O Rei do Show (2017) - Crítica


Poucas vezes um filme se mostrou tão adequado ao que esperamos de um blockbuster quanto este "O Rei do Show". Desavergonhadamente, sua premissa parece oferecer um álibi ao absurdo: a trama conta, em floreios, a história de como P.T. Barnum criou...o Circo.

Filmes lançados nesta época do ano tendem a se dividir entre duas categorias: os que esperam lembranças fervorosas na temporada de premiações e os que se brindam do clima natalino para encantar o público. Por mais que The Greatest Showman passe longe de possuir uma temática natalina, entretanto, seu espírito não poderia representar melhor a simbologia espiritual estereotipada desta época. Um período alegre, de comunhão, generosidade, aproximação e determinação.

Por mais que mostre a vida de uma figura real, então, os cerca de 105 minutos da película demandam uma descrença sólida, o que é perceptível logo em sua introdução, sob sombras e aplausos ritmados. Não obstante em ser um musical, é como se o diretor nos preparasse para um show pirotécnico, grandioso e megalomaníaco. Exatamente o que entrega.

Nisto, a trajetória edificante de Bauman, interpretado por Hugh Jackman, não deixa espaço para pessimismo e ambiguidade. O empreendedor é alguém desfavorecido, mas sonhador, criativo e progressista. E suas ideias tampouco visam o enriquecimento luxuoso, mas sim advindos de boas intenções, que são dar uma vida digna a sua família. Já suas atrações bizarras são apenas uma tentativa do showman de fazer uma grande ode à humanidade, quebrar o preconceito por trás daquelas pessoas que atraem repulsa por sua diferença: trapezistas negros, uma mulher barbada, um gigante, albinismo, um anão...Indivíduos discriminados na ignorância estoica e mesquinha do século XIX.


Bauman é como um semideus que busca se desgarrar da mediocridade pedestre, elevando o status de todos ao seu redor. O roteiro de Jenny Bicks e Bill Condon flerta muito rapidamente com suas larapias e enganações (o homem era conhecido como príncipe da falcatrua), mas comentários negativos a seus métodos são, igualmente, artifícios de edificá-lo, exibindo de forma caricatural, ranzinza e insensível o crítico que avalia seu show.

Como fatos, O Rei do Show é, então, como ir a um velório vestido de preto recoberto com lantejoulas coloridas, uma peruca roxa e tênis com neons. Menos mal que acaba sendo convincente como blockbuster.

Longa de circo como é, o grande esquema acontece no palco, onde devemos ter alguma ideia do que maravilhou o público a ponto de expandir sua ideia ao mundo todo, até os dias de hoje. E nisto, o estreante Michael Gracey demonstra notável capacidade e dinamismo na complexidade com que injeta adrenalina nos números musicais e visuais, contando com as exuberantes coreografias de Ashley Wallen, que além de fluidas e cativantes, são divertidas e utilizam bem a cenografia para acrescentar objetos em tela às danças.


O comprometimento com o épico estético é deslumbrante o suficiente para diminuir o impacto negativo que a história em si apresenta, previsível e genérica, um típico e obsoleto conto de meritocracia e boa cidadania.

Mesmo com um personagem tão translúcido, Hugh Jackman se sobressai e não deixa seu papel cair no desdém farsante da perfeição, devida a tamanha intensidade com que expressa sua paixão pelos aplausos e sucesso. É ele quem atua por tudo e todos, enquanto Michelle Williams e Zac Efron se esforçam, mas não possuem nem tempo em tela nem material suficiente para saírem da primeira camada de profundidade. Bauman é o crânio e espinha de The Greatest Showman, o que impede o navio de naufragar e ainda nos deixe com sorrisos simpáticos em face.

Extravagante e amalucado, The Greatest Showman parece ser tudo que tentou ser: enérgico, empolgante e sem pretensão de se ampliar. Talvez porque conhecer os bastidores verdadeiros do showbusiness arruinasse a experiência. E o cinema é, não esqueçamos, produto disto. É um brinde ao entretenimento e a um homem pioneiro em fisgar multidões, sem brechas para colocar em duvidas sua reputação.

Nota 6. 

3 comentários:

  1. Pelos trailer já tava suspeitando que o filme seria alegre demais pra história dele. Pena. Ainda quero ver, mas não chegou por aqui.

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    1. E tu não se incomoda de ler as críticas sem ter visto os filmes?

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    2. Não rs Até onde eu saiba, normalmente as críticas saem antes do filme pra mostrar como ele será.

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