O Estrangeiro (2017) - Crítica

o estrangeio the foreigner cartaz poster jackie chan piercer brosnan filme 2017

Às vezes, um nome é o bastante. Pode ser um homem, uma mulher. Alguém, de imenso talento, carisma, empenho ou tudo isso junto, que entrega alto tão especial que transforma toda nossa impressão de um produto medíocre. Pense em "A Dama de Ferro", sem Meryl Streep, DiCaprio em J. Edgar, Jake Gyllenhaal em Southpawn e por aí vai. Performances diferenciais e além do que se inserem, que elevam todo o nível do meio.

Em O Estrangeiro, tradução literal do original "The Foreigner", novo longa do diretor Martin Campbell, baseado no livro "The Chinaman", de  Stephen Leather, este papel cabe a Jackie Chan. O lendário ator, estigmatizado a um estilo de filmes que ele mesmo ajudou a popularizar, agora enfrenta o enrijecimento da idade, e no auge de seus 63 anos, vai paulatinamente substituindo os golpes pelo drama. Seu talento fora das artes marciais não é algo inédito, vale-se dizer. Vez ou outra, suas produções exigiam algo além das acrobacias, sua simpatia e veia cômica. O reboot de Karatê Kid é um exemplo disto, onde sua fenomenal atuação torna quase duas horas com o detestável Jaden Smith suportáveis.

Neste período de transição, Jackie, aqui, vive um imigrante chinês (Quan) residido em Londres, quando perde sua filha em um atendado terrorista provocado por uma organização norte-irlandesa. Dono de um passado sinistro, sozinho, amargurado pela tragédia, Quan busca, através de modos radicais, extrair do governo os nomes dos responsáveis pelo genocídio.

Uma plot básica de vingança, já super-saturada em períodos distintos na história do cinema, por muito empalidecida em produções genéricas B, recentemente revividas em grande estilo com John Wick. E se tem algo que aprendemos com Keanu Reeves, é como o público ainda se mostra aberto ao desgastado tema, desde que haja um desenvolvimento digno e criativo, longe do lugar comum, por mais que o final sempre seja o da catarse do sofredor.

o estrangeio the foreigner cartaz poster jackie chan piercer brosnan filme 2017

O Estrangeiro é, portanto, formulaico em sua trajetória. Trazer Jackie Chan para o elenco é uma arma poderosa para nos fazer simpatizar imediatamente com o sujeito, e mesmo que sua filha não receba tempo suficiente para identificação, sua morte é sentida justamente por vermos o sofrer de Quan, vividamente exprimidos por suas rugas de dor, desespero e indignação tenaz.

Chan não é, entretanto, o único nome de peso no cartaz, que também conta o ex-Bond Pierce Brosnan em papel que busca ser ambíguo, mas é apenas óbvio. Por mais que o ator se esforce em parecer gentil, o próprio material de divulgação expunha o antagonismo latente, e películas assim costumam contar com uma relação entre bem a mal clara demais para seja possível um twist surpreendente.

O forte de O Estrangeiro certamente não reside no texto de David Marconi, que estende por até duas horas algo previsível e claramente cheio de gordura desnecessária em pretensão de parecer muito mais inteligente do que realmente, resvalando em assuntos políticos sem saber o que dizer nem onde chegar. Ambição que arruinaria o projeto, novamente, não fosse seu protagonista.

Mas Chan, apesar de envelhecido, ainda não é um velho manco senil. Se suas dores emocionais são tocantes, as físicas são igualmente sentidas. Famoso por não usar dublês, há algumas cenas em que nos perguntamos se a lenda ainda consegue realizar movimentos tão ágeis ou fomos enganados pela magia do cinema. Porém, a simples existência da dúvida é mérito do histórico respeitável do profissional, quando a probabilidade de vermos o ator real em sua faixa-etária correr situações de risco seriam rapidamente descartadas com outros figurões da indústria.

o estrangeio the foreigner cartaz poster jackie chan piercer brosnan filme 2017

O diretor Martin Campbell, de carreira irregular em extremos, dos competentes 007 Cassino Royale e GoldenEye, mas também dos desastrosos Lanterna Verde e A Lenda do Zorro, é burocrático, mas consegue ser menos tedioso na filmagem da ação, dando espaço à brutalidade fluir, sem apelar demasiadamente para truques de edição rápida, tão utilizados no gênero hoje em dia. Nisto, novamente podemos comparar com John Wick, onde a coreografia não é complexa, mas bem orquestrada e dimensionada pelos enquadramentos e escolhas de ambiente a ponto de soarem não apenas factíveis, como tensas e energizantes. E é divertido, a quem conhece a carreira de Chan, notar uma marca de suas produções, que é o uso de objetos do quadro nas lutas, não somente decorativos. Certamente uma homenagem da equipe, ou então própria dica de Jackie.

Assim, voltamos ao início. Se Jackie e Chan foram lidos tantas vezes nestes parágrafos, é porque seria criminoso não conceder a maior parte do crédito de nossa recepção para com O Estrangeiro a ele. É ele quem nos faz confiar que poderá derrotar uma tropa de homens mais novos. Ele que nos faz crer na justiça de seus métodos agressivos. Aliás, o comprometimento e relevância dele na fita é tão grande, que é sua voz que embala a bela e melancólica canção nos créditos finais. Isto basta. O Estrangeiro é Jackie Chan em sua onipresença.

Nota 6. 

Um comentário:

  1. O filme não abusa de efeitos visuais. Na verdade, utiliza do mínimo possível para divertir o espectador, dando foco para o desenvolvimento de seus arcos. Amei a Jackie Chan no filme, lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Desfrutei muito sua participação neste filme Nut Job 2 cuida todos os detalhes, é sem dúvida um filme para pequenos que tem uma historia maravilhosa.

    ResponderExcluir