaforo para casa.
O jovem com potencial mais problemático é Joshua Pearce, vivido por Damson Idris com energia como um novo-rico deslumbrado por fama e dinheiro, mas subestimando a equipe e a paixão pelo esporte, fazendo nisto um contraste com o Sonny Hayes de Pitt, e também o instigador do conflito. Juntos, eles devem salvar a equipe APX GP, comandada pelo personagem de Javier Bardem, levando um carro medíocre à difícil missão de vencer uma corrida para evitar a venda da equipe e dissolução da equipe.
O filme é produzido por Jerry Bruckheimer, cachorro velho da indústria, de filmes como os Piratas do Caribe e Maverick, ou seja, bem povão, sobre redenção, amizade, honra e esforço.
Agora, como falei antes, essa mimetização sensorial e estrutural de Maverick tem seus pontos positivos, mas também negativos. Primeiramente, por mais reciclada que seja, é uma narrativa chamativa e envolvente, ainda mais nos papeis certos. É fácil se deixar cativar e torcer para um underdog, num esporte tão elitista e desigual, em que humanos talentosos muitas vezes são protelados pelas máquinas que decidem campeonatos. Ainda mais quando devemos torcer para um fascinante e despojado Brad Pitt, no alto de sua canastrice e charme, em busca de uma última chance de recuperar o tempo perdido, além de vermos um jovem arrogante na sua própria jornada de aprendizado e e redenção.
O cinema de corrida, por mais que não se curta muito o esporte, entregou já muitos filmaços, e mesmo na F1. Eu destaco dois que são referência nos últimos anos, RUSH, que se passa no passado da F1, sobre a rivalidade de James Hunt e Niki Lauda, e Ford x Ferrari que apesar de se passar numa categoria diferente, usa muito dessa dinâmica de rivalidade e amizade para construir muita tensão nas pistas. São filmes que provam que pode-se sair do universo ficcional e abordar uma trama real, com suas liberdades, para criar um evento cinematográfico, justamente pelo poder da arte, quando com competência, para criar muita tensão e gerar bastante adrenalina.
Nisto, dentro das pistas, F1 é um deleite, apesar de desigual. Da mesma forma que fez em Maverick, Kosinski transporta o que aprendeu para os cockpits da F1. Uma tecnologia inserida dentro dos carros e dos capacetes que nos transporta para as pistas, aliados a um trabalho bruto e cru de som e planos que tornam as corridas uma experiência imersiva, por vezes sufocante, mas sempre energizantes. Especialmente a corrida final, muito também pelo trabalho do Hans Zimmer, é um negócio de tu enrijecer e se curvar na cadeira do cinema de tensão.
E por esse aspecto técnico, que recomendo ser um filme pra ser visto no cinema, na maior tela possível. Quem puder ir num Imax uma vez no ano, que faça nesse filme. É um longa sensorial, muito técnico, e para o fã do esporte quanto para o mais leigo, ou o intermediário, como me identifico, como cinema, é o mais próximo de tu pilotar e viver um carro desses do que de fato estar na corrida. Tu vai sentir, vibrar e se angustiar.
Agora, fora das corridas, infelizmente o filme deixa muito a desejar em relação a Maverick, que tinha, é claro, o benefício de um background mais conhecido, do filme origina, para trabalhar conexões e conflitos. Além de um time maior de personagens envolvidos, mas especialmente, riscos. Os voos não eram somente inovadores e absurdos em sua técnica de filmagem, como o risco envolvido e o ambiente explorado eram mais palpáveis e graves.
Em F1, infelizmente, por mais charmoso que seja Brad Pitt, e provocativo que seja Damson Idris, o risco e a dinâmica de equipe são muito menores. O time, apesar de nos fazer torcer por si, é pouco explorado fora do discurso feminista na personagem da Kerry Condon, primeira mulher a elaborar um carro de F1, o resto sendo mais como decorativos e arquetípicos. Segundo, e acho que o que mais prejudica o filme, é ele buscar um contexto real para se inserir, entre as temporadas de 2023 e 2024 da F1, ou seja, com o grid real da época. Isto, além de datar o filme no sentido de que muitos pilotos ali presentes ou mudaram de equipe ou deixaram a F1, causa muitos empecilhos pessoais de narrativa.
Claro, como falei, Ford x Ferrari e Rush também brincavam com o real, mas no passado. Quando tu traz nomes como Vertappen, Leclerc e Hamilton para dentro de uma narrativa fictícia, aí tu já envolve egos, direitos e bem, uma realidade em construção. Isso impede muito na criação de cenários, por exemplo dentro das pistas, na questão de tu não poder criar uma rivalidade maior com os corredores reais, não poder humilhá-los (e ficar feio um cara real sendo ultrapassado ou sofrendo acidente) e ressaltar o peso das corridas. Acaba tudo muito isolado na equipe do filme. É uma busca por credibilidade e dos fãs, mas que pra mim só prejudica o fator fantástico e catártico do longa.
Mas ainda assim, não tão envolvente e catártico quanto os filmes que citei de corrida e Maverick, o longa da F1 é mais um passo midiático da categoria para expandir usa marca e seu alcance além das corridas em si, para despertar interesse como a série da Netflix, Drive to Survive, que também usa muitos artifícios para tentar criar tensão e rivalidades nos bastidores e montagem.
Um filme de grande produção, um trabalho técnico impecável e um pouco frouxo na dramaturgia. Mas que para fãs e não fãs, vai ser uma experiência imersiva porém intensificada num cinema. Quem puder, veja. Queria ter gostado mais, mas ainda curti bastante.
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