Bailarina - do Universo de John Wick (2025) - Crítica
No Youtube e abaixo escrita. Segue lá :D
Bailarina
A franquia John Wick foi claramente não planejada. É engraçado que o primeiro filme, aqui no Brasil, recebeu inicialmente o título de “De volta ao Jogo”. Um filme pequeno, dirigido por dois caras iniciantes advindos dos bastidores de filmes de ação, Chad Stahelsi e David Leitch. Um filme estiloso, sombrio e que opera nas sombras, focado no carisma de Keanu Reeves e sua figura misteriosa numa clássica e frontal jornada de vingança, sem idealismo nem demagogia. Brutalidade desnuda, apostado numa direção elegante e orquestrada com inteligência, inspirado em filmes asiáticos e distante do que era o cinema de ação na época, com filmes picotados e desinteressantes, como a franquia Bourne.
Com o tempo, o sucesso foi tanto que já temos outros 3 filmes, uma série e agora o primeiro spin-off, mais megalomaníacos, exagerados, mas ainda sem perder o senso de estilo e muito apego à coreografias, ainda que com um orçamento maior e mais piruetas, porém sem perder a essência. A questão é que o que mantém a franquia tão nivelada por cima é por ter mantido seu principal diretor, ou seja, uma obra autoral, feito com gosto de alguém que realmente ama o universo, não quer somente o dinheiro.
Bailarina é um passo em diante, um novo risco nessa empreitada, por sair um pouco mais do controle mais intimista e operacional de Chad, e se tornando de fato uma obra de estúdio e produtor, ainda que tenha a cabeça do projeto por trás, mas não na direção em si.
A obra segue Eve, uma garota tornada órfã no começo do filme e que acaba entrando para as Ruska Roma, a organização de assassinos apresentada em Parabellum, o terceiro volume de Wick, e acompanha seu crescimento até ela sair nas próprias missões, que vão pendendo para a busca da seita que assassinou seu pai, expandindo mais ainda o universo da franquia.
A principal diferença em si é óbvia e está, naturalmente, na direção, com Len Wiseman assumindo a direção. Até entendo o pq da escolha, com Wiseman sendo o nome por trás da franquia Anjos da Noite, que por si só marcou por seu estilo, operar na noite e focar numa ação estilizada. Mas era outra época e um conceito diferente, mais chamativo e sobrenatural, Na ação de Wick, que por mais fantasiosa que seja, ainda opera no campo humano, Wiseman demonstra pouca equivalência, e como Stahelski foi contratado para dirigir regravações de cenas de ação, acaba ficando bem visível quem comandou quais cenas, quais são mais empolgantes, criativas e conscientes da coreografia e mise-en-scène, enquanto algumas são mais automáticas, picotadas e pouco discerníveis.
Um ponto que o filme busca, e entretanto não acho bem-vinda, é uma dramatização e humanização maior da historia por meio de Ana de armas, em busca de vingança familiar, tão expressiva e com dor no olhar. Ao Passo que o Wick de Keanu ficou conhecido, até como meme mas identificável, de entrar no modo Berserk após matarem seu cachorro, e indo ao limite por isso, incapaz de retornar. O Baba Yaga conta com a presença eterea e distante do ator, na contramão, tao carismático mas pouco expressivo e sem alcance dramático, por si so mais condizente com esse mundo cada vez mais elaborado e intrincado de assassinos, cheios de aparatos e resistência, sendo Wick o suprassumo do herói brucutu, aparentemente imortal, e Bailarina brinca com essa questão que já torna o personagem como um mito, uma figura quase divina e temível.
As Cenas de Wick são as mais fascinantes do longa, pelo histórico que o personagem e o ator trazem, mas também pelo claro envolvimento de Chad, ao Passo que Ana de Armas, por mais que se esforce, é muitas vezes sabotada nessa questão, e trazer um drama maior acaba ficando redundante e vazio, especialmente quando tenta arranhar uma trama com a irmã dela, tão inútil e até constrangedora, como se precisasse de algo maior para chamar atenção, com vergonha de assumir a ação como objetivo final, justamente o que fez essa franquia tão única e cheia de identidade.
Isso, juntamente com a instabilidade das cenas de ação, que a certo ponto soam repetitivas e monótonas, e tu para até de sentir e prestar atenção, meio anestesiado em meio a tudo que acontece, tiroteios, golpes e pulos com poucos efeitos, causando uma indiferença e tédio que é das piores rações que tu pode sentir ao apreciar uma obra de arte. A falta de interesse a reação.
Bailarina, ao final, é essa instabilidade que acontece quando se expande algo íntimo: a perda de identidade, coração e autoralidade, com pequenos incrementos, enxertos do espírito origina, mas dissipados em algo mais genérico e vazio. Bom, mas implacavelmente inferior ao original.
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