7 Ótimos Filmes de 2018 Que Ficaram Fora do Oscar


Qualquer pessoa que dedique cinco minutos a pesquisar de leve sobre como funciona o Oscar, seus votantes e o sistema de promoção dos grandes estúdios, chegará rapidamente na conclusão de que o sucesso nesta premiação não é compatível ao nível do filme em si. Apesar do glamour e de servir como referência leiga de que conglomera a nata do cinema no respectivo ano, o Oscar não passa de um evento pomposo, submetido a escolhas duvidosas de milhares de pessoas ligadas à indústria, que muitas vezes pouco entendem o que fazem (um ator escolher a melhor fotografia ou direção de arte, por exemplo), ou até o fazem sem terem assistido todos os concorrentes.

Em suma, é a festa do cinema americano, ou anglófono, sendo generoso, cercado de holofotes e mídia, mas que no fim esta enraizado com um sistema injusto em que a influência de produtores e estúdio contam muito mais do que a pura e singela qualidade do longa.

Veja minha lista dos melhores filmes de 2018 no Letterboxd

Ou você acha que Bohemian Rhapsody está entre os 10 melhores filmes de 2018? Rs.

Baseado nisto, elaborei uma rápida lista com sete películas lançadas comercialmente em 2018 que foram amplamente ignoradas em todas as categorias do Oscar, mesmo que para explicar isso nem apelando ao fantasma de Freddie Mercury.

Sem ordem de preferência (fora Burning, que é o melhor), vamos lá:

Em Chamas



Produção sul-coreana baseada em conto do japonês Haruki Murakami, Burning fez sucesso por onde passou, construindo uma fama crescente desde seu debut, em Cannes, e mesmo tendo a indicação a melhor longa estrangeiro dada como certa, acabou preterido. Uma tremenda prova do mau gosto dos responsáveis, que provavelmente se intimidaram com seus quase 150 minutos.

Dirigido pelo Chang-dong Lee, uma espécie de Terrence Malick asiático, Burning é como uma longa e reflexiva poesia, que confere ao mundo uma beleza cruel e ímpar, esfolando suas injustiças em nossa impotência de resolvê-las, podendo apenas contemplar, inertes, enquanto as horas jamais cessam de passar, ignorando todas nossas dores e desejos. Um retrato da insignificância humana.

Crítica.

Culpa



Se assustou com as duas horas e meia de Burning? A alternativa é The Guilty, de origem dinamarquesa, que conta sua história em somente noventa minutos.

Com orçamento minúsculo, é uma produção humilde, porém brilhante, que se passa basicamente em um único ambiente, focado no rosto tenso de um policial que cumpre suspensão recebendo ligações de emergência e as repassando para quem está no "campo", ao se deparar com um caso complicado e misterioso, que o faz rever a responsabilidade pelos próprios atos e como isso afeta os outros.

Mistura "A Vida dos Outros" com "Searching", sendo um exercício narrativo interessante, claustrofóbico e sufocante.

Happy As Lazzaro


O homem é o lobo do próprio homem, ou este nasce puro e a sociedade o corrompe? Se sim à segunda questão, por que deixamos com que ela nos leve à decadência? O que nos impede de nadar contra a correnteza e permanecer fieis à essência pessoal?

Este é o mote de Happy As Lazaro, tendo no protagonista de nome contido no título, um receptáculo de bondade, integridade e inocência, num papel que inicialmente pode parecer patético e ridículo, ao vermos-o aceitar ser explorado e preterido pelas necessidades alheias.

No entanto, esta perspectiva diz mais de nós mesmos que de Lazzaro. É uma crítica e uma grande sátira da nossa perdição como espécie, apesar de oferecer vislumbres de otimismo.

Vida Selvagem



Estreia de Paul Dano na direção, com colaboração de Zoe Kazan no roteiro, a produção encorpora bem a aura indie de ambos, naturalmente banhada na estética minimalista que aprenderam através do cinema de Jonathan Dayton e Valerie Faris.

Mas há identidade nesta história melancólica sobre a degradação de uma família pelos olhos de seu filho; pela sordidez e deterioração de cores que surge conforme todos se desbalanceiam em tela, sem oferecer respostas lunáticas, e sim um retumbante olhar de perda.

Crítica.

Sorry To Bother You



Um dos longas mais malucos da década, Sorry To Bother You rejeita qualquer apropriação generalista, como se assume um quebrador de expectativas, por vezes se sugerindo como rom-com, outras como drama, mas jamais se estabelecendo em nenhum, numa espécie de mirabolância caótica.

Tudo não passa, é claro, da intenção por trás de Boots Riley, diretor e roteirista do projeto, uma ácida e contraditoriamente brincalhona pérola anticapitalista que também flerta com o verdadeiro cerne da maldade humana, capaz de nos fazer fechar os olhos às atrocidades feita a outros, em prol do próprio enriquecimento.

O toque de genialidade está no quão artificial e desconexo é o universo da película, como um espelho da falta de significado e profundidade com que levamos nossas vidas.

Sorry To Bother You é como chamar bullying de brincadeira. Até pode começar divertido aos agressores, mas logo se torna constrangedor, na iminência do nocivo.

Sem Rastros



Sempre lembre de Leave No Trace quando alguém lhe questionar a argumentação de que é inaceitável não termos uma mulher indicada ao Oscar de direção. É o reforço do que disse na introdução, pois faltaram recursos e padrinhos para levar adiante a corrida do longa de Debra Granik por mais atenção.

Porém, tão calmo quanto a própria diretora, que levou quase uma década entre seu último grande esforço (Inverno da Alma, que lançou Jennifer Lawrence), Leave no Trace deixou um grande rastro (:D) na temporada indie de premiações, e um nome a ser explorado.

Relatando a vida nômade e isolada de um pai (Ben Foster) e sua filha adolescente Tom (Thomasin McKenzie, num trabalho que merecia mais reconhecimento), que buscam existir encarcerados numa reserva florestal distante da civilização e a correria urbana, por motivos que são revelados durante a trama, várias temáticas intra e interpessoais são elaboradas.

Debra não opta, entretanto, por uma discussão didática sobre a ruína social dos grandes centros, como repete a Capitão Fantástico e opta por um equilíbrio entre a reclusão e a integração, encerrando sua história sem nunca terminá-la de fato, com um grandioso nó na garganta que é o mundo real.

O Mau Exemplo de Cameron Post



"Boy Erased" versão feminina. Uma bem-vinda nova ótica nesses retiros religiosos que supostamente serviriam de "cura gay" a jovens americanos oriundos de famílias conservadoras, mas que sem nenhuma formação científica ou minimamente confiável, buscavam, através da alienação e doutrinação, basicamente esterilizar todos seus "alunos" para que sentissem tanta culpa e remorso por seus sentimentos e desejos, quais não possuem nenhum controle, obviamente, e se fechar num casulo que invariavelmente levará a sérias consequências psicológicas. É como pagar para levarem seu filho a um campo de concentração.

Tudo em nome de Cristo.

Recomendado:
As feridas deixadas pelas ‘curas gays’ no mundo
Boy Erased 

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E é isso. Que outros filmes você gostou que foram esnobados pela academia? Deixe a resposta nos comentários.

2 comentários:

  1. Interessante. Só ouvi falar de alguns, mas ainda não vi nenhum. Pretendo.

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  2. Da lista toda eu somente vi Em Chamas e pretendo ver o filme da Cloe, mas os outros também parecem ser interessantes.

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