Oscar 2022 - Quem Leva, Meus Favoritos e Quem Não Pode Vencer

Uma coisa ninguém pode negar: nunca foi tão interessante acompanhar o Oscar. Concomitante às polêmicas "exclusões" de certas categorias durante a transmissão ao vivo para tentar acompanhar o ritmo acelerado e impaciente das novas gerações e tentar reverter a crise de audiência e relevância, o Oscar nunca foi tão imprevisível quanto nos últimos anos. Muito por pressão, é claro, após as exitosas #MeToo e o movimento negro e estrangeiro por mais representatividade e alcance além de uma mera festa do cinema americano, como foi a academia por tantas décadas. Parasite foi o pináculo dessa mudança, e provavelmente irá um bom tempo até que se repita, se é que acontecerá. Mas as meras lembranças de certas obras que jamais seriam cogitadas até uns 5 anos atrás, é algo bem-vindo para trazer à tona maravilhosos filmes a um público que ainda possa vir a considerar o Oscar como sinônimo de relevância e qualidade.

Qualitativamente, 2021 desbancou com sobras 2020, com a indústria se adaptando ao imutável contexto do coronavírus, adotando novas formas de distribuição ou simplesmente movimentando o mercado e aceitando o prejuízo "menor de lançá-los. Quem triunfou, porém, foi inegavelmente o streaming, que assume as rédeas do mercado, reduzindo janelas e até usurpando o papel do cinema como exibidor principal. O melhor filme anglófono dos últimos anos vem da Netflix, e dos indicados a melhor filme, 4 foram diretamente ao Streaming, e somente 3 ainda não se encontram online - com um deles já possuindo data marcado para tal (Drive My Car o Mubi em 1/4). 

Em rumos incertos, alguns melhores e outros piores, o cinema avança, numa era em que mais do que nunca, é do estrangeiro que se busca refúgio enquanto a indústria americana passa por uma fase especialmente negativa no que SE refere a criatividade e liberdade, tangenciando todo um sistema ao redor do esbanjar monetário da Marvel/Disney, também um deserto de ideias. A resistência nos longas de alto orçamento tampouco se abrilhantou, e diria aqui que meu favorito segue sendo o clímax de Godzilla x Kong, que espetáculo por espetáculo, foi quem melhor compreendeu e entregou uma experiência visual catatônica e estimulante além da mera referência e efeito manada - aí as crescentes críticas ao novo Aranha passado o furor da exibição histérica nos cinemas, agora revisitando com olhos desconfiados o motivo de tamanha adoração em tela pequena e sem os berros ao lado. 

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No entanto, seguimos acreditando e amando esta forma de arte, e como ela, o blog se mantém em sua tola, inútil e divertida tradição de apostar no Oscar. As regras seguem as mesmas:

  • Quem acredito que levará;
  • Quem eu gostaria que levasse;
  • Quem não pode passar perto;
  • Vez ou outra faço alguma inserção de quem poderia ter sido lembrado.

As categorias de curtas e documentário foram excluídas pois não tive a chance de conferir a maioria dos indicados. Vamos lá!

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Melhor Som:

Vai Levar: agora (bizarramente) unificados, os prêmios de mixagem e edição sempre foram incompreendidos, e mesmo gente de dentro parece nunca ter entendido direito a diferença de cada um, privilegiando barulho a conceito e intenção. Duna abocanhou a maioria dos prêmios no quesito, apesar de No Time to Die e West Side Story não poderem ser descartados (mas meio que entram no quesito de amostra fácil entre barulho-ação e musical. 

Meu Favorito: Ataque dos Cães merecia ganhar quase tudo que foi lembrado, mas é mais difícil entender o uso do silêncio como som e todo um diálogo implícito nisto do que tiro, né?!

Canção Original:

Vai Levar: Monstros sagrados como Beyoncé, Van Morrison e Lin-Manuel Miranda em busca de seu EGOT marcam presença, e todos serão ofuscados pela jovem Billie Eilish, que com o hit No Time to Die, deve emplacar a tripleta pra Bond, que venceu pelos singles dos últimos dois filmes (a porcaria do Sam Smith pra Spectre, ignorando o Radiohead, e o hino inesquecível de Adele pra Skyfall).

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Meu Favorito: houve um tempo em que a Disney dominava essa categoria com múltiplas indicações, concorrendo com ela mesma (Rei Leão foi indicado 3 vezes, A Pequena Sereia 2), mas desde que Encantada (também indicado 3 vezes) perdeu, dividindo votos, a empresa mudou de estratégia e resolveu focar numa canção só. Pois bem, sem especular o mercado, erraram feio o tiro ao irem de Dos Oruguitas, quando logo do lado, We Don't Talk About Bruno se tornou seu maior sucesso em décadas...

Não Pode Passar Perto: que me perdoe Beyoncé, mas sou contra qualquer prêmio ao mesquinho e manipulador King Richard

Efeitos Visuais:

Vai Levar: Duna papou o que pode por aí e realmente é quem melhor consegue integrar sua grandiosidade num realismo épico e intimidante. 

Meu Favorito: bicho, os caras ignoraram Godzilla x Kong. Vocês viram o filme? VOCÊS VIRAM O CLÍMAX DAQUILO? Absurdo. 

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Não Pode Passar Perto: a Marvel teve um péssimo ano nos efeitos. Shang-Chi é quase indivisível pelo excesso de tomadas no escuro, deixando imperceptível não somente seus efeitos, como as coreografias, e No Way Home, a ilusão coletiva que muita gente clamou por indicação a melhor filme antes de ficarem constrangidos ao assisti-lo sozinhos em casa, ainda não superou a cabeça flutuante de Tom Holland quando de armadura, nem a trabalhar o pouso dos heróis sem parecerem personagens de play 2. 

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Melhor Trilha Sonora:

Vai Levar: infelizmente, Hans Zimmer desponta favoritíssimo por seu trabalho em Duna, no que é seu pior da carreira, atingindo um ponto realmente baixo desde que decidiu reciclar a própria fórmula após o sucesso de Inception e suas cornetas. 

Meu Favorito: qualquer escolha que não seja Jonny Greenwood pelo monumental esforço de Ataque dos Cães e o poder que ele exerce emocionalmente no clima do filme e seus personagens, seria um erro. 

Não Pode Passar Perto: qualquer vitória fora Greenwood é blasfêmia. Mas Zimmer levar pelo estrondo repetitivo e sem inspiração de Duna (a falta de vida que repercute no ascético longa) seria ofensivo. 

Maquiagem e Cabelo:

Vai levar: Jessica Chastain é a favorita a melhor atriz justamente pela maquiagem do filme Os Olhos de Tammy Faye. É uma categoria que brinda transformação, e por mais melancólico que seja ver uma obra tão americana, no pior sentido, ser premiada, faz sentido.

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Meu favorito: se é pra ver mulher bonita na tela, eu sempre prefiro a Emma Stone, neste caso por Cruella. Mas o tom do filme pode prejudicar quem prefira eleger obras "sérias". 

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Figurino:

Vai levar: é uma disputa de expressionismo (Cruella e West Side Story) contra o realismo de Beco do Pesadelo e Duna, a despeito de seus gêneros. Já vencedora de 2 estatuetas, Jenny Beavan desponta pela terceira pelo que fez em Cruella.

Meu favorito: nenhum dos filmes funciona tão unicamente devido ao seu figurino quanto Cruella, da personagem central à trama e sua época. 

Design de Produção:

Vai levar: ainda meio incerto, mas Duna é quem mais tem o privilégio de recriar um mundo só para si, por mais insosso que ele seja. Seria a primeira vitória para Patrice Vermette, em sua terceira indicação. Mas Beco do Pesadelo, que não deve levar mais nada, pode ser lembrado aqui por "consolo". 

Meu Favorito: PORRA MAS ATAQUE DOS CÃES HEIN?!

Montagem:

Vai levar: outra categoria que votam de modo burro (sem querer soar arrogante), favorecendo o chamatismo, a excentricidade, além do equilíbrio da montagem com a trama. Não Olhe Para Cima está devidamente por isso, assim como Tick, Tick...Boom!. Duna, não faço ideia, e King Richard, porque a galera se emocionou ao ver tênis e atribuiu isso a uma montagem incrível. O sindicato premiou os filmes de Smith e Garfield. Talvez seja o consolo para a obra de Miranda, muito querido na indústria. Mas tampouco Duna pode ser descartado. 

Meu Favorito: Ataque dos Cães, é claro.

Não Pode Passar Perto: vocês viram King Richard e acharam que aquilo merece estar entre os melhores de algo???

Fotografia:

Vai levar: pelo amor de Deus, fotografia boa não é somente fotografia bonita, mas a integração desta com a história. O que ela significa, o que quer dizer. Duna tem sério risco de vencer, outro crime.

Meu favorito: Ataque dos Cães, o maior indicado da noite, pode sair até de mãos abanando pois pelo visto os americanos estúpidos não entenderam o filme e não sabem avaliar nada. Vamos ver se a ala internacional salva o prestígio da obra, que por si só, levaria quase tudo em mérito puro.

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Não pode passar perto: pelo menos não tem King Richard aqui. Macbeth tá só por ser em preto e branco. 

Filme Estrangeiro:

Vai levar: Drive My Car é o único também indicado a melhor filme, então fica meio óbvio.

Meu favorito: Drive My Car. Mas A Pior Pessoa do Mundo e Flee são incríveis. A Mão de Deus não curti, e o outro não assisti.

Animação:

Vai levar: Encanto era vitória quase certa, mas a Disney se envolveu numa polêmica homofóbica das graves logo antes de encerrarem os votos, o que pode prejudicar o longa, o que seria uma pena visto que os animadores são também vítimas das políticas dos executivos da empresa. A Família Mitchell, na contramão, ganhou força por abocanhar o Annie. Ainda fico com Encanto.

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Meu favorito: Encanto é a obra mais emocionante da Disney desde Frozen. Achei Família Mitchell supervalorizado por sua animação, Raya fraco, Luca "somente" fofo e Flee a única que também aplaudiria caso vença, tanto por técnicas quanto por temática. Mas a melhor animação do ano mesmo foi Evangelion 4...

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Não Pode Passar Perto: ninguém lembra de Raya, né, pobrezinha...

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Roteiro Original:

Vai levar: Não Olhe para Cima venceu, inesperadamente, o sindicato, mas não deve ter a mesma sorte no Oscar pelo acréscimo da ala internacional, que parece destinada a salvar os americanos da própria loucura. Isso aconteceria se conseguissem dar o prêmio para Licorice Pizza ou A Pior Pessoa do Mundo. Mas talvez troquem um erro por outro no drama enfadonho e autobiográfico de Branagh em Belfast

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Meu Favorito: A Pior Pessoa do Mundo por filme mesmo. Licorice ficaria feliz por PTA, um gênio que inexplicavelmente nunca levou um Oscar de roteiro - pois é. Porém, sou contra prêmios por carreira.

Não Pode Passar Perto: Belfast e King Richard são aberrações de conservadorismo.

Roteiro Adaptado:

Vai levar: achava certo que Campion levaria por Ataque dos Cães, mas o favoritismo do longa evaporou em múltiplas categorias nas últimas semanas, e viu rivais improváveis erigirem do éter, como o fofo - e só isso - CODA, após vencer o sindicato.

Meu favorito: Ataque dos Cães e Drive My Car, qualquer um merece. Ambos ampliaram e muito seu material original.

Não pode passar perto: Duna adapta só uma parte do livro e sem ritmo algum. CODA é aquele filme fofo que tu fica feliz de ser indicado por ser lembrado, um consolo. Mas aí ele começa a ganhar muita importância e tu pega ranço porque não merece tudo isso não...

Ator Coadjuvante:

Vai levarTroy Kotsur, por CODA, venceu tudo e obliterou o prévio favoritismo de Kodi Smit-McPhee.

Meu favorito: até aqui defendi tudo de Ataque dos Cães, mas veja só, vejo com bons olhos a vitória de Troy. É o primeiro homem deficiente auditivo indicado (logo, seria também o vencedor), e ele enche seu personagem de densidade dramática, humor, ternura e carisma. Ilumina cada cena de CODA. Fora ele, fico feliz com a lembrança de Jesse Plemons, que passou despercebido por toda a temporada, injustamente, numa atuação solene e carregada de pesar e insegurança no olhar de quem é coadjuvante de tudo na própria vida.

Não pode passar perto: adoro JK Simmons, e pelo visto a indústria também, pois só isso explica sua indicação pelo papel caricato, quadrado e sem alma (como tudo naquele filme) em Being the Ricardos.

Poderia estar aí: Mark Rylance, um mix de Steve Jobs e Elon Musk, por Don't Look Up e Jason Isaacs por Mass. 

Atriz Coadjuvante:

Vai levar: Ariana DeBose venceu tudo que disputou até aqui e talvez seja a aposta mais garantida da noite.

Meu favorito: DeBose deve vencer e ela realmente está bem, algo raro num filme repleto de personagens vazios, e além disso, Hollywood adora uma narrativa, algo que ela teria ao dar a segunda estatueta pra mesma personagem, 60 anos depois de Rita Moreno.

Não Pode Passar perto: todas estão bem. 

Deveria estar aí: a melhor atuação de Belfast é a de Caitriona Balfe, e até por isso ela era aposta certa entre as indicadas, estando presente em toda temporada. Aí resolveram ir de Judi Dench, que já tem tudo na carreira...Ok. E também Ann Dowd, por Mass, um dos grandes ignorados da temporada. 

Ator:

Vai levar: Will Smith venceu tudo até agora, infelizmente.

Meu favorito: Benedict Cumberbatch e nada mais. A diferença da exigência de seu personagem para o de Will Smith é avassaladora, presente nos detalhes, no olhar, na expressão corporal, na fala, mas americano adora uma narrativa, e o carinho da indústria de Will pode pesar.

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Não pode passar perto: a vitória de Smith seria uma das mais vergonhosas e injustas da história de um prêmio conhecido por...injustiças. Uma atuação hagiográfica, caricata e forçada, feita para reforçar o idealismo do american dream e da meritocracia, romantizando um homem que abandou uma esposa e cinco filhos antes de criar as Williams. Barden também, não faz sentido. Atuação automática num filme mequetrefe. 

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Poderia estar aí: Dinklage, por Cyrano; DiCaprio, por Don't Look Up; Hidetoshi Nishijima, por Drive My Car. Vai longe a lista. Todos melhores que Barden e Smith. 

Atriz:

Vai levar: categoria de atuação mais incerta. Basicamente 3 aí têm se invertido no favoritismo. Stewart passou toda a temporada na ponta até ser esnobada em vários prêmios importantes antes de ressurgir no Oscar. Kidman estava indo bem, mas Chastain pegou o pódio com o SAG. Parelho. 

Minha favorita: Kristen Stewart ainda carrega o peso do preconceito por sua atuação em Crepúsculo, mesmo com anos de bons filmes e atuações incríveis. O auge disto é alcançado no brilhante Spencer, um dos melhores filmes do ano, e a melhor atuação do ano também, não só entre mulhers.

Não pode passar perto: eu acho Kristen tão acima das demais, que qualquer outra escolha me chatearia, francamente. Mas todas estão bem. 

Diretor:

Vai levar: Jane Campion é a aposta mais certeira pra Power of The Dog.

Meu Favorito: e com justiça. Sem ela, ficaria contente por Hamaguchi. Mas 28 anos após sua primeira indicação (e sendo a primeira mulher a ser indicada 1 e agora 2 vezes), Campion deve fazer história e dar a estatueta de diretor pela primeira vez a uma mulher pelo segundo ano seguido (ficou confuso?). 

Não pode passar perto: adoro Kenneth Branagh...como ator. 

Poderia estar aí: Pablo Larraín pelo genial Spencer. 

Filme:

Vai levar: maior indicado da noite, Ataque dos Cães era o favorito, consequentemente. Mas como reiterei tanto aqui, o filme viu sua campanha evaporar conforme avançou a temporada. CODA venceu melhor casting no sindicato dos atores, melhor roteiro no dos roteiristas e filme no dos Produtores. Ainda assim, sua vitória soa muito surreal, e deve se encaixar na seleta lista dos vencedores do PGA que não fazem a dobradinha no Oscar.

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Meu favorito: Ataque dos Cães e Drive My Car estão muito acima dos demais. Meu ranking estaria meio como: Power of the Dog = Drive My Car >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Licorice Pizza >>> Don't Look Up >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> CODA >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Beco do Pesadelo >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> DUNA >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Belfast. King Richard não caberia nesse post a distância pros outros. 

Não pode passar perto: a ordem está aí. Quanto mais baixa, maior seria minha indignação.

Poderia estar aí: Drive My Car e Power of The Dog realmente foram os melhores filmes de 2021, um raro acerto da Academia. Falei sobre meus favoritos do ano aqui. A ausência mais criminosa, num contexto geral, é a de Spencer. A Pior Pessoa do Mundo também. 


E é isso, meus queridos. Não apostem dinheiro baseado nos meus comentários não, não garanto nada, hehehe. O Oscar acontece neste Domingo, dia 27/03, e nem sei a hora nem vou pesquisar. Mas espero que tenhamos surpresas boas. Bons filmes e pau no cu de King Richard e Being the Ricardos!

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