Meus Filmes Favoritos de 2017
Dependendo de sua ótica, 2017 pode ou não ser considerado um ano cinematograficamente positivo a mim. Faltando menos de 24 horas para o início de 2018, ainda assistirei no máximo 1 ou 2 longas. Provável que de outras épocas. Desde calendário, apenas Florida Project tem chances de invadir a lista já estabelecida dos melhores de 2017.
Foram quase 350 fitas conferidas, mas apenas um erigido ao panteão de meus prediletos de todos os tempos, o japonês "All About Lily Chou Chou", de 2001. De 2017, nada. Até ontem, quando botei os olhos no primeiro colocado deste ranking, nenhum passou perto de receber meu coração da fidelidade eterna. Mesmo assim, entre tantas horas passadas em frente a uma tela, não posso ignorar a qualidade do material explorado. E nisto, 2017 foi memorável.
10º Logan Lucky
O retorno de Steven Sodebergh após seu previsivelmente breve exílio da sétima arte foi um refresco crítico, popular e pessoal com sua arte. Ele por se ver livre das amarras de grandes estúdios, profissionais e espectadores casuais pela ironia e leveza que seu descanso trouxe a Logan Lucky, que trabalha de acordo com o estilo criminal sarcástico de seu cineasta, mas com um apelo lúdico e absurdo distante de suas obras há anos.E será mais uma oportunidade de decidirem se Adam Driver tem ou não sex appeal.
Outro retorno. Porém, não cronologicamente produtivo, e sim satisfatório. Mais de uma década passou desde que Shyamalan lançou "Sinais", e desde então, nada que levava seu nome foi digno de nota. Ainda pior, algumas películas eram tão inacreditavelmente vergonhosas, que passamos a duvidar se filmes como "O 6º Sentido" e "Corpo Fechado" realmente eram tão bons quanto o senso comum espalhou. No mínimo, parecia improvável que "Fim dos Tempos" e "O Último Mestre do Ar" viessem da mesma mente.
Resgatado pela Blumhouse, finalmente Shyamalan parece sair do poço onde Samara o aprisionou, e esperamos que por todo esse tempo ele tenha sido substituído por um clone que, queiram os deuses do cinema, jamais retorne, pois o indiano, próximo de sua plena forma, é tão autoral quanto inebriante. Fragmentado ainda não está em sua primeira prateleira, mas que seja um aquecimento ao vindouro Glass, que ou restabelece seu nome como midas, ou acaba de afundar sua carreira, levando consigo um de seus títulos mais amados.
Crítica.
Uma janela que se abre no automóvel fustigado, empoeirado e ainda excessivamente reminiscente dos anos 80 da saga Star Wars. J.J. sempre será lembrado pelo êxito de "O Despertar da Força", mas viver do cadáver maquiado de algo que vimos décadas atrás não daria continuidade, e por isto Ryan Johnson produz um dos mais memorável capítulos da saga - não fosse nostalgia e o contexto revolucionário da época, creio que poderia ser considerado o melhor.
Para expandir, o contexto social em que vivemos ainda permitiu que finalmente notassem as analogias "esquerdistas" da franquia. Antes tarde do que nunca. Talvez daqui 40 anos também percebam as atrocidades qual alguns defendem por aí.
Você já viu um filme dirigido por um grego? Então chegou a hora. Mas não é fácil. Não é para qualquer um, sendo blasé. Em Cannes, onde estreou, Cervo Sagrado teve leve debandada da plateia. Pessoalmente, não entendo alguém se chamar de crítico e não se ver, se não seduzido por sua narrativa, ao menos instigado pela curiosidade para aonde o enredo nos levará em seu final.
Sem spoilar, é preciso dizer, entretanto, que até lá, é como se sentir preso a um ralador de queijo - e ainda gostar disto. Pois o diretor faz exatamente isto, questionar nossos mais deploráveis sentimentos.
Crítica.
Pra quem tá achando a lista muito conceitual, eis um filme para se deixar levar na flor da pele, sem pensar muito, apenas sentir pela alucinação frenética, compulsiva e deteriorável, nesta que é a melhor atuação de Robert Pattinson. E uma das melhores do ano.
Fofura disfarçada. Produzido pela netflix, Okja foi vendido como exemplar de massa, insosso, com uma protagonista rechonchudinha e um animal desengonçado e adorável.
Pobres ignorantes ao cinema de Joon-Ho Bong. Ou felizardos, visto que talvez, não fosse essa circunstância, nunca se deparariam com seu talento.
Por vezes paradidático demais, entretanto, nunca desnecessário. Carregue ou não a mensagem consigo, quando os créditos rolam, é inegável o impacto da discussão provocada em peso por Okja, destas que nos deixam sujos - e ainda gratos pelo exercício.
Crítica.
Produção atual, universal e, diria, obrigatória. Coming of age que conversa com públicos maduros e em maturação, sem enfastiar nenhum. Transita numa mina de clichês sem cair em nenhum salvo pequenos tropeços. Um debut extraordinário de Greta Gerwig por trás das câmeras - em trabalho solo.
Infelizmente prejudicado pela escândalo Weinstein, Wind River, no original, teve sua divulgação retraída por vergonha e culpa. É algo compreensível, mas, repito, extremamente infeliz aos realizadores, elenco e staff no geral, além de por mais hipócrita pareça, promover um diálogo relevante sobre um assunto esquecido e negligenciado pela mídia e, portanto, ignorado pela sociedade geral - o descaso do governo com comunidades nativo-americanas e, principalmente, o impacto disto nas figuras femininas.
Como não podemos se apoiar apenas no argumento, vale destacar a força de seu desenvolvimento, em aspectos técnicos e artísticos, em que se sai maravilhosamente bem dirigido, fotografado e atuado, tudo de acordo com a temática - fria, desértica e solitária. Tem me feito pensar sobre desde que conferi, o que é algo notável.
Crítica.
Até poucas horas atrás, o topo da lista. E isto nunca é por acaso. Denis Villeneuve é, discutivelmente, o grande expoente desta década. São 6 filmes de esmero inegável, em diferentes escalas e execuções. Após o maravilhoso A Chegada, ele mostra que seu limite ainda é indizível, ao entregar a tardia continuação do clássico Blade Runner, e nos deixar em dúvida de qual realmente é o melhor - se é que essa questão é necessária quando temos dois grandes pedaços de arte para desfrutar.
Blade Runner 2049 continua alguns debates de seu predecessor e abre outras relacionadas ao período hodierno, isto é, não é preguiçoso e jamais burocrático. Soma-se a isto a evolução técnica que proporciona um sincretismo urbano estonteante e narrativamente significativo.
É algo que diferente realizadores em suas várias camadas. Com Villeneuve, nada é gratuito. Mesmo em quase 3 horas de projeção.
Eu acompanho Martin Mcdonagh desde 7 Psicopatas, tendo, inclusive, seu In Bruges em meus favoritos, e nutria grande esperança deste seu retorno devido ao ótimo elenco e reverberação positiva via festivais. Mesmo assim, não esperava tanto.
Aqui, o diretor salta vários degraus em sua carreira. Seu cinema, uma mistura de Edgar Wright com os Coen, atinge novas camadas, o humor negro permanece, mas com um peso dramático maior, reforçado pela narrativa - aí falamos de fotografia, design de produção e tudo mais, frequentemente mostrados em ambientes escurecidos, enevoados e em chamas.
É um conto menor, de uma pequena cidade, que beira o niilismo para discutir a crueza do mundo, uma antítese aos contos de fada e ao padrão cinematográfico do happy ending. Aqui, um personagem em estado terminal não encontra cura. Um caso de crime hediondo não é solucionado e a redenção de um homem não é como ele espera. Não há justiça por romantismo. Há a realidade. Pessoas egoístas, extremas, insensíveis e ignorantes.
O roteiro faz algo como Dead Man Walking, Breaking Bad e tantos outros que nos colocam ao lado de alguém que comete atos impiedosos sob uma justificativa que nos causa simpatia à causa, mas nos amarra no assento e expõe infindavelmente os métodos desta pessoa para atingir seus objetivos, até que nos sintamos esquálidos ou ao menos divididos quanto à situação. Ele nos provoca uma reavaliação moral; isto está realmente certo?
Ao fim, resta a aceitação e a reconciliação para se lidar com a aspereza do mundo.
Menções de Honra:
On The Beach At Night Alone, Get Out, A Vilã, A Ghost Story, Kong, Super Dark Times, Columbus, Dunkirk, Mulher-Maravilha.
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Deixe abaixo sua lista. E para conferir tudo que assisto, cheque meu Filmow e Letterboxd.
Lista curiosa (cult demais rs). Não posso comentar muito pq daí vi só 4 da lista principal e 4 das menções. Vou procurar alguns desses outros pra assistir.
ResponderExcluirEsse ano conferi mais de 200 filmes, um número até baixo comparado a outros anos. Tb fiz minha lista (dos 20 melhores). Considerei lançamento no Brasil. Tivemos 6 filmes em comum.
01 - LEGO Batman: O Filme
02 - La La Land: Cantando Estações
03 - It - A Coisa
04 - O Motorista de Táxi
05 - Dunkirk
06 - A Ghost Story
07 - Pandora
08 - Star Wars: Os Últimos Jedi
09 - Blade Runner 2049
10 - Fome de Poder
11 - Vida
12 - Jovens Titãs: O Contrato de Judas
13 - Death Note: Iluminando um Novo Mundo
14 - Okja
15 - Logan
16 - Corra!
17 - Mãe!
18 - O Túnel
19 - Carros 3
20 - Bingo: O Rei das Manhãs
- Menção inédito no Brasil 1: Memória de um Assassino
- Menção inédito no Brasil 2: Cidade Fabricada
Esse Memória de um Assassino, com a Seolhyun, se não me engano, é tão bom assim?
ExcluirPra mim foi muito bom. Em relação ao público, a média tá positiva. As notas que encontrei sobre o filme vão do mediano ao excelente.
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