Tomb Raider: A Origem (2018) - Crítica
Por mais improvável que seja, as duas gerações de filmes Tomb Raider, separados em "apenas" 17 invernos, podem servir de exemplares fieis nas mudanças que a indústria sofreu nestes anos - reflexo, também, do mundo.
Mesmo produto deste século, a dupla de longas protagonizados por Angelina Jolie em 2001 e 2003, respectivamente, não poderia causa maior estranhamento ao ethos atual. E isto nem considerando a defasagem de seus efeitos e os enredos que lhe garantiram críticas negativas que naufragaram a franquia, mas sim a representação dada à personagem título. Enquanto a Lara Croft de Jolie, também sendo uma figura poderosa, tem seu apelo calcado no público masculino, não economizando na sexualidade escaldante da atriz e suas roupas coladas, este reboot, adaptação de uma nova roupagem dos games, iniciada em 2013, é fruto intrincado dos movimentos sociais femininos que tomam Hollywood.
Consequentemente, mesmo que linda, sua atriz principal não é opulente ou um sex-symbol. Alicia Vikander é, até, de uma beleza "mundana"e popular, de traçados angulados e estreitos. Em suma, não é a imagem que temos de uma guerreira combativa. Mas vivemos períodos de desconstrução e ressignificação. Assim, quando já surge toda suada e furiosa, num ringue, a digladiar-se com outra lutadora, este novo Tomb Raider é pungente em se mostrar produto de novos pensamentos, destarte, carregado de aversão à estigmas e estereótipos.
É curioso que, nisto, deixando sua protagonista de lado, a estrutura da película pareça tão pouco original ou moderna. Em outros olhos, se assemelha a uma aventura clássica no desconhecido, em busca da salvação mundial - temática mais prosaica não existe. É justamente quem comanda a ação que qualifica sua contemporaneidade.
Lara é filha de um bilionário empresário, sumido há sete anos, a quem reluta aceitar a morte, para então assumir o império familiar - até por isto, em todo primeiro ato, não a ouvimos se proclamar uma Croft, negando a base hierárquica. Sem se apoiar em vigas fáceis e dadas, a jovem vive quase na clandestinidade, entregando comida e assumindo tarefas caídas de paraquedas para se manter.
Mesmo que não se assuma feministicamente, todos os traços que a definem como um ícone do emponderamento feminino se fazem presentes, determinados em revogar qualquer derivação de sexo frágil para rotular a pequena Lara de Alicia Vikander, que na contramão de sua estatura e ossada compacta, é moldada física e em caráter de modo firme, confiante e forte, uma armadura necessária para sobreviver a um mundo que se oferece patriarcal. Só assim assume as rédeas, e é simbólica uma cena, mesmo que lúdica, que a mostra como uma raposa, perseguida por uma multidão de ciclistas masculinos.
Toda a história de Lara poderia rotacionar ao redor de homens; o pai ausente e, posteriormente, jogada na selva primitiva domada por indivíduos barbados e imponentes, ávidos por doutrinar o ambiente à seu prazer. É a prova final para a autonomia e independência de Lara e, portanto, um álibi de liberdade às mulheres, uma mescla de Indiana Jones com Rambo, como que apressado demais em recuperar décadas perdidas de representatividade.
O norueguês Roar Uthaug não constrói um clássico hodierno, mas todo este efeito, já visto em Mulher-Maravilha, serve como metáfora universal. Lara isolada em meio à testosterona é como este filme - e todas as mulheres da indústria - se vê enclasurado. Por mais absurdas que pareçam suas incessantes provações, que nos deixam tão exaustos quando ao ver a epopeia de Jack O'Connell de "Invencível", curiosamente dirigido por uma (renovada) Angelina Jolie, sobreviver a um naufrágio no Mar do Diabo, à queda de um penhasco, o despencar de um avião, incontáveis balas e até armas brancas, soa como eufemismo ao percurso histórico da igualdade feminina.
Com uma Alicia Vikander colossal em tela, que deve conseguir qualquer papel depois de domar a tudo e a todos para garantir a continuidade da humanidade, Tomb Raider poderia ser somente um blockbuster divertido e empolgante, mas esquecível ao meio ao oceano de produções espalhafatosas e megalomaníacas. O que o difere da manada é justamente o contexto e quem estampa o cartaz.
Nota 7.
Nos últimos anos, também os quadrinhos têm ganhado cada vez mais espaço, tornando-se praticamente um gênero à parte, com reconhecimento do público, da crítica e, vez ou outra, até da conservadora Academia. Amei a Alicia no elenco! Lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Desfrutei muito sua atuação neste filme Ready Player One cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção e muito bom elenco.
ResponderExcluir